Bolsonaro corre risco de morte sem se vacinar, diz chefe da Casa Civil

Luiz Eduardo Ramos disse estar empenhado no esforço de fazer Bolsonaro tomar a vacina, reconhecendo que o chefe corre risco de morte

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Publicado em: 28/04/2021 às 09:22 | Atualizado em: 28/04/2021 às 09:23

O general Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Casa Civil, contou na tal reunião do Conselho Suplementar de Saúde que tentou tomar a vacina escondido. Nas suas palavras:

“Tomei [a vacina] escondido, né? Poque a orientação era para não criar caso. Mas vazou. Não tenho vergonha, não. Eu tomei e vou ser sincero: como qualquer ser humano, eu quero viver, pô! E, se a ciência e a medicina está (sic) dizendo que é a vacina, quem sou para me contrapor? Estou envolvido pessoalmente, tentando convencer nosso presidente, independente de todos os posicionamentos, que nós não podemos perder o presidente para um vírus desse. A vida dele, no momento, corre risco, ele tem 65 anos”

Bolsonaro já tem 66.

A fala é uma soma de despropósitos. Notem que “não criar caso” era ter de tomar a vacina sem que o chefe soubesse.

Segundo a assessoria do ministro, ele recebeu uma dose da AstraZeneca. Bem, esse é o imunizante que tem no Brasil a parceria com a Fiocruz.

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O problema de Bolsonaro era com a CoronaVac — a “vacina do Doria”. Deve-se, entender, então, que o supremo mandatário se opunha a qualquer imunizante mesmo para os “seus” generais? Eis mais um candidato à CPI.

É espantoso que Ramos diga estar empenhando no esforço de fazer Bolsonaro tomar a vacina, reconhecendo que o chefe corre risco de morte.

Deve-se depreender daí que o general tem ciência de que, a cada vez que promove aglomerações, sem máscara, e que incentiva outros a fazê-lo, o presidente está expondo a risco a vida de terceiros. Fosse apenas a sua, seria só uma questão de escolha pessoal.

A Casa Civil tentou, depois, dar um sentido, digamos, novo à palavra “escondido”. O ministro estaria querendo dizer que se comportara como uma pessoa qualquer. Obviamente, não é o que o contexto sugere.

Voltem à fala. Ramos se vê obrigado a afirmar que “não tem vergonha” de dizer que tomou a vacina, como se estivesse a confessar uma transgressão. Depois, é obrigado a evocar a sua fragilidade humana para admitir que quer… viver. Não deve, então, ser coisa só de maricas.

A propósito: o que quer dizer “tentando convencer nosso presidente, independente de todos os posicionamentos”?

O conjunto evidencia um tempo de trevas.

Um general, oriundo do Exército brasileiro — que já foi partidário de uma corrente de pensamento em que a ciência era quase uma religião — se vê na contingência de dizer que tentou tomar a vacina escondido e que não se envergonha de ter recebido o imunizante.

Ah, sim, general: amanhã, o país ultrapassa a marca de 400 mil mortos. Nem tiveram a chance de tomar a vacina que seu chefe, por ora, recusa.

Leia mais na coluna do Reinaldo Azevedo no UOL

Foto: Divulgação

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