Em trecho revelado hoje (2) pela revista Veja de um livro a ser lançado oficialmente no dia 17 de abril, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (MDB-RJ) diz que Michel Temer “lutou de todas as maneiras” pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) quando era vice-presidente da República.
Cunha cumpre prisão domiciliar há cerca de um ano, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Ele cumpriu parte da sentença em Curitiba e outra parte no Rio.
Com título de “Tchau, Querida — O Diário do Impeachment”, a publicação conta a versão de Eduardo Cunha sobre o processo de impeachment que culminou com a saída de Dilma da presidência em 2016.
Nos trechos revelados pela Veja, o ex-presidente da Câmara chega a sugerir uma suposta espionagem sobre a ex-presidente.
Em janeiro, a colunista da Folha de S. Paulo Monica Bergamo publicou o capítulo de introdução do livro, no qual Cunha já responsabilizava Temer pelo impeachment.
Balcão de negócio
No trecho revelado pela Veja hoje, o ex-deputado vai além e diz que “jamais o processo de impeachment teria sido aprovado sem que Temer negociasse cada espaço a ser dado a cada partido ou deputado que iria votar a favor da abertura dos trâmites.”
“Temer não só desejava o impeachment como lutou por ele de todas as maneiras”, diz Cunha, para quem a postura de Temer beira o cinismo: “ele acha que os outros são idiotas para acreditar na história da carochinha de que não desejava o impeachment nem teria feito nada por isso”.
À cata de votos
Em um trecho que não teve a sua íntegra publicada na reportagem, Cunha diz que pedia, e Temer avalizava praticamente tudo na busca por votos pelo impeachment.
Um dos exemplos citados pelo ex-presidente da Câmara, segundo a Veja, foi a nomeação de Marcos Pereira, do Republicanos, para o Ministério da Indústria e Comércio Exterior.
Temer não comentou as citações de Cunha no livro.
Versão de Temer
No livro “Escolha… “, publicado em 2020, o ex-presidente creditou o impeachment de Dilma à iniciativa de Eduardo Cunha, em razão de o PT ter lhe negado o apoio.
“O que aconteceu é que o PT agrediu muito o presidente da Câmara e, em face dessa agressão, ele não teve outra alternativa”, diz Temer no livro.
Cunha, de certa maneira, confirma parte da avaliação de Temer ao falar sobre sua relação com Dilma no livro.
“Se não houvesse vivenciado a disputa com o candidato dela à presidência da Câmara e tivesse sido apoiado pelo PT na ocasião, em hipótese alguma teria havido o impeachment. Sempre fui uma pessoa de cumprir acordos”, disse.
O ex-deputado se referia à eleição para a presidência da Câmara em 2015, quando venceu o representante governista, Arlindo Chinaglia (PT-SP).
A iniciativa do governo em lançar um candidato petista em vez de articular a candidatura de Eduardo Cunha sempre foi apontada como ponto de partida na deterioração da relação entre Dilma e o Congresso que culminou com o seu processo de impeachment.
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Foto: divulgação/reprodução/Veja/arquivo