Desastre da política ambiental de Bolsonaro é denunciado ao papa
Ataques a comunidades tradicionais, o desmonte das instituições e a militarização dos órgãos ambientais estão no dossiê enviado ao sumo pontífice

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 09/09/2020 às 20:46 | Atualizado em: 10/09/2020 às 05:41
A Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema) divulgou, recentemente, um documento de 35 páginas, com fatos que comprovariam a trajetória do desmonte na área ambiental promovida pelo governo Bolsonaro.
Agora, a Ascema resolveu dar um caráter internacional à publicação.
Nesta quarta-feira (9), foi encaminhado ao papa Francisco o dossiê “A cronologia de um desastre anunciado: as ações do governo Bolsonaro para desmontar as políticas de meio ambiente no Brasil”.
Além do dossiê, o sumo pontífice recebeu uma carta denunciando o ataque à Amazônia e aos seus povos originários.
“A intenção é informar ao papa os ataques que o meio ambiente brasileiro vem sofrendo, os danos irreversíveis e os riscos do desmonte em curso para as populações indígenas, ribeirinhas e todas as formas de vida que povoam nossos biomas”, afirmou o presidente da Ascema, Dênis Rivas (foto).
O motivo para a escolha do destinatário internacional foi porque em outubro de 2019, o Vaticano realizou um sínodo (assembleia de bispos do mundo inteiro) voltado especialmente para a Amazônia.
Leia mais
70% no país culpam governo Bolsonaro pelo desmatamento na Amazônia
Povos tradicionais estão ameaçados
Na carta, a entidade que reúne os servidores especialistas na área ambiental brasileira afirma que ribeirinhos, extrativistas, povos tradicionais e a grande maioria dos povos indígenas se encontram ameaçados.
E essa ameaça é causada por uma política de incentivo ao desmatamento, ao garimpo e de uma suposta “integração” que não integra, que não acolhe, que desrespeita saberes e fazeres tradicionais; destrói crenças e valores ancestrais e também que mata por meio de doenças, como a covid-19.
Leia mais
Descidas e subidas nos índices de desmatamento
O documento informa ainda que, entre 2004 a 2012, o Brasil conseguiu expressivo índice de 83,5% na redução do desmatamento (de 27,8 mil para 4,6 mil km2 por ano).
Esses índices, apesar de apresentarem algum crescimento, mantiveram-se em níveis relativamente baixos até meados de 2018, mantendo-se abaixo dos 8 mil km2 anuais.
“No entanto, com a ascensão de Jair Bolsonaro e após a sua posse como presidente, o desmatamento cresceu de forma assustadora, atingindo cerca de 10,1 mil km2 por ano, ameaçando a vida e a própria existência dessas populações tão fragilizadas, com a perda de seus espaços de vida”, afirma Denis Rivas.
O presidente da Ascema Nacional diz ainda que Brasil está na contramão da prática de outros países que protegem suas florestas, águas, biodiversidade e seu povo.
De acordo com a entidade, vivem nas terras indígenas da Amazônia 170 povos que falam idiomas diferentes, totalizando 450 mil pessoas. Estima-se que 46 grupos indígenas vivem isolados.
As principais denúncias feitas ao papa Francisco foram:
● os ataques aos povos e comunidades tradicionais que temos testemunhado diuturnamente;
● o desmonte sistemático das instituições socioambientais visando seu
enfraquecimento e inoperância;
● o desincentivo e as tentativas de inviabilizar o trabalho dos servidores no combate aos crimes ambientais;
● a usurpação de competências da área ambiental por outros setores de
governo;
● a crescente militarização dos órgãos e entidades ambientais.

Queimada no Pantanal no mês de agosto de 2020
Leia mais
Observatório do Clima acusa Bolsonaro de incentivar crime na Amazônia
Apoio na luta em defesa da causa socioambiental
Ao final do documento e das exposições de motivos, a Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente pede o apoio do papa na luta para defender um mundo de justiça socioambiental.
À Ascema pertencem servidores públicos que atuam em todos os biomas brasileiros: Amazônia, Pantanal, Cerrado, Caatinga, Pampa e Mata Atlântica, bem como protegem nossas águas, zona costeira e mares.
Pertencem a diferentes instituições ligadas ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Ministério da Agricultura (Mapa): Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Serviço Florestal Brasileiro (SFB).
Leia a seguir, a íntegra da carta ao papa Francisco e o dossiê governo Bolsonaro.
Foto: Reprodução/Mídia Ninja/Facebook