Não é verdade que o presidente Jair Bolsonaro não deixou nenhum legadopara o Brasil. Ele deixou vários, porém, são uma herança maldita, como veremos a seguir. O objetivo do texto de hoje é relembrar, afinal, como já registrou o cancioneiro popular, que “minha arma é o que a memória guarda[…]”, mesmo que no Brasil, tudo seja esquecido muito rapidamente.
Comecemos, portanto, pelo campo da educação. A gestão do governo no Ministério da Educação (MEC) foi um desastre. A pasta teve quatro ministros efetivos e mais dois que foram cogitados para assumir, mas acabaram sendo rejeitados pela sociedade devido aos seus próprios escândalos. O ministério perseguiu, boicotou e sucateou as universidades e os institutos federais, contingenciando seu orçamento o tempo todo.
Ainda nessa área, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) foi reduzindo o seu orçamento a cada ano, até chegar ao patamar de cortes de 90%, isso em plena pandemia de Covid-19. Com isso, MEC e MCTI fizeram com que CAPES e CNPq fossem obrigados a eliminar programas de educação a distância, reduzindo, também, drasticamente o número de bolsas disponibilizadas aos estudantes de pós-graduação do país.
No campo da saúde, os números falam por si. Bolsonaro, com seu negacionismo e sua necropolítica, fez uma péssima gestão da pandemia, o que resultou em 687 mil mortes por Covid-19. Essas mortes têm ligação diretas com o boicote às vacinas, às recomendações das autoridades sanitárias no que tange ao distanciamento social e ao uso de máscaras e, também, aos ataques feitos aos(às) cientistas, enfermeiros(as), médicos(as) e demais profissionais da área de saúde.
Todavia, nesse campo, há ainda um outro legado trágico. Por influência do seu negacionismo em relação às vacinas, a cobertura vacinal no país caiu bastante, fato que fez com que algumas doenças virais já controladas, como o sarampo, voltassem a ocorrer no país com maior incidência.
Outro ponto importante é que com apenas 60% de cobertura vacinal para a Poliomielite em 2022, essa grave doença pode ser reintroduzida no Brasil, que está livre dela desde 1990. O detalhe curioso é que o alerta de uma possível reintrodução foi dado pelo próprio ministro da saúde do governo Bolsonaro, o médico Marcelo Queiroga – um dos negacionista da gravidade da Covid-19 no país.
No que tange ao combate à corrupção, o governo Bolsonaro também não foi exitoso. O aparelhamento das instituições investigativas e os sigilos de cem anos deixam claro que, nessa missão, o capitão também falhou. O resultado disso foi o rebaixamento do Brasil no ranking de combate à corrupção da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
No campo econômico, é inegável que a política implementada pelo ministro Paulo Guedes e tutelada por Bolsonaro não trouxe prosperidade ao país, produzindo, no máximo, ilhas de riquezas em determinadas regiões e alguns poucos segmentos empresariais.
O desdobramento da política neoliberal de Guedes foi o retorno do Brasil ao Mapa da Fome, da Organização das Nações Unidas (ONU). Atualmente, 61 milhões de brasileiros vivem em insegurança alimentar, 15 milhões em estado grave, ou seja, passam fome, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Por fim, destaco o legado que eu considero o mais maléfico: o do ódio na política. Em nenhum momento da história do Brasil, sob o governo de nenhum presidente da república, famílias se dividiram por desavenças políticas. E não se trata de pequenas discussões aleatórias e passageiras dentro do seio familiar, não, há rompimentos graves, inclusive com agressões e assassinatos entre familiares.
É importante que se diga que sempre houve embates políticos no Brasil – oposição e situação, esquerda e direita. Contudo, Bolsonaro transformou a política em guerra, o adversário político em inimigo, fomentando um clima beligerante entre os brasileiros, algo inédito na nossa história, o que me faz concluir que ele deixa uma herança maldita ao país.
Foto: Divulgação