Covid mata mais e Bolsonaro corta 90% de repasses a governadores
O corte ocorre num momento em que o nรบmero de mortes por covid-19 dispara no Brasil. Entre marรงo e dezembro de 2020, o paรญs registrou 194,9 mil รณbitos

Diamantino Junior
Publicado em: 04/06/2021 ร s 10:40 | Atualizado em: 04/06/2021 ร s 10:40
A Uniรฃo reduziu em 90,5% o valor mรฉdio das transferรชncias a governadores e prefeitosย para o combate ร pandemia de covid em 2021.
No ano passado, o Poder Executivo enviou o equivalente a R$ 391,8 milhรตes por dia para governadores e prefeitos. Nos cinco primeiros meses deste ano, a mรฉdia diรกria de empenhos caiu para R$ 36,9 milhรตes.
Os dados estรฃo atualizados atรฉ 30 de maio e disponรญveis no portal Siga Brasil, mantido pela Consultoria de Orรงamentos, Fiscalizaรงรฃo e Controle do Senado (Conorf).
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O corte ocorre num momento em que o nรบmero de mortes por covid-19 dispara no Brasil. Entre marรงo e dezembro de 2020, o paรญs registrou 194,9 mil รณbitos.
De janeiro a maio de 2021, essa conta mais do que dobrou na metade do tempo: agora sรฃo 462,7 mil brasileiros mortos.
Apesar da tragรฉdia, a mรฉdia de repasses da Uniรฃo para estados e municรญpios nem chega a um dรฉcimo do valor transferido no ano passado.
Recursos liberados por MP
No primeiro ano de pandemia, o Palรกcio do Planalto empenhou um total de R$ 540,2 bilhรตes, liberados por medidas provisรณrias para o enfrentamento ร covid-19.
Os governos locais ficaram com R$ 114,8 bilhรตes, o equivalente a 21,2% do total.
A maior parte do dinheiro foi repassada por meio de um auxรญlio financeiro para compensar a perda de arrecadaรงรฃo provocada pela pandemia em estados e municรญpios, um total de R$ 78,2 bilhรตes
Outros R$ 35,8 bilhรตes foram aplicados no combate ร emergรชncia de saรบde pรบblica. Essa aรงรฃo engloba medidas como compra de insumos, equipamentos de proteรงรฃo individual e testes de detecรงรฃo, capacitaรงรฃo de agentes de saรบde e oferta de leitos de unidade de terapia intensiva.
Programa Dinheiro Direto na Escola
Em 2020, governadores e prefeitos tambรฉm receberam recursos para o programa Dinheiro Direto na Escola (R$ 672,1 milhรตes), os serviรงos de assistรชncia hospitalar e de atenรงรฃo bรกsica em saรบde (R$ 57,2 milhรตes) e o Sistema Nacional de Seguranรงa Alimentar Nutricional (R$ 6,1 milhรตes).
Neste ano, o cenรกrio mudou. O total de empenhos da Uniรฃo limitou-se a R$ 85,9 bilhรตes โ contra os R$ 200,1 bilhรตes comprometidos entre marรงo e maio de 2020. Estados e municรญpios ficaram com R$ 5,5 bilhรตes, o equivalente a 6,3%.
Programas desenvolvidos no ano passado tiveram as transferรชncias interrompidas, e o dinheiro foi liberado para apenas duas aรงรตes em 2021: procedimentos de alta e mรฉdia complexidade (R$ 3,4 bilhรตes) e piso de atenรงรฃo primรกria ร saรบde (R$ 2 bilhรตes).
Os dados sobre transferรชncias a estados e municรญpios se referem exclusivamente ร s despesas executadas por meio de repasses da Uniรฃo para os entes subnacionais.
Gastos realizados diretamente pelo governo federal no enfrentamento da pandemia ficam fora dessa conta, mesmo que aplicados localmente. ร o caso, por exemplo, do auxรญlio emergencial.
“Embora os recursos do auxรญlio emergencial tenham alcanรงado a populaรงรฃo de todo o paรญs, o programa foi executado pela prรณpria Uniรฃo, valendo-se da capilaridade da Caixa Econรดmica Federal para efetuar os pagamentos diretamente aos beneficiรกrios. Dessa forma, como nรฃo houve transferรชncia para que estados e municรญpios fizessem o pagamento do benefรญcio, tais despesas nรฃo constam da tabela”, explica Marcel Pereira, consultor da Conorf.
Prioridade a prefeitos
Os nรบmeros do Siga Brasil revelam que a Uniรฃo preferiu repassar o dinheiro para o combate ao coronavรญrus diretamente aos prefeitos, em detrimento dos governadores.
Considerando o valor total das transferรชncias desde 2020, os municรญpios ficaram, em mรฉdia, com 51,7% da verba. Os estados, com 48,2%.
Em 15 unidades da Federaรงรฃo (UFs), os governadores receberam menos recursos do que os prefeitos locais.
Isso ocorreu em sete dos nove estados do Nordeste (exceto Sergipe e Pernambuco), alรฉm de Goiรกs, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paranรก, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Sรฃo Paulo.
Em 11 desses estados, os governadores sรฃo de partidos de oposiรงรฃo ou criticam a postura do presidente Jair Bolsonaro no combate ao coronavรญrus. Joรฃo Doria (SP), por exemplo, ficou com 47,2% dos recursos transferidos pela Uniรฃo, enquanto a maior fatia foi repassada diretamente para os municรญpios paulistas. Rui Costa (BA) recebeu 46,8%, seguido de Flรกvio Dino (MA), com 46,5%, e Eduardo Leite (RS), com 44,8%.
Em outras 11 UFs, foram os gestores estaduais que amealharam o maior pedaรงo do bolo em comparaรงรฃo com os prefeitos.
Destaque para Antonio Denarium, que se autodenomina โbolsonaristaโ: ele ficou com 75,1% do dinheiro transferido para Roraima.
O mesmo ocorreu com outros aliados declarados do presidente da Repรบblica: Belivaldo Chagas (SE), Wilson Lima (AM) e Mauro Mendes (MT) receberam, respectivamente, 59,9%, 56,9% e 52,1% dos recursos.
Os dados demonstram, no entanto, que, em alguns casos pontuais, crรญticos do presidente Jair Bolsonaro foram beneficiados com mais recursos do que os prefeitos locais. Isso ocorreu com Waldez Gรณes (AP), que ficou com 74,7%, e Renato Casagrande (ES), que obteve 56,2% do dinheiro transferido pela Uniรฃo.
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O inverso tambรฉm aconteceu, e alguns simpatizantes do presidente da Repรบblica acabaram recebendo menos do que os prefeitos.
ร o caso de Romeu Zema (MG), que obteve 36,9%, Ratinho Jรบnior (PR), com 44,1%, e Ronaldo Caiado (GO), com 44,8%.
Como o Distrito Federal nรฃo tem municรญpios, o governador Ibaneis Rocha ficou responsรกvel por todo o dinheiro transferido.
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Foto: Divulgaรงรฃo