Infectados com variante de Manaus da covid não estão imunes à indiana

Para quem já teve covid-19 com as cepas das variantes gama e beta, a capacidade de neutralizar a cepa delta é 11 vezes menor, pontuou a Fiocruz

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Diamantino Junior

Publicado em: 29/06/2021 às 08:35 | Atualizado em: 29/06/2021 às 19:55

A variante delta (indiana) do novo coronavírus aumenta o risco de reinfecção pela covid-19, segundo estudo recém-publicado e que contou com participação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

No levantamento, os pesquisadores sugerem que o soro de pessoas previamente infectadas por outras cepas da doença é menos potente contra esta variante viral.

A Fiocruz detalhou que, pelas conclusões do estudo, a reinfecção pela variante delta, verificada inicialmente na Índia, é observada de forma marcante entre indivíduos anteriormente infectados pela variante gama, identificada originalmente em Manaus e atualmente dominante no Brasil; assim como pela variante beta, detectada pela primeira vez na África do Sul.

Para quem já teve covid-19 com as cepas das variantes gama e beta, a capacidade de neutralizar a cepa delta é 11 vezes menor, pontuou a Fiocruz, usando como base informações do estudo.

Além disso, o soro de pessoas vacinadas também tem potência reduzida contra a variante originária da Índia – embora os dados apontem que as vacinas continuam efetivas, mas em menor intensidade, pontuou a Fiocruz.

Resistente às vacinas

De acordo com o estudo, a capacidade de neutralizar a cepa indiana é 2,5 vezes menor para o imunizante da Pfizer e 4,3 vezes menor para o da AstraZeneca, informaram os estudiosos, na pesquisa sobre a variante delta.

“Parece provável, a partir desses resultados, que as vacinas atuais de RNA e vetor viral fornecerão proteção contra a linhagem B.1.617 [que possui três sublinhagens, incluindo a variante delta], embora um aumento nas infecções possa ocorrer como resultado da capacidade de neutralização reduzida dos soros”, afirmam os pesquisadores no estudo, de acordo com a Fiocruz.

No entendimento dos pesquisadores, ainda segundo a fundação, as análises do novo estudo mostram que a afinidade da variante delta pelos receptores celulares é maior do que a observada nas linhagens que circularam no começo da pandemia.

No entanto, é inferior à verificada com as outras variantes observadas após o começo da eclosão da doença, em março de 2021.

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Para chegar às conclusões do estudo, os pesquisadores analisaram a ação de 113 soros, obtidos a partir de pacientes infectados e imunizados, sobre seis cepas do novo coronavírus.

De acordo com a Fiocruz, a pesquisa foi publicada na revista científica “Cell” e foi liderada pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Para realizar o estudo, houve colaboração científica envolvendo 59 pesquisadores do Reino Unido, da China, do Brasil, dos Estados Unidos, da África do Sul e da Tailândia.

Participantes da pesquisa

No caso dos pesquisadores brasileiros, participaram o Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o Laboratório de Ecologia de Doenças Transmissíveis na Amazônia do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia) e a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS/AM).

A Fiocruz lembra que a variante delta é um subtipo da linhagem viral B.1.617, que emergiu na Índia em outubro de 2020.

Em maio deste ano, após ser associada ao agravamento da pandemia na Índia e no Reino Unido, a cepa foi declarada como variante de preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Delta é presente em 85 países

De acordo com a OMS, a variante circula em, pelo menos, 85 países do mundo.

No Brasil, infecções causadas pela variante delta foram diagnosticadas em viajantes no Maranhão, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, no Paraná e em Goiás, segundo o Ministério da Saúde.

No dia 19 de junho, a Secretaria de Saúde de Goiânia confirmou o primeiro registro de transmissão local da cepa.

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Foto: Fiocruz / Arquivo