Pesquisadores mineiros alertam e defendem: não asfaltem a BR-319

Pesquisadores assinam nota na qual dizem: "Essa rodovia não traz vantagens, pois a soja já é exportada a um custo menor pelo rio Madeira”. 

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Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília 

Publicado em: 02/12/2020 às 19:55 | Atualizado em: 03/12/2020 às 10:06

Pesquisadores do Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais (Lagesa) da Universidade Federal de Minas Gerais concluíram, por meio de estudos, que a BR-319 não deve ser asfaltada. 

Em nota técnica, assinada por eles, afirmam que a pavimentação trará prejuízos ambientais e financeiros ao país.

A nota é assinada por Raoni Rajão (na foto com Juliana), Britaldo Soares Filho e Juliana Leroy Davis.

A BR-319 se chama, oficialmente rodovia Álvaro Maia, mais conhecida como rodovia Manaus–Porto Velho.

Seus 885 quilômetros de extensão ligam Manaus (AM) a Porto Velho (RO).

Mais da metade dela está comprometida, quase intrafegável.

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O governo federal, entretanto, já bateu o martelo: vai recuperá-la.

O professor do Departamento de Engenharia de Produção da UFMG, Raoni Rajão, diz que a expectativa de asfaltamento da BR-319 pode ter influenciado no alto índice de desmatamento registrado no Amazonas. 

Na última segunda-feira, dia 30, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgou dados preliminares. Eles apontam o desmatamento de 11.088 km² de floresta na Amazônia, o maior índice desde 2008.  

O Pará foi o estado com maior taxa de desmatamento (46,8%), seguido do Mato Grosso (15,9%) e o Amazonas (13,7%). 

Estudioso da BR-319, o coordenador do Lagesa associou o aumento do desmatamento no estado à especulação fundiária em torno da rodovia. 

“Existem fortes evidências que indicam que esse salto do desmatamento está ligado à especulação fundiária no entorno da BR-319, cuja pavimentação tornou-se prioridade no atual governo. Essa rodovia não traz vantagens, pois a soja já é exportada a um custo menor pelo rio Madeira”, criticou. 

Ele diz que 11 mil km² não é pouca coisa. “Mas um dos resultados mais preocupantes é a escalada de desmatamento próximo do coração da Amazônia. O Estado do Amazonas perdeu 1.521 km², a maior taxa desde 2003 e a terceira maior desde 1988”. 

Pesquisadores projetam que até 2050 o desmatamento no entorno da estrada seria de 170 mil km²
Foto: divulgação/Denit

 

Prejuízos 

Em nota técnica, assinada por eles, fica claro que são contrários à recuperação da rodovia.

“Segundo as projeções, somente um terço do investimento na obra retornaria na forma de benefícios – e isso sem contabilizar as perdas econômicas geradas, em longo prazo, pelo aumento do desmatamento”, dizem os pesquisadores na nota. 

Por considerar o rio Madeira como principal via de transporte para escoamento de produção agropecuária, os pesquisadores da UFMG defendem o não asfaltamento da estrada. 

Na opinião deles, a pavimentação traria “grandes consequências negativas ao meio ambiente e à economia brasileira. 

“40 unidades de conservação, 6 milhões de hectares de terras públicas e 50 terras indígenas estariam ameaçadas pelo empreendimento, que abrirá as veias dessa maciça porção de floresta a grileiros”, alertam os pesquisadores. 

 

Estudo  

Por meio de simulações, os pesquisadores chegaram à seguinte conclusão: até 2050, o desmatamento no entorno da estrada seria de 170 mil km². 

As simulações envolveram estudos de variáveis do meio físico, da infraestrutura, da dinâmica demográfica, do ordenamento territorial e da governança. 

  

Foto: UFMG/divulgação