AM Ă© destaque na ConstituiĂ§Ă£o 1988, versĂ£o nheengatu

O "idioma" jĂ¡ foi o mais falado da regiĂ£o, quando criado pelos povos originĂ¡rios no perĂ­odo da colonizaĂ§Ă£o.

AM Ă© destaque na ConstituiĂ§Ă£o 1988, versĂ£o nheengatu

Da RedaĂ§Ă£o do BNC Amazonas

Escrito por Neuton Correa

Publicado em: 17/07/2023 Ă s 07:45 | Atualizado em: 17/07/2023 Ă s 07:45

A ser lançada na prĂ³xima quarta-feira, 19, a ConstituiĂ§Ă£o de 1988, traduzida para a lĂ­ngua indĂ­gena amazĂ´nica nheengatu, teve grande participaĂ§Ă£o do Amazonas.

O “idioma” jĂ¡ foi o mais falado da regiĂ£o, quando criado pelos povos originĂ¡rios no perĂ­odo da colonizaĂ§Ă£o. Hoje, mantĂ©m-se como a mais falada entre os indĂ­genas. Estima-se que, atualmente, mais de 25 mil pessoas a utilizem na relaĂ§Ă£o entre povos diferentes.

Nesse contexto, o Amazonas figura como o ponto de partida para o projeto. O marco é a visita que a ministra Rosa Weber, presidente do CNJ e do STF, fez em março deste ano ao Vale do Javari.

A regiĂ£o se tornou nacional e internacionalmente conhecida por causa dos assassinatos do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britĂ¢nico Dom Phillips.

Ali, vive uma das maiores pluralidades de lĂ­nguasdo mundo, mas elas se interligam por meio do nheengatu.

Instituições

A partir disso, a cĂºpula do JudiciĂ¡rio Nacional se articulou para incluir os povos indĂ­genas da AmazĂ´nia na Carta Magna do paĂ­s, editada 35 anos atrĂ¡s.

Nesse caso buscou apoio do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM), por meio da Escola Superior da Magistraturua do Amazonas (Esmam).

A Biblioteca Nacional tambĂ©m entrou nesse projeto, com a participaĂ§Ă£o de tradutores.

Personagens

Entre esses tradudores hĂ¡ trĂªs personagens importantes do Amazonas, de um grupo de 15 tradutores e consultores.

O primeiro deles o professor indĂ­gena Edilson Martins, alfabetizado na lĂ­ngua baniwa, povo que vive no municĂ­pio de SĂ£o Gabriel da Cachoeira (AM), que cursou Letras na Ufam e fez mestrado em LinguĂ­stica pela UnB.

Hoje, ele Ă© personagem de reportagem do jornal O Globo, sobre a ConstituiĂ§Ă£o na versĂ£o nheengatu.

“Essa iniciativa vem ao encontro do anseio de valorizaĂ§Ă£o dos povos indĂ­genas. AlĂ©m disso,
vem concretizar os direitos que o prĂ³prio texto constitucional, principalmente nos artigos 231 e 232, garante, que sĂ£o o reconhecimento aos Ă­ndios dos seus costumes, lĂ­nguas, crenças, tradições e terras que ocupam”, disse Martins ao Globo.

O outro personagem Edson Cordeiro Gomes, da etnia barĂ©, povo que vive na regiĂ£o rio Negro. Edson Ă© presidente da Academia de Nheengatu.

Na reportagem do jornal flumense, ele falou de desafio.

“Nosso maior desafio foi nĂ£o criarmos palavras novas, mas darmos sentido Ă s que jĂ¡ existem. Como muitas das expressões em portuguĂªs nĂ£o existem no nosso idioma, precisĂ¡vamos pensar em como
explicar esses termos aos falantes. Nunca havĂ­amos nos deparado com portarias, decretos e artigos”, comentou.

A terceira personagem Ă© Inory Kanamari (foto). Ela jĂ¡ foi presidente da ComissĂ£o de Amparo e Defesa dos Direitos dos Povos IndĂ­genas da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Amazonas.

Ela atuou como consultora do projeto.

Por fim, outra amazonense Ă© a juĂ­za Andrea Medeiros, do Tribunal de Justiça do Amazonas e uma das coordenadoras-executivas do projeto. Ela jĂ¡ atuou naquela regiĂ£o como juĂ­za eleitoral.

Ao Globo, a magistrada conta que palavras corriqueiras no universo jurĂ­dico viraram enorme desafio para a traduĂ§Ă£o.

Por exemplo, entre elas, pensĂ£o alimentĂ­cia, imposto e precatĂ³rio. Um grupo de WhatsApp foi criado para discutir o processo, e reuniões virtuais uniam a equipe espalhada por cinco cidades da imensidĂ£o amazĂ´nica.

“AlĂ©m das reuniões semanais virtuais, criamos um grupo no WhatsApp em que ficĂ¡vamos Ă  disposiĂ§Ă£o para discutirmos termos tĂ©cnicos que nĂ£o sĂ£o do dia a dia dos indĂ­genas, como pensĂ£o alimentĂ­cia, imposto, precatĂ³rio”, disse Medeiros.

Leia mais em O Globo.

Foto: arquivo pessoal