Cidades que registraram as primeiras reduções no ritmo das infecções da covid-19 já percebem em inquéritos sorológicos que os moradores apresentam cada vez menos anticorpos para o novo coronavírus na população.
O índice medido nessas pesquisas é o IgG, anticorpo produzido na fase tardia da infecção e geralmente detectáveis a partir do 15º dia de sintomas.
Ele é o que defende o organismo de uma reinfecção, acreditam os pesquisadores.
No caso da região Norte é perceptível que algumas cidades que saíram do pico mais cedo apresentam queda nos percentuais de IgG.
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A região foi a primeira que começou a ter queda no número de novos casos e mortes no Brasil.
Em Manaus, por exemplo, a população estimada com esse tipo de anticorpo caiu de 14,6%, na fase 2 (entre 4 e 7 de junho), para 8% na fase 3 (entre 21 e 24 de junho).
A queda em todos esses locais pode ser associada ao tempo de infecção médio da maioria da população e do grau de redução da epidemia.
A temporalidade da imunidade era algo esperado, e os casos de reinfecções confirmados pelo mundo mostram que ainda temos muito a entender sobre imunidade — que não se resume a anticorpos— no caso de covid-19.
Nordeste
Em Teresina — capital que realiza o inquérito sorológico mais antigo (que já está na 18ª etapa) e completo do país—, a pesquisa entre os dias 24 e 26 de julho estimou em 107.587 o número de moradores que tinham infecção remota, ou seja, com anticorpo IgG positivo e IgM (reagente indica que a infecção está na fase ativa) negativo.
A partir dali, cada pesquisa posterior foi apresentando queda no percentual de pessoas com os anticorpos até que, na última etapa, entre 21 e 23 de agosto, esse número caiu para 34.594, menor patamar desde o início de junho.
Apesar de ter realizado apenas duas fases do inquérito, movimento semelhante ocorreu em outra capital que foi uma das primeiras a sair do pico da epidemia: Fortaleza.
Na primeira fase da testagem, que investigou 3.300 pessoas entre 2 e 15 de junho, 14,2% dos fortalezenses já tinham anticorpos contra a covid-19.
Entre 13 e 20 de julho, esse percentual caiu para 13,1%.
Outro levantamento que mostra queda de IgG é a Epicovid, coordenada pela UFPel (Universidade Federal de Pelotas) — a pesquisa é hoje o maior inquérito nacional que faz análises em 83 cidades ao mesmo tempo.
IgG é apenas parte da imunidade
Apesar de ainda estarmos longe de entender como será a imunidade humana para o novo coronavírus, a experiência e os estudos apontam que esse anticorpo IgG desaparece entre três e quatro meses.
Apesar de pouco tempo, pesquisadores afirmam que não há motivo para desespero e que ainda faltam muitas respostas —que só virão com o tempo.
Para Alessandro Farias, professor de imunologia e coordenador da área de diagnóstico da força-tarefa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o IgG deve ser visto apenas como uma parte da defesa do corpo, e que seu “sumiço” não quer dizer que a pessoa está suscetível a uma nova infecção.
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Foto: Itamar Crispim/Fiocruz