Polícia impede barco clandestino de Manaus de atracar em Carauari

Ordem foi do prefeito local, com base no decreto do Governo do Estado que proíbe viagens intermunicipais como medida contra o coronavírus

Polícia impede barco

Ednilson Maciel, da Redação do BNC AMAZONAS

Publicado em: 26/02/2021 às 16:27 | Atualizado em: 26/02/2021 às 16:27

A Polícia Militar impediu que passageiros, de um barco que saiu de Manaus com destino a Carauari, no rio Juruá, a 800 quilômetros da capital, aportassem.

A ordem foi do prefeito local, com base no decreto do Governo do Estado que proíbe viagens intermunicipais como medida contra o coronavírus (covid-19).

O episódio aconteceu na quarta (24). Conforme nota emitida pelos viajantes, como pedido de socorro e resgate, o barco foi abordado no rio a poucas horas de chegar ao porto de Carauari por um grupo de policiais militares e civis, além de guardas municipais.

Por ordem do prefeito da cidade, o barco foi obrigado a dar meia-volta e foi escoltado pela polícia durante um dia de viagem de regresso. É o que alegam nessa nota (leia abaixo), em que afirmam também terem viajado por sete dias desde Manaus.

Como resultado, o barco e seus passageiros foram parar na vizinha cidade de Juruá, onde teriam sido acolhidos. Segundo afirmam, o prefeito submeteu todos a testes de covid, e ninguém apresentou resultado positivo.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM), por seu assessor de imprensa, confirma a ação, realizada a pedido do prefeito de Carauari.

De acordo com ele, aos viajantes ilegais cabe as consequências porque as forças de segurança agiram no cumprimento da lei, como lhes compete.

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Leia a nota dos passageiros.

Pedido de socorro e resgate no rio Juruá / Carauari

Nós, abaixo assinados, moradores do município de Carauari-AM, pedimos SOCORRO e RESGATE, pois estamos à deriva, impedidos de entrar em nossas casas na cidade de Carauari pela Polícia Militar do Amazonas, a mando do prefeito e juiz de Carauari (que são a mesma pessoa), em uma medida que atenta contra a VIDA de todos nós.

Estávamos em Manaus, a maioria em tratamento de saúde, e quando a pandemia se agravou na capital, com números alarmantes de mortes, inclusive por falta de oxigênio, decidimos voltar para nossa cidade. Como não temos dinheiro pra ir de avião, que custa até R$ 1.500,00, viemos de barco, com ocupação de aproximadamente um terço da sua capacidade, com o devido controle de transmissão do COVID-19.

Depois de viajar 7 dias de Manaus para Carauari, faltando apenas algumas horas para chegar em nossa cidade, para a surpresa de todos, nossa embarcação foi abordada, no meio do rio, por uma grande tropa de guardas municipais e policiais civis e militares, fortemente armados. Momento que causou grande pânico entre todos. Alguns chegaram até a desmaiar diante de tanta angústia e medo. Essa tropa impediu a continuidade da viagem na direção de Carauari e nos escoltou por um dia (quarta-feira, 24/02), sem liberdade de defesa, fazendo o barco viajar na direção contrária ao nosso destino.

Desde então, estamos à deriva, aprisionados em uma embarcação, com nosso direito de ir e vir negado. Muitas pessoas estão em período pós operatório, pessoas idosas, crianças, outras que estão doentes pois estão em fase de tratamento, com medicação controlada e já limitada.

Estamos vivendo um caos total neste momento. Nossas vidas estão em risco sem saber quando teremos nossos direitos restabelecidos. Mais uma vez estamos sendo penalizados pela desigualdade social. Enquanto os que tem dinheiro podem chegar todos os dias de avião na cidade de Carauari, nós estamos proibidos de chegar em casa.

O prefeito do município vizinho (Juruá), gentilmente autorizou o exame pra todos nós embarcados e não foi diagnosticado NENHUM PASSAGEIRO COVID-19, mesmo assim o prefeito e juiz de Carauari (que são a mesma pessoa), nos nega o direito de ir para nossas casas.

Suplicamos o SOCORRO e RESGATE de quem puder nos ajudar.

Barrancos do rio Juruá, 25 de fevereiro de 2021.

Foto: Reprodução/arquivo Amazônia na Rede (meramente ilustrativa)