Novas vidas trazem alegria e reduzem dor de lares vitimados pela covid no AM

Maria Liz, nascida em parto prematuro no leito de UTI, perdeu a mãe para o coronavírus. Hoje, dois meses depois, o pai Claudinei Silva segue em frente com a nova vida

Gabriel Ferreira, Da Redação

Publicado em: 22/08/2020 às 09:54 | Atualizado em: 22/08/2020 às 09:56

Ao mesmo tempo em que o luto pela tragédia do coronavírus (covid-19) entristeceu muitos lares amazonenses, a esperança se renovou e veio à tona trazendo vida. Um alento para amenizar a dor da perda inesperada, que gerou um cenário nefasto e inesquecível.

A vida, portanto, venceu a morte de novo. É o que apontam os registros de nascimentos no Amazonas durante esse momento inesperado e que ainda persiste a ceifar vidas.

De acordo com números oficiais, o Amazonas tem 3.556 óbitos pelo coronavirus até este sábado (21), desde a primeira ocorrência, em março. Enquanto isso, no mesmo período, a vida se renovou com 19.778 amazonenses.

Destaque para o mês de julho, com 4.486 nascimentos. Ao mesmo tempo, abril, o pico do coronavírus no Amazonas, sobretudo em Manaus, teve o menos registro, de 1.823 nascidos.

Há, contudo, que se considerar que muitos registros foram feitos após o auge da doença, o que talvez explique essa diferença entre julho e abril.

O BNC Amazonas usou informações do Portal da Transparência do Registro Civil. Basicamente, os cartórios usam dados a partir do registro feito pela família. Assim sendo, a conta não é feita a partir dos nascidos vivos.

 

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Mais que números

Muito além da frieza dos números assustadores do coronavírus está a alegria pela vida.

Que o diga o jogador de futebol, Claudinei Silva, ao abraçar com carinho a pequena Maria Liz. Ela é o testemunho de uma tragédia na família provocada pelo coronavírus. E também trouxe uma mudança no rumo da vida do atleta.

Ele conta que a rotina mudou depois que Maria Liz nasceu, em 20 de junho. Nesse dia, inesquecível para a família, sua mulher Arícia Campelo, aos 28 anos, morria da covid, no sétimo mês de gestação. Intubada em UTI de hospital em Manaus, Arícia conseguiu dar à luz em parto cesariano emergencial antes de dar o último suspiro.

Hoje, passados dois meses da tragédia, Claudinei se apoia em Maria Liz para seguir a vida. Ela é sua maior inspiração e o alento pela falta que Arícia faz.

“Minha rotina é só cuidar dela, de ter os cuidados básicos. E depois que veio o falecimento da minha esposa, eu tive que me virar, por conta que ela não tem leite materno , ela toma o leite de fórmula pra ajudar no desenvolvimento”.

Apesar do parto prematuro, Claudinei afirmou que a pequena Maria Liz é saudável. Para cuidar bem da criança, ele tem a ajuda da sogra para enfrentar o desafio inesperado.

Dentro de casa

A morte da esposa deixou marcas em Claudinei. Apesar do fim da pandemia em Manaus, ele vive praticamente o tempo todo em casa, com Maria Liz. Revelou que tem muito receio de se contagiar nas ruas e levar o vírus para dentro de casa.

“Eu permaneço mais dentro de casa, saio às vezes para fazer algo de necessário. Mas, meu maior tempo é dentro de casa”.

Em atividades improvisadas para manter a forma física, Claudinei tenta se preparar para a disputa da série B do Campeonato Amazonense. Ele tem contrato com o Clipper. O futebol é, para ele, uma forma também de fugir do trauma da perda de Arícia. 

“A mensagem que eu deixo é que tem que se cuidar por conta dessa pandemia, desse vírus. Tem que aproveitar o máxima do carinho, da presença dos familiares, porque depois que se vai, a gente vai refletir das coisas que aconteceram. Então. não espera acontecer pra fazer, e tem que aproveitar a cada momento”.

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Coronavírus no Amazonas

De acordo com o boletim divulgado pelo governo nesta sexta, o Amazonas está em desaceleração da transmissão do vírus. Dessa forma, são 114.792 casos diagnosticados, com 97.385 recuperados. Segundo esses dados, o estado tem 84% de pessoas curadas.

 

Foto: Divulgação/cedida gentilmente por Claudinei Silva exclusivamente ao BNC Amazonas