Mandetta diz que variante do Amazonas pode causar megaepidemia

A mutaĂ§Ă£o brasileira, batizada E484, foi identificada no Rio de Janeiro e em variantes em Manaus, como a B.1.1.28, detectada em japoneses que estiveram no Amazonas

Publicado em: 28/01/2021 Ă s 19:07 | Atualizado em: 28/01/2021 Ă s 19:12

O ex-ministro da SaĂºde Luiz Henrique Mandetta alertou para o risco da variante brasileira do novo coronavĂ­rus, identificada em Manaus e no Rio de Janeiro, provocar um agravamento do quadro epidemiolĂ³gico no Brasil que, na sua avaliaĂ§Ă£o, estĂ¡ “em progressĂ£o”.

Mandetta tambĂ©m comentou o inquĂ©rito contra o atual ministro da pasta, Eduardo Pazuello, no Supremo Tribunal Federal (STF) e avaliou que o presidente Jair Bolsonaro poderĂ¡ sofrer impeachment pela conduĂ§Ă£o da pandemia da covid.

As declarações foram feitas em entrevista ao programa Manhattan Connection, da TV Cultura.

O ex-ministro, que deixou o governo em abril de 2020 apĂ³s divergĂªncias pĂºblicas com o Bolsonaro acerca das medidas de prevenĂ§Ă£o contra a covid-19, disse que a transferĂªncia de pacientes manauaras em razĂ£o do colapso hospitalar no Amazonas sem os devidos cuidados poderĂ¡ fazer com que a variante se espalhe.

“O mundo inteiro estĂ¡ fechando os voos para o Brasil, e o paĂ­s nĂ£o sĂ³ estĂ¡ aberto normalmente, como estĂ¡ retirando pacientes de Manaus e mandando para GoiĂ¡s, Bahia, outros lugares, sem fazer os bloqueios de biossegurança. Provavelmente vamos plantar essa cepa em todos os territĂ³rios da federaĂ§Ă£o, e daqui a 60 dias podemos ter uma megaepidemia”, afirmou Mandetta.

A mutaĂ§Ă£o brasileira, batizada E484, foi identificada no Rio de Janeiro e em variantes em Manaus, como a B.1.1.28, detectada em japoneses que estiveram no Amazonas.

Ela altera o RDB, o ponto da proteína S em que o Sars-CoV-2 se liga às células humanas.

As mudanças genéticas podem causar o chamado mecanismo de escape, ou seja, quando os anticorpos desenvolvidos contra o Sars-CoV-2, que atacam o RDB, perdem sua especificidade.

Esse processo pode influenciar a eficĂ¡cia de vacinas.

A variante jĂ¡ foi detectada em diferentes paĂ­ses, como Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, e em vĂ¡rios estados brasileiros.

No Brasil, no entanto, o sequenciamento genĂ©tico necessĂ¡rio para monitorar mutações do Sars-CoV-2 Ă© um desafio, como mostrou reportagem do GLOBO neste mĂªs.

Responsabilidade de Pazuello e Bolsonaro

Na entrevista, Mandetta tambĂ©m comparou sua gestĂ£o no inĂ­cio da epidemia brasileira com a do atual dirigente da SaĂºde, Eduardo Pazuello.

O ex-ministro afirmou que o presidente Bolsonaro “minou completamente” os esforços de conscientizar a populaĂ§Ă£o acerca da necessidade de prevenir o contĂ¡gio, na ausĂªncia de um tratamento comprovadamente eficaz contra a Covid-19, em boa parte alinhado com o entĂ£o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Ao mencionar erros da gestĂ£o Pazuello, Mandetta avalia que o general da ativa e atual ministro dificilmente escaparĂ¡ de punições no JudiciĂ¡rio.

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“Vimos uma intervenĂ§Ă£o militar burra (no ministĂ©rio) que culminou nessa burrice, no inquĂ©rito no STF, TCU, por conta de todos esses erros. Tomaram medidas nĂ£o tĂ©cnicas e pagarĂ£o um preço por isso”, disse o ex-ministro.

Indagado sobre possĂ­veis implicações para Bolsonaro, Mandetta declarou que o presidente dificilmente superarĂ¡ o passivo da pandemia:

“Acho que ele terĂ¡ que ser julgado pelos Ă³rgĂ£os competentes. Impeachment Ă© no Congresso, (nĂ£o se sabe) se eles terĂ£o maioria para isso, Ă© um processo polĂ­tico. E chegarĂ¡ a hora em que ele terĂ¡ que se entender com as consequĂªncias dos atos dele. Se nĂ£o (for) pelo JudiciĂ¡rio, a HistĂ³ria reserva para ele um lugar infelizmente nada confortĂ¡vel na luta mundial pela vida. Ele ficou do lado do vĂ­rus. Ele fez parte da doença”.

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Foto: José Dias/PR