WhatsApp desativa contas do PT e partido acusa retaliaĂ§Ă£o
A motivaĂ§Ă£o da rede social foi por conta do envio automatizado de mensagens, em um processo que envolveu denĂºncias de spam polĂtico

Publicado em: 09/07/2020 Ă s 18:59 | Atualizado em: 09/07/2020 Ă s 20:13
O PT teve nove de suas contas no WhatsApp desativadas nas duas Ăºltimas semanas.
A motivaĂ§Ă£o foi por conta do envio automatizado de mensagens, em um processo que envolveu denĂºncias de spam polĂtico.
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As duas ações sĂ£o proibidas pelos termos de uso da plataforma.
O partido confirmou ao UOL que estes eram todos os canais que tinham no WhatsApp e eles foram tirados do ar a partir de 25 de junho.
Desde entĂ£o, quatro foram restabelecidos.
Gleisi vĂª direcionamento
Ao ser procurada pela reportagem para comentar a suspensĂ£o, a presidente do partido, Gleisi Hoffman, disse que a puniĂ§Ă£o acontece dentro de um contexto maior:
a batalha em torno do polĂªmico “PL das Fake News” — apoiado pela legenda, mas duramente criticado pela empresa em alguns de seus pontos.
“NĂ£o dĂ¡ para a gente afirmar que seja uma represĂ¡lia, mas com certeza o Facebook tem lado, um posicionamento polĂtico e um posicionamento em relaĂ§Ă£o ao PL. NĂ£o devem estar contentes com ele”, afirmou ela.
O projeto, no entanto, foi votado dia 30 de junho, cinco dias depois do bloqueio das contas.
PL das Fake News
Aprovado no Senado na semana passada, com o voto favorĂ¡vel dos seis senadores petistas, o texto obriga que redes sociais peçam documento e telefone para quem quer ter uma conta e que aplicativos de bate-papo registrem o caminho que uma mensagem percorreu ao ser encaminhada.
Para o WhatsApp, este Ăºltimo ponto Ă© o mesmo que “colocar uma tornozeleira eletrĂ´nica nos usuĂ¡rios”.
Partido Ă© desafeto do Face
O partido acusa o Facebook de nĂ£o ser transparente.
Para Hoffman, “o bloqueio desses canais ocorreu justamente dias depois que iniciamos o abaixo-assinado pelo impeachment [do presidente Jair Bolsonaro], com muitos apoiadores e entidades.”
“De nossa parte, temos muita desconfiança do que estĂ¡ acontecendo”, falou, ressaltando que o partido estĂ¡ migrando sua comunicaĂ§Ă£o para o Telegram e desenvolvendo sua prĂ³pria plataforma para nĂ£o depender de outras companhias.
Redes sociais acenam isenĂ§Ă£o
Vale ressaltar que Facebook e Instagram jĂ¡ apagaram posts de Bolsonaro por julgar que o conteĂºdo ia contra sua polĂtica.
Em carta encaminhada nesta segunda-feira (06) ao Facebook, a presidente do PT ameaça com processo judicial caso a empresa nĂ£o responda aos questionamentos sobre o motivo das contas terem sido apagadas.
“É importante sabermos do que estĂ£o nos acusando. AtĂ© agora, Facebook e WhatsApp nĂ£o mandaram. Se hĂ¡ hipocrisia aqui Ă© da parte deles, que acobertaram milhões de fake news na campanha de 2018, nĂ£o denunciaram, fizeram vistas grossas a um monte de coisas e agora vem querer dar uma de lisura total. Acho que eles Ă© que tĂªm de explicar a lisura deles. Acho que sĂ£o pouco confiĂ¡veis”, disse ela.
Spam Ă© proibido pela rede
O envio de spam nĂ£o Ă© proibido pela lei brasileira, mas pelas regras do WhatsApp, que desativa quem “enviar mensagens em massa ou automatizadas que violam nossos termos de serviço” — 2 milhões de contas sĂ£o banidas por mĂªs em todo mundo.
A atividade de parte dos canais do PT foi classificada como suspeita pelos sistemas de aprendizado de mĂ¡quina usados para detectar essas prĂ¡ticas pelo WhatsApp.
“Se vocĂª estĂ¡ enviando mais de 100 mensagens por segundo, obviamente nĂ£o Ă© um ser humano que estĂ¡ por trĂ¡s. Isso Ă© automaticamente banido pelos sistemas”, explicou uma fonte prĂ³xima ao caso, que nĂ£o quis se identificar.
App nĂ£o identifica a conta
Quando faz essas remoções automĂ¡ticas, o aplicativo nĂ£o registra de quem Ă© a conta.
Mas, como alguns usuĂ¡rios denunciaram que receberam conteĂºdo repetidas vezes, o comportamento foi classificado como spam.
Neste caso, as pessoas precisam encaminhar capturas de tela e, por isso, o WhatsApp passou a acompanhar as contas que dispararam as mensagens.
Detectou, entĂ£o, que elas faziam uso de algum sistema semiautomatizado.
Por entender que elas estavam espalhando spam polĂtico, decidiu removĂª-las.
Para pessoas de dentro do WhatsApp, tratava-se de um movimento coordenado.
Cerca de 30 contas, tambĂ©m removidas, foram detectadas direcionando usuĂ¡rios para os perfis do PT.
Comportamento estranho
Na mesma semana, outro comportamento estranho de centenas de contas administradas por uma sĂ³ empresa foi notado.
O PT disse que contratou mesmo uma companhia especializada em disparo em massa de mensagens pelo WhatsApp, a LEADWhats, de Curitiba, e isso jĂ¡ ocorre hĂ¡ pelo menos quatro meses.
Segundo Hoffman, os envios nĂ£o sĂ£o feitos indiscriminadamente, mas com o objetivo de distribuir conteĂºdos para a base de filiados — sĂ£o eles, segundo o partido, que formam as vĂ¡rias listas de transmissĂ£o gerenciadas pela LEADWhats.
Disparos autorizados, diz presidente
A presidente do PT defende que os participantes das listas nĂ£o sĂ³ aceitam receber as mensagens como cadastram o nĂºmero do WhatsApp da legenda em seus celulares.
“Eles tĂªm de provar que Ă© fake news. Isso Ă© comunicaĂ§Ă£o oficial do PT, e nĂ³s temos responsabilidade com o partido. Fake news, que eu saiba, nĂ£o Ă© feita oficialmente, as pessoas fazem no submundo da internet. Se o PT estĂ¡ fazendo fake news, a pessoa tem que nos processar e requerer direitos sobre danos de imagem”, afirmou.
Ainda segundo Hoffman, quando o PT pediu informações a respeito das denĂºncias, a rede social disse nĂ£o poder compartilhĂ¡-las para nĂ£o infringir a privacidade dos usuĂ¡rios.
JĂ¡ o WhatsApp disse que avalia processar a LEADWhats:
“Continuaremos a banir contas usadas para enviar mensagens em massa ou automatizadas e avaliaremos mais profundamente as nossas opções legais contra empresas que oferecem esses serviços, como fizemos no passado no Brasil.”
Spam nas eleições
O uso das “mĂ¡quinas de spam”, nascidas para espalhar conteĂºdo publicitĂ¡rio, foi associado a campanhas polĂticas durante as eleições de 2018.
Reportagens de UOL e Folha mostraram que as campanhas de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad recorreram a essas empresas para espalhar propaganda eleitoral.
A do presidente eleito ainda espalhou desinformaĂ§Ă£o sobre adversĂ¡rios — coisa que o “PL das fake news”, por sinal, pretende proibir.
O WhatsApp passou a processar empresas que fazem disparo em massa como forma de tentar barrar esse tipo de uso da plataforma.
Na semana passada, o UOL revelou que uma delas tem adotado manobras para driblar decisĂ£o judicial que a proibiu de atuar.
Também noticiou que a Justiça condenou a SallApp com multa e fim de disparo de spam.
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Foto: AGPT