Empresas de jatinhos de Manaus não têm vaga nem para endinheirados

Na nova crise do coronavírus no Amazonas, não basta ter R$ 162 mil para fugir do colapso hospitalar de Manaus

Mariane Veiga

Publicado em: 16/01/2021 às 10:37 | Atualizado em: 16/01/2021 às 10:43

Quando o sistema de saúde no Amazonas entrou em colapso pela primeira vez, em abril, por conta do coronavírus (covid-19), faltaram leitos nos hospitais, vagas nas UTIs e covas nos cemitérios.

Segundo investigação do Intercept Brasil, nesta semana, cinco empresas do Amazonas que transportam pacientes para outros estados foram acionadas e informaram que não tinham aeronaves disponíveis.

“Está muito complicado”, disse um funcionário de uma das empresas de táxi aéreo. “Não vou conseguir atender. Amanhã estoura a jornada de trabalho dos pilotos e estou sem outra tripulação para substituir”, respondeu outro.

Uma das empresas informou só ter vagas para terça-feira. O preço do transporte de Manaus para São Paulo, principal destinos dos doentes, varia de R$ 105 mil a R$ 162 mil. Mas não há voos nem se você pagar mais. A fila do SUS da elite manauara é a fila do jatinho.

Leia mais

Situação bem diferente da vivida pouco tempo atrás, quando o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB) embarcou em um voo privado para São Paulo assim que viu a covid-19 agravar.

O tucano se internou por 31 dias no Sírio Libanês, um dos hospitais mais caros do país. Agora, enquanto pacientes morrem asfixiados na capital do Amazonas por falta de oxigênio, nem a riqueza poderia salvá-lo, faltam vagas até nas UTIs aéreas.

No fim da tarde de quinta, as pessoas começaram a compartilhar um vídeo do ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Era parte do seu discurso em um evento na cidade, no dia 11.

Apesar de ter nascido no Rio, Pazuello viveu a infância na capital nortista e ainda tem filha, irmã e sobrinhos morando lá. “Quando cheguei na minha casa ontem, estava a minha cunhada. O irmão [dela] não tinha oxigênio nem para passar o dia. [Eu disse] Ah, acho que chega amanhã. [Ela perguntou] O que você vai fazer? [Eu disse] Nada. Você e todo mundo vai esperar”.

A família do ministro é rica. Tem postos de combustível e é dona de uma das mais antigas empresas de navegação do estado, fundada em 1948 pelo patriarca, Nissim Pazuello.

Se está difícil até para os ricos e parentes do ministro da Saúde, imagine para os pobres.

Fornecedora oxigênio

A empresa White Martins, principal fornecedora de oxigênio para os hospitais do Amazonas, informou que a demanda está muito acima da sua capacidade.

Até então, o máximo que ela havia produzido localmente era 30 mil metros cúbicos por dia. Agora, a empresa tem que produzir 70 mil metros cúbicos por dia para salvar os doentes na cidade.

Para piorar, a BandNews FM descobriu que dias antes do colapso do oxigênio nos hospitais, o governo federal havia aumentado o imposto de importação sobre os cilindros usados no armazenamento de gases medicinais.

A situação em Manaus era previsível. Pesquisadores do Amazonas alertavam desde agosto para tudo que está acontecendo agora e recomendavam que o governo decretasse lockdown o quanto antes.

Dessa maneira, parte dos dados que endossaram a ideia de que a cidade tinha chegado à propalada “imunidade de rebanho” estavam errados. Mas especialistas não foram ouvidos.

Leia a matéria completa no Intercept Brasil.

Foto: Reprodução/Portal Único