A rivalidade entre as cirandas
Os contrastes entre as cirandas tradicionais e as influenciadas pelo novo refletem-se no Festival Folclórico, onde aspectos culturais e sociais se entrelaçam.

Dassuem Nogueira , especial para o BNC Amazonas
Publicado em: 02/09/2023 às 10:00 | Atualizado em: 02/09/2023 às 10:12
A rivalidade entre as cirandas é herança da que já existia entre as escolas onde elas foram criadas.
Os estudantes do Colégio Nossa Senhora de Nazaré, do centro, diziam que a escola José Seffair, no bairro Terra Preta, periferia da cidade, parecia um galinheiro, em função de sua arquitetura.
Já os estudantes da José Seffair, onde nasceu a ciranda Tradicional, chamavam a escola do centro de “pombal”, pois suas janelas se assemelham aos ninhos de pombo.
Interessante notar que, no interior do Amazonas, todos os bairros que não são exatamente o centro histórico das cidades, costumam ser compreendidos como a periferia.
E ainda, os centros históricos costumam ser o primeiro centro comercial das pequenas cidades. Portanto, onde moram as pessoas mais abastadas.
Assim, em Manacapuru, a Flor Matizada, nascida no centro, é considerada a ciranda das pessoas ricas da cidade.
Ao contrário, os torcedores da Guerreiros Mura entendem que a sua ciranda é a ciranda do povo.
Nascida na periferia, no bairro da Liberdade, passou a ser provocada pelos torcedores da Flor Matizada por cheirar a peixe, o pitiú.
Isso porque os primeiros moradores do bairro guerreirense eram pescadores, peixeiros e trabalhadores da feira da liberdade.
Porém, o termo, criado para ser pejorativo, foi então adotado pela agremiação como um termo positivo.
Os guerreirenses em suas falas, cirandadas e hash tags, então passaram a dizer “eu tenho orgulho de ser pitiú”.
Leia mais
O que está em jogo?
De outro modo, a ciranda do Bairro Terra Preta, reivindica para si o título de a mais tradicional, como está posto em seu nome.
As demais, a acusam de ser monótona, justamente, por conservar aspectos tradicionais.
A rivalidade entre as cirandas revela as tensões sociais próprias da cidade. Assim como a tensão entre o tradicional e o novo no festival.
Foto: Márcio James/Secom