Quatro dias depois de anunciar que não disputará mais mandato público, o deputado estadual Belarmino Lins (PP) explicou a razão de ter tomado a decisão.
“Eu vou concluir meu oitavo mandato com 76 e não desejo tentar arranjar um mandato arrastando o pé ou com dificuldade de deambular ou de andar em busca do voto”, disse o parlamentar.
Ele comentou isso em entrevista que concedeu ao BNC AMAZONAS nesta terça-feira, 8.
Detentor de uma trajetória de sucesso pelo fato de ter obtido oito mandatos consecutivos, sem nenhuma derrota, ter sido presidente Assembleia Legislativa do Estado (ALE-AM), durante seis anos, por três mandatos também consecutivos, Belão, como é conhecido, nessa entrevista, lembra seus 32 anos de parlamentar.
Ele diz que não terá saudade da rotina que viveu nessas três décadas.
“Posso dizer que não vou ter saudades. Eu vou ter boas lembranças, alimentar boas lembranças e viver a vida, enquanto tenho vida e saúde”.
Apesar disso, o decano da ALE-AM diz que sua saída da vida pública não significará saída da política.
“Vou continuar servindo o Amazonas. Eu vou estar ao lado do meu filho e do meu irmão contribuindo no que puder. No que houver necessidade, estarei firme”.
O filho é George Lins, para quem pretende deixar sua vaga na ALE-AM. E seu irmão, a quem se refere, é o deputado federal Átila Lins (PP), sobre o qual fala do começo ao fim da entrevista, que durou uma hora.
“O nosso lema, meu e do meu irmão, deputado federal Átila Lins, é trabalhar antes, durante e depois das eleições”, comentou, citando isso como a fórmula de sucesso sua e de seu irmão, que o colocou na política em 1990.
Nessa entrevista, Belarmino também é provocado a falar sobre os governadores com os quais conviveu. A pergunta foi: “Qual o governador deu mais trabalho à ALE-AM?”.
Ele também foi provocado a falar sobre um episódio, considerado o maior escândalo de sua vida pública. Foi a descoberta de que ele empregava sua mãe em seu gabinete.
Na época, ele assumiu o fato e comentou que a contratou como a melhor conselheira que poderia ter.
Veja o que ele respondeu hoje:
“Será que teria alguém de maior confiança do que minha própria mãe? Por que ela não exercer? Porque não tinha proibição. Não existia nada que proibisse eu de designá-la”.
Eu insisto e pergunto:
“O que o senhor pensa sobre esse fato, hoje?”
Leia e a veja a seguir a entrevista dada ao BNC AMAZONAS.
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Eu queria iniciar essa entrevista pedindo que o senhor fizesse uma memória dessas suas três décadas de Assembleia Legislativa do Estado (ALE-AM). O que o senhor tirou do fazer político nesse período?
A minha vida política data de 1944, quando ingressei na vida política depois de ser funcionário do DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, hoje DENIT), primeiro emprego no DNER, onde exerci minha função durante 26 anos no meu primeiro emprego. Depois, passei a diretor financeiro da Cosama (Companhia de Saneamento do Amazonas), no governo Lindoso, depois fui superintendente do IAPAS, também parte no governo Gilberto Mestrinho, depois no Amazonino. Eu fui diretor financeiro do Ipasea, finalizando presidente do Ipasea (Instituto de Previdência do Estado do Amazonas), interiorizando as ações do Ipasea, quando me afastei para disputar o primeiro mandato em 1990, de deputado estadual, à época, com 6.656 votos.
De lá para cá, eu tenho sempre estado, por foça da preferência popular, ocupando do primeiro ao sexto lugar, na votação.
Por exemplo, em 2010, eu tive a maior votação como deputado estadual, 52.000 votos. Depois de todas aquelas mudanças estruturantes que nós fomos capazes de fazer, não só o deputado Belarmino, mas todos os colegas da legislatura que colaboraram de forma decisiva, participativa na reconstrução física do parlamento amazonense, após 36 anos, quando foi construída a ALE-AM, no Centro da cidade. Foi aí que precisou vir um caboclo lá de Fonte Boa (AM), com o apoio dos colegas, dos 24 deputados, para dar uma nova estrutura física ao parlamento, que pudesse expressar o valor, o peso do povo amazonense no parlamento estadual, no governo do doutor Eduardo Braga.
Nos oito anos de mandato (de Braga), eu fui presidente da ALE-AM por sei anos, o que representam três mandatos consecutivos de presidente.
Logo no primeiro ano, para se ter uma ideia, aquelas mudanças estruturantes da parte física do parlamento aconteceu nos dez primeiros meses da nossa administração, que culminou com a inauguração em junho de 2006 do novo complexo do Poder Legislativo, exatamente depois de um trabalho de pesquisa, de consulta, de ouvir as manifestações, as opiniões dos deputados, funcionários, ativos e inativos, foram concebidas as instalações da ALE-AM, com inspiração de um caboclo amazonense das barrancas perdidas do rio Solimões, onde as águas barrentas se confundem com as águas do Madeira, do Purus, do Juruá, do Japurá. Enfim, juntos, concluímos um novo templo para o parlamento amazonense.
O senhor, então, credita sua votação de 2010 à sua atuação como presidente da Assembleia?
Exatamente, a presença e as realizações como presidente do Poder Legislativo, que repercutiram em todo o Estado. Para você ter uma ideia, eu tive 5.700 votos na grande Manaus, mas tive 47 mil votos no interior.
A performance eleitoral dos presidentes de ALE-AM sempre foi assim, mas acho que a sua foi a melhor de todas. Mas, além das realizações, o que mais pesa no cargo de presidente?
Eu diria que são os espaços que você ocupa. O poder é atraente, é fascinante, tanto a nível tanto Executivo quanto Legislativo. O Legislativo em menor proporção. E aí, você tem que trabalhar com humildade e com a presença física.
O que acontece? O nosso lema, meu e do meu irmão, deputado federal Átila Lins, é trabalhar antes, durante e depois das eleições. Aí, alguns outros podem se surpreender com a nossa votação, mas o eleitorado, as lideranças, não.
Esse é o segredo?
É! Você cria essa empatia com o eleitorado, essa identidade. Ahhh, não é deputado copa do mundo, que aparece de quatro em quatro anos; não é o deputado caramuri, que também só dá de quatro em quatro anos. É um deputado presente, atuando com presença e com resultados.
O senhor vai todas as semanas para o interior?
Nós temos uma meta, eu e o deputado Átila, porque nós sempre trabalhamos juntos, começamos e haverei de me desligar da política, juntos, por 32 anos. Então, nos fins de semana, o deputado Átila chega às quintas, sai de uma aeronave, sai de um Boing e nós já entramos num….
…Teco Teco
Para visitar o interior, sem medir distâncias nem demonstrar cansaço. Átila e Belão alcançam os mais distantes municípios para levar, no mínimo, uma palavra de esperança e de perspectiva de vida para eles.
Uma curiosidade: não tenho a mesma frequência de viagens que vocês fazem, minhas viagens são poucas, mas foram muitas aventuras, com turbulências, inclusive, na sexta-feira sobrevoando a cidade de Parintins num temporal, num avião grande. Vocês tiveram muitos sobressaltos nessas viagens? Tem alguma que marcou vocês e que tenha feito vocês repensarem a vida?
Turbulência é uma frequência, principalmente no período invernoso.
Mas, eu lembro de uma viagem que nós realizamos de Pauiní a Boca do Acre para pegar um avião para vir para Manaus, um monomotor. Deu um problema, mas nós conseguimos pousar em Boca do Acre. Na mesma rota, num bimotor, num Seneca. Um dos motores, de Pauiní para Boca do Acre e Rio Branco, parou em pleno voo e nós conseguimos, graças a Deus, alcançar Rio Branco com um motor e com a ocupação de cinco passageiros. Eu e o Átila estávamos juntos.
A partir daí, ao adentrar numa aeronave, eu e o Átila, com certeza, fazemos uma oração e entregamos a Deus o nosso destino de ir e vir para o cumprimento de nossa tarefa. Nós nunca deixamos de fazer uma viagem com receio, com medo, sempre acreditando em Deus que fôssemos e voltássemos com saúde e com a realização de nossos trabalhos e de nossos voos.
Graças a Deus não lembro de outra aventura que não tenha sido essa, mais perigosa de chegar, de passar de Boca do Acre para Rio Branco. Era uma viagem de 25 minutos, com um motor só, nós passamos 55 minutos e a gente rezando e orando para chegar com vida. Deus é grande, Deus é bom e já nos permitiu essa vida longa na política, sem medo de empreender as nossas viagens, com fé em Deus.
Quem está acompanhando a gente aqui talvez não tenha noção do que é uma distância no Amazonas. Nós temos municípios com praticamente mil quilômetros de distância de Manaus. Não é isso?
Mais do que isso. Vou dar um exemplo: Manaus-Ipixuna (AM) são cinco horas de Caravan.
É mais longe do que Brasília..
É! Sem dúvida! Limite com o Cruzeiro do Sul (AC): Itamarati: cinco horas de voo, num Caravan; Manaus-Tabatinga: cinco horas de voo de Caravan. Isso aí, para nós, é fichinha, porque nós temos a bênção de Deus e a torcida do povo amazonense.
E, na política, qual foi a maior turbulência política que o senhor já enfrentou?
Não lembro uma que tenha me assustado. Não lembro, não!
A eleição do Átila de 2014 foi difícil, apesar da sua não ter sido…
É verdade, mas foi um susto, não passou de um susto, não! É porque a gente desconhecia o que estava por vir, que eram as nossas ações no interior, onde o povo é amigo, solidário e grato. O eleitor do Átila não é um eleitor fisiologista. É um eleitor convencido de que o deputado atua para servir e não se servir.
Vocês vão sair. Eu estou falando vocês, mas o Átila continua, mas o Átila não tem registro de escândalo na trajetória política dele no Congresso, embora seja o decano de mais de 30 anos.
Graças a Deus é uma coisa que nos orgulha muito e isso também orgulha o povo amazonense de que o Átila é um parlamentar que não vive nas página policiais e nem nos programas de TV com processos criminais. Isso, para nós, é um conforto. Graças a Deus é uma honra a gente encarar o eleitor de frente, olhando nos olhos e pedindo a preferência da renovação de nossos mandatos, porque, em respeito ao eleitor amazonense, nós cuidamos da nossa postura parlamentar para evitar que lá na frente nós tenhamos vergonha de encarar o eleitor por desatinos no exercício da função, emanada pelo povo.
Daí, o reconhecimento tanto a nível federal, do Átila, quanto a nível do deputado Belão. Graças a Deus! E a minha mãe sempre pregava. Ela dizia sempre assim para os filhos: tudo de bom agradeça a Deus diariamente. E tudo o que enfrentarem de ruim entreguem a Deus. Não usem a força do mandato para prejudicar ou retaliar alguém.
Aliás, a sua mãe foi sua conselheira política, né?
Sempre foi. Eterna conselheira durante a minha vida inteira, porque ela faleceu com 93 anos e ela sempre foi uma amiga, uma mãe conselheira.
Quando eu comecei a cobrir política, em Manaus, o senhor estava diante desse que era um escândalo, o senhor tê-la como sua conselheira na Assembleia Legislativa. Como o senhor conseguiu enfrentar esse desgaste ?
É o seguinte: é você usar de boa fé. Por exemplo: na legislação, no Brasil inteiro, não se condenava o uso do nepotismo. O nepotismo surgiu como uma rajada de vento forte no Brasil inteiro. E não podia o Amazonas ser excluído, com relação ao nepotismo, que daí resultou numa decisão do Supremo com a Súmula Número 13 .
Ora, todos os deputados, todos os desembargadores, todos os juízes, ministros, todas as autoridades do Brasil tinham parentes em cargos comissionados de confiança.
Ora, Neuton, será que teria alguém de maior confiança do que minha própria mãe? Por que ela não exercer? Porque não tinha proibição. Não existia nada que proibisse eu de designá-la.
O que o senhor pensa sobre isso, hoje?
Olha, isso, sem dúvida, a Súmula Número 13, ela veio estabelecer uma norma de disciplina com relação à escolha de parentes. No passado, mulher, esposa, filho, filhas, tudo podia exercer cargo de comissão. Agora, a regra do STF estabeleceu que parentes até o terceiro grau não poderão ocupar cargos comissionados ligados a autoridades. Isso deu uma certa…
…Acabou?
Acabou! Isso é…
…Não tem nepotismo cruzado, não?
Bom… Isso aí eu desconheço. Eu sofri muito, na época, mas não apenas o deputado Belarmino praticava aqueles atos. O Brasil interio. Os deputados todos, mas eu tive, na hora que a imprensa me indagou, eu disse que existia e identifiquei, mas outros pegaram a existência, mas eu não sou dedo duro para identificar. Mas eu acho que a Súmula Número 13 botou ordem, disciplinou as designações de cargos comissionados no Brasil. Isso, eu acho, surtiu efeito.
O senhor teve uma posição de vanguarda na ALE-AM e nos parlamento brasileiro por ter defendido a redução do recesso parlamentar anual de 90 dias para 45 dias. O que lhe motivou a isso?
O que me conduziu a enfrentar… Primeiro foi arguir com os colegas a necessidade dessa mudança, que não era fácil. Eu compreendi. Ora, se o professor tem 30 dias de férias, a massa trabalhadora brasileira tem 30 dias de férias, por que o parlamentar, 90 dias de férias? O que isso representava? Que o mandato de quatros anos, um ano era de férias do parlamentar, considerando 90 dias, três meses por ano, vezes 4, são 12: um ano era de férias. Eu achava que aquilo era uma excrescência, considerando as regras trabalhadoras brasileiras.
O senhor sentiu resistência à época?
Não! Ao contrário, a ALE-AM aprovou essa emenda constitucional por unanimidade. E nós demos um exemplo para o Brasil. Daí, até o Congresso Nacional reduziu o recesso de 90 para 55 dias. E as assembleias brasileiras, muitas, seguiram o exemplo do Amazonas para 45 dias.
Depois eu tentei avançar mais para 30 dias, mas não fui mais bem sucedido.
O senhor já tentou algumas vezes, inclusive.
Eu tentei em três oportunidades, mas não tive mais o poder de arguição e convencimento para reduzir para 30 dias.
O senhor disse que no começo da entrevista que o poder seduz. Mas o senhor está anunciando que está pendurando as chuteiras. O poder não lhe seduz mais? Por isso que está saindo?
Não! Eu diria que é a consciência do dever cumprido, da minha contribuição com o Estado do Amazonas, como parlamentar. São 32 anos, oito mandatos consecutivos. Eu sou o parlamentar decano do Amazonas. Na história do Amazonas, nenhum outro deputado acumulou tantos mandatos consecutivos que nem o deputado Belarmino Lins, o popular Belão. Virão outros, sim! Eu não serei o único na história, mas, até hoje, eu sou o deputado amazonense, no parlamento do Amazonas, com o maior número de mandatos consecutivos. Alguns outros poderão chegar. Foi um mandato de vereador, um outro de… mas o deputado Belão são oito mandatos consecutivos de deputado estadual. Então, haverão outros que irão me superar nesse particular.
Eu já entendi. Eu entendi que agora, aos 76 anos, a todo momento, enquanto tenho vigor físico, saúde e disposição para ajudar, sugerir, indicar ao eleitorado amazonense um nome que puder me suceder na ALE-AM. Eu já o fiz.
O senhor está apresentando o seu filho como o seu sucessor …
Saio de cena e submeto meu filho, médico, urologista, 14 anos profissional da medicina, com especialização em Urologia, Uroncologia, com especialização em cirurgias robóticas, que, graças ao seu trabalho, o governador Wilson Lima implantará no Amazonas esse processo de cirurgia robótica até meados do ano, se Deus quiser, nós teremos, no hospital Delphina Aziz, e o governador já anunciou esse sistema de procedimentos de cirurgias robóticas, um ganho para o Norte. O Amazonas será o único estado do Norte e oxalá do Nordeste, porque esse privilégio acontece em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas e vários outros estados grandes.
Então, eu saio de cena com saúde, com vigor físico, com disposição para acompanhar o doutor George Lins nas bases que eu tenho atuação ao longo de 30 anos e submeter o nome à avaliação popular, no momento oportuno, no momento certo.
Por quê? Eu entendo que, aos 76 anos, eu já dei minha contribuição com oito mandatos e outros poderão vir e eu estou sugerindo, apresentando ao povo, o doutor George Lins para me suceder e continuar com o trabalho.
Evidente, se eu fui considerado bom, eu tenho fé em Deus que o doutor George Lins será melhor do que eu para o Amazonas e para o parlamento.
Com esse gesto, o senhor faz uma coisa que pouco se vê na política, porque a gente percebe na política é um apego muito grande ao poder. E o senhor, mesmo em ascendência, decidi sair de cena, o que para mim é um virtude no ser humano e eu lhe saúdo por isso. Mas esse momento de reflexão se deu em que momento de sua vida?
Essa ideia não aconteceu agora. Ela já vinha trabalhando na minha mente há algum tempo. Eu, entendendo, porque quando o povo me reelegeu para o oitavo mandato, eu vou concluir com 76 anos, e não desejo tentar arranjar um mandato arrastando o pé ou com dificuldade de deambular ou de andar em busca do voto. É uma atitude de desprendimento.
Porque, Neuton, em que pese tanto tempo de história no parlamento amazonense, a minha vida continua sendo a mesma. Eu não tenho essa vaidade. Eu tenho orgulho de ser parlamentar, porque o parlamentar é votado, ele é escolhido, ele é preferido pelo povo. Mas, vaidade, qualquer circunstância é passageira. Para alguns outros são apenas quatro anos, não se renovam. Para mim, foram oito mandatos, 32 anos. Eu tenho é que agradecer a Deus e ao eleitorado amazonense de ter me dado esse voto de confiança, para eu fazer e tentar fazer o trabalho que eu fiz. Gostaria de ter feito mais, mas cada um tem suas limitações. Mas diariamente eu agradeço a Deus por essa oportunidade.
Deputado, nesses 30 anos de ALE-AM, qual foi o melhor debate que o senhor teve, de quem o senhor sente falta? A ALE-AM ainda tem grandes debatedores?
A ALE-AM sempre nos surpreende a cada quatro anos. Uns se dedicam mais à tribuna, outros têm mais eloquência, outros têm mais trabalho voltado para menos exposição na tribuna. Mas nós tivemos bons deputados, parlamentares na tribuna. E até hoje continuamos a ter.
Eu prefiro me reservar no direito de não fazer citações para não menosprezar outros colegas, mas, na minha consciência, eu tenho.
Mas eu vou lhe dizer. Eu sinto falta dos seus debates com o Eron Bezerra.
É (risos) o Eron era um oposicionista convicto…
… E o senhor um governista convicto.
Também.
Eu acho que uma das grandes qualidades sua era se assumir como enquanto governista. Eu lembro que em determinado momento na ALE-AM o senhor dizia: “eu sou governo futebol clube”.
E, depois, é o seguinte: não é uma questão de preferência pessoal do deputado Belão ter sido governista. É o mandamento popular. O povo me elegeu para ser governista para ajudar os menos favorecidos. Ora, eu vou para uma trincheira blá, blá; blá, blá? E não resolver o problema das pessoas que estão aflitas, esperando a mão estendida do poder público para socorrê-los? Por que vou me omitir? Por que eu vou ter essa vaidade de ser oposicionista raivoso ou um oportunista na calada da noite em detrimento de levar benefícios para os menos favorecidos?
Quem vive bem não precisa do parlamentar, de uma ação política, mas aqueles que estão no mais distantes lugarejos do nosso estado de dimensão continental esperam do deputado que confiou voto pelo menos um aceno de mão para dizer: estamos juntos. Isso eu fiz a minha vida inteira, não me distanciando do povo, sem sofrer nenhum constrangimento pelo povo ao longo da minha vida pública. Isso, para mim, é um orgulho.
Com o senhor vê hoje a divisão de forças na ALE-AM, hoje?
Olha, tem momentos com tristeza. O estado democrático não significa você transformar o parlamento num estado de desmoralizar ou ofender ou de detratar. Eu acho que os grandes embates têm de ser travados nos temas de interesses públicos e coletivos e não baixar o nível, porque nós representamos a vitrine que o povo quer olhar e quer assistir discussões que possam trazer resolutividade para os problemas da população e não agressões verbais. E isso se tem visto agora, mais do que nunca na minha trajetória política. Isso, de certa forma, entristece quem está há 32 anos no parlamento amazonense.
Na sua memória, nesses 32 anos de parlamentos, qual foi, na sua opinião, o governador que mais deu trabalho para a ALE-AM e qual aquele que, até aqui, o senhor acha que teve um melhor diálogo com os deputados?
Eu posso confiar e lembrar bem de que, até pela própria história do parlamento governista, e muitas vezes servi de parachoque entre as correntes oposicionistas ou tendenciosas à oposição, eu sempre procurei ser o mediador ou um bombeiro para apagar incêndio para evitar os grandes conflitos entre os poderes.
Mas eu confesso que nenhum governador tenha dado problema ao parlamento. Nós tivemos problema com o atual governo, num crise política e institucional nunca vivenciada no parlamento amazonense. De todas essas três décadas, nós tivemos uma relação institucional diferente no atual governo, na relação do atual governo com o Legislativo.
Mas não queremos atribuir responsabilidade nem a um lado nem a outro. O Amazonas todo presenciou, viu. Eu não sou juiz, eu sou político.
Eu queria saber que sangue corre no seu corpo, porque testemunhei um episódio quando o senhor era presidente da ALE-AM. Era um dia de sessão solene pelo aniversário do jornal A Crítica, mas o jornal atacou o parlamento naquele dia, e muitos deputado se negavam a comparecer ao plenário e o senhor, ainda assim, foi para a presidência dos trabalhos e contornou a situação tranquilamente. Com foi enfrentar essa situação?
Eu tinha que exercer a prerrogativa do mandato de presidente. Em que pese essas divergências, eu não podia me negar a exercer a prerrogativa de presidente do poder, que já atrás decidiu homenagear um órgão de imprensa. Mas eu não podia abdicar da minha condição de presidente e estar no plenário para presidir e cumprir com minha função de presidente e ao mesmo tempo de parachoque entre a imprensa e o poder, para não agravar as relações.
Eu também curiosidade a cerca da linguagem política que o senhor utilizou em sua trajetória: uma ironia muito refinada. Que tipo de leitura o senhor teve na vida que lhe rendeu essa refinada linguagem?
É uma coisa muito natural do ser humano. Eu não estudei paras ser assim. Eu me formei assim, mas com cuidado de não ferir a suscetibilidade dos colegas, em proferir uma frase, antes de refletir de que maneira ela possa ser interpretada pela sociedade que nos assiste e a quem me refiro. Mas é uma coisa muito natural, que não tem receita.
O senhor conseguiu fazer tudo o que planejou fazer quando entrou na política em 1991 ou ficou alguma coisa que o senhor gostaria de fazer e a não fez?
Eu sou uma pessoa que não alimento nem me ressinto pelo que eu fui capaz de fazer e não fui capaz. Eu tenho a consciência de que eu fiz tudo que foi possível fazer. Ah! Eu me arrependi de fazer isso. Não! Não há esse arrependimento. Eu tenho convencimento de que tudo o que foi possível fazer eu tentei realizar. O que não foi possível ficará entregue à responsabilidade de tantos outros.
Quando você se elege, você não traz uma faixa escrito na testa: “este é bom” ou “este não será bom”. Você traz a esperança de um povo quando renova ou quando prorroga o desejo de que as coisas possam melhorar. É isso que deve sempre alimentar o homem público.
O que foi permitido fazer eu fiz.
O que o senhor vai fazer depois do seu último de dia mandato?
Eu vou continuar servindo o Amazonas. Eu vou estar ao lado do meu filho e do meu irmão, contribuindo no que puder. No que houver necessidade, estarei firme.
E a rotina? Já se amigou lá frente?
Eu posso lhe dizer que eu não vou ter saudades. Eu vou ter boas lembranças, alimentar boas lembranças e viver a vida, enquanto tenho vida e saúde.