A Polícia Federal (PF) concluiu que as acusações feitas pelo ex-ministro Antonio Palocci, da Fazenda, sobre um caixa milionário de propinas para Lula administrado pelo banqueiro André Esteves, do BTG, não têm provas e foram todas desmentidas pela investigação – inclusive em depoimentos de testemunhas e de delatores que incriminaram o PT em outros processos.
Na semana passada, o delegado Marcelo Daher encerrou o inquérito sem indiciar os acusados e afirmando que as informações dadas por Palocci em sua delação “parecem todas terem sido encontradas em pesquisas de internet”, sem “acréscimo de elementos de corroboração, a não ser notícias de jornais”.
De acordo com Daher, “as notícias jornalísticas, embora suficientes para iniciar o inquérito policial, parece que não foram corroboradas pelas provas produzidas, no sentido de dar continuidade à persecução penal”.
Ele encaminhou o resultado ao Ministério Público Federal.
Delação premiada
O inquérito foi aberto para investigar declarações de um dos anexos da delação premiada de Palocci homologada pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribuna Federal).
Palocci havia dito que, a partir de fevereiro de 2011, André Esteves “teria passado a ser o responsável por movimentar e ocultar os valores recebidos” por Lula, “a título de corrupção e caixa dois, em contas bancárias abertas e mantidas no BTG Pactual S/A, em nome de terceiros”.
No relatório de conclusão do inquérito, a Polícia Federal relata que foram feitas operações de busca e apreensão e que o sigilo do Fundo Bintang foi quebrado.
Leia mais
Análises técnicas foram feitas pelo Laboratório de Tecnologia Contra Lavagem de Dinheiro da PF de São Paulo.
Os dados, segundo a PF, mostraram que o fundo, apesar de ter lucrado no mês apontado por Palocci, não teve ganhos em outras operações feitas com base em decisões do Copom.
“Restou afastada eventual utilização de informação privilegiada quanto a outras datas de reuniões do Copom”, diz o relatório do delegado Daher.
“Ficou na memória”
Intimado novamente para explicar o motivo de ter indicado especificamente o fundo Bintang como instrumento de operações com uso de informações privilegiadas, Palocci admitiu que “acompanhou as notícias do mercado na época” e que o “o nome Bintang foi o que ficou na memória”.
Os jornais, na época, haviam feito reportagens sobre os ganhos astronômicos do Bintang em setembro de 2011.
Pagador das propinas refuta Palocci
Já Marcelo Odebrecht afirmou que “houve uma certa confusão” de Palocci sobre o destino de propinas pagas pela empreiteira ao PT.
Segundo ele, André Esteves nunca administrou esses recursos.
Apesar de os dois terem boa relação, o banqueiro nunca teria comentado nada com ele sobre contas que administraria para o PT.
Em depoimento, André Esteves negou as acusações.
Disse que nunca administrou recursos para Lula e afirmou que conheceu Bumlai apenas em 2012 —três anos depois, portanto, da reunião na piscina apontada por Palocci em que o esquema teria sido arquitetado.
Além disso, o BTG não teria nenhuma ingerência sobre o Fundo Bintang, gerido por um único cotista, Marcelo Augusto Lustoza de Souza, que administrava seus próprios recursos.
Lustoza também afirmou que não conhecia Esteves.
O banqueiro afirmou ainda que seria estranho recorrer a Palocci para marcar um encontro com Marcelo Odebrecht, já que ele era muito mais próximo do empreiteiro do que do ex-ministro.
Leia mais Folha de S.Paulo
Foto: BNC Amazonas