Aldenor Ferreira*
Nunca na história do Brasil havíamos vivido um período tão acentuado de decadência como o de agora, um período obscuro marcado pela regressão em todos os setores da vida social.
O Brasil atual é fake .
Todavia, nem sempre foi assim, mesmo com todos os nossos problemas, sempre tivemos relevância no cenário econômico, político e cultural internacional. Um breve exame de nossa história revela isso.
No percurso de desenvolvimento do capitalismo mundial, de 1930 a 1980, o Brasil foi o país que mais cresceu economicamente, desbancando potências mundiais de hoje, como a China e a Coreia do Sul. Nossa inserção se dava em todos os segmentos locais, regionais e internacionais.
A presença era constante na música, nas artes plásticas, na literatura, no esporte, na arquitetura, na política e na ciência.
Na música, por exemplo, criamos um ritmo próprio internacionalmente reconhecido e utilizado – a bossa nova –, presente inclusive em memórias de teclados musicais de marcas importantes como a Yamaha.
Nossos cantores e compositores tinham alcance e reconhecimento mundial, como Tom Jobim, Elis Regina, Chiquinha Gonzaga, Heitor Villa-Lobos, Pixinguinha, Ary Barroso, Cartola, Noel Rosa e tantos outros, sejam do passado ou atuais.
Na literatura, a lista é quase infindável de talentos, muitos com destaque internacional, como José de Alencar, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Guimarães Rosa e outros.
Nas artes plásticas, quadros de Tarsila do Amaral são expostos em galerias do mundo. Por sua vez, a famosa obra “Guerra e Paz” de Candido Portinari faz parte do acervo artístico da Organização das Nações Unidas (ONU) e está exposto em sua sede em Nova York.
No esporte, o mundo conheceu e se encantou com dois deuses do futebol: Garrincha e Pelé. O Brasil foi bicampeão mundial de futebol em sequência, 1958 e 1962, feito alcançado apenas pela Itália, nas primeiras edições do torneio (1934 e 1938).
Ainda no campo do esporte, não poderíamos nos esquecer dos feitos da tenista Maria Esther Bueno, tricampeã em Wimbledon (1959, 1960, 1964) e tetracampeã no Aberto dos Estados Unidos (1959, 1963, 1964 e 1966), ou de Eder Jofre, tricampeão mundial de boxe.
Na arquitetura, temos a presença arrojada e militante de Oscar Niemayer materializada na construção de Brasília e de sua catedral, Patrimônio Cultural da Humanidade, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Já na política externa, José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, Oswaldo Aranha e, mais recentemente, Sergio Vieira de Melo, nome importante dentro da ONU.
No cinema, podemos ressaltar a produção de filmes premiados como “O Pagador de Promessas”, vencedor da Palma de Ouro no Festival francês de Cannes, em 1962.
Na ciência, nomes importantíssimos como o de Cessar Lattes, Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Adolfo Lutz, Vital Brazil e tantos outros e outras do passado e de agora são reconhecidos internacionalmente.
A lista é longa e, certamente, estão faltando muitos nomes, assim como segmentos em que tivemos importância, mas a ideia aqui é lembrar o quanto somos grandes e o quanto já fomos relevantes internacionalmente em todos os âmbitos da vida social.
Todavia, em algum momento do percurso histórico, a idiotice tomou de assalto o poder político e suas instâncias decisórias.
O que vemos hoje é a morte de uma grande nação e o surgimento de uma republiqueta obtusa, retrógrada, avessa ao conhecimento, à cultura, sem inserção internacional, doméstica, sem relevância, sem projeto para o presente e para o futuro, enfim, um Estado pária da comunidade internacional.
Para finalizar, penso que a materialização dessa decadência pode ser vista no Senado Federal. Uma casa por onde já passaram Pedro Simon, Paulo Brossard, Jeferson Perez, Eduardo Suplicy, Heloisa Helena, Marina Silva, apenas para citar alguns nomes, agora é a morada de Flávio Bolsonaro, Marco Rogério e Luis Carlos Heinze.
Esse Brasil não é o “Brasil brasileiro, lindo e trigueiro” de Ary Barroso, esse Brasil é fake . Será, preciso, então, “abrir a cortina do passado” para ver a grandiosidade da nação contida nele e lutar por um Brasil brasileiro de fato.
*Sociólogo
Arte: Alex Fideles