COP30 e os 10 anos do Acordo de Paris
Anรกlise da COP30 em 2025, que coincide com os 10 anos do Acordo de Paris, destacando desafios e avanรงos na reduรงรฃo das emissรตes de gases de efeito estufa.

Diamantino Junior
Publicado em: 03/01/2024 ร s 11:03 | Atualizado em: 03/01/2024 ร s 11:03
Por Marcellus Campelo*
A 30ยช Conferรชncia das Partes (COP30), que serรก realizada no Brasil, em 2025, marcarรก os 10 anos do Acordo de Paris. Por isso mesmo, deverรก ser um evento carregado de simbolismo e de reflexรฃo sobre o que precisa ser feito, os caminhos a serem percorridos para que os paรญses signatรกrios da Organizaรงรฃo das Naรงรตes Unidas (ONU) cumpram o que assumiram como metas para a reduรงรฃo da emissรฃo de gases de efeito estufa.
O Acordo de Paris รฉ um compromisso mundial, que tem como principal objetivo manter o aumento da temperatura do planeta em 1,5 ยบC, em comparaรงรฃo aos nรญveis prรฉ-industriais. Para isso, serรก preciso reduzir as emissรตes de gases, uma recomendaรงรฃo que os paรญses desenvolvidos, em especial, relutam em adotar. A cada COP realizada, a sensaรงรฃo รฉ de que os avanรงos nesse sentido sรฃo ainda muito tรญmidos e aquรฉm do necessรกrio.
Foi assim, por exemplo, na COP28, realizada em dezembro de 2023, em Dubai. A questรฃo dominou a pauta, mais uma vez, com a intensificaรงรฃo sem freio do uso de combustรญveis fรณsseis como matriz energรฉtica no mundo, um dos principais causadores do efeito estufa, pela liberaรงรฃo, na atmosfera, de diรณxido de carbono (CO2) e outros gases nocivos. Quase 80% das emissรตes de gases de efeito estufa sรฃo provocadas pelo petrรณleo, gรกs e carvรฃo.
A conclusรฃo do primeiro balanรงo global sobre o Acordo de Paris, apresentado em Dubai, avaliando a resposta global ร mudanรงa do clima, reconheceu a gravidade e urgรชncia na adoรงรฃo de medidas. O balanรงo global apontou avanรงos desde o Acordo de Paris, porรฉm, nรฃo suficientes.
Como saldo positivo do evento, ficou o apelo histรณrico em documento assinado por representantes de quase 200 paรญses, a favor de uma transiรงรฃo energรฉtica, que permita abandonar progressivamente o uso dos combustรญveis fรณsseis, considerando ser esta uma dรฉcada crucial para que algo seja feito ainda a tempo de salvar o planeta dos efeitos extremos.
O texto, aprovado depois de muitas negociaรงรตes, propรตe que os paรญses tripliquem a capacidade energรฉtica renovรกvel e que reduzam substancialmente as emissรตes globais de outros gases de efeito estufa (GEE), em particular o metano, atรฉ 2030, como acertado no Acordo de Paris. Um tremendo desafio, que serรก cobrado na COP29, ano que vem, em Baku, no Azerbaijรฃo, e na COP30, em Belรฉm, no Brasil.
Esta foi a primeira vez que o documento final de uma COP faz menรงรฃo clara ร eliminaรงรฃo progressiva do uso de combustรญveis fรณsseis, assunto que รฉ sempre tabu no evento. Vamos ver se, ao assumir a questรฃo como problema central, os avanรงos virรฃo. Afinal, nรฃo hรก como limitar o aquecimento global ao nรญvel indicado no Acordo de Paris, firmado hรก 10 anos, sem medidas efetivas para a eliminaรงรฃo gradual dos combustรญveis fรณsseis.
O Acordo foi assinado em 12 de dezembro de 2015, inclusive pelo nosso paรญs, e entrou em vigor em 4 de novembro de 2016. Nele, o Brasil comprometeu-se a reduzir em 37%, atรฉ 2025, suas emissรตes de gases de efeito estufa (comparado aos nรญveis emitidos em 2005), estendendo essa meta para 43% atรฉ 2030.
As principais metas do governo brasileiro sรฃo: aumentar o uso de fontes alternativas de energia; aumentar a participaรงรฃo de bioenergias sustentรกveis na matriz energรฉtica brasileira; utilizar tecnologias limpas nas indรบstrias; melhorar a infraestrutura dos transportes; diminuir o desmatamento; restaurar e reflorestar atรฉ 12 milhรตes de hectares.
O balanรงo dos avanรงos alcanรงados, com relaรงรฃo ร s metas estabelecidas, deverรก ser apresentado na COP30, nรฃo somente pelo anfitriรฃo, o Brasil, mas tambรฉm pelos demais paรญses-membros da ONU.
ร importante ressaltar que, se quisermos realmente avanรงar nas metas firmadas, os paรญses desenvolvidos precisarรฃo tomar a dianteira e se dispor a apoiar, dar suporte financeiro aos que se encontram em desenvolvimento e aos mais pobres.
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Na COP28 os paรญses desenvolvidos prometeram milhรตes de dรณlares ao recรฉm-criado Fundo de Perdas e Danos, para apoio aos paรญses em desenvolvimento vulnerรกveis; mais 3,5 bilhรตes de dรณlares para repor os recursos do Fundo Verde para o Clima; 150 milhรตes de dรณlares para o Fundo dos Paรญses Menos Desenvolvidos e o Fundo Especial para Mudanรงas Climรกticas; aumento anual de 9 bilhรตes de dรณlares por parte do Banco Mundial para financiar projetos relacionados com o clima, de 2024 a 2025.
Nรฃo deixa de ser um bom comeรงo. Mas รฉ preciso refletir sobre o que frisou, no encerramento do evento, o secretรกrio executivo da Convenรงรฃo-Quadro das Naรงรตes Unidas sobre Mudanรงas Climรกticas (Unfccc), Simon Stiell. Ele disse que os anรบncios em Dubai se configuram em โuma tรกbua de salvaรงรฃo, nรฃo uma linha de chegadaโ. E concluiu dizendo que o progresso nรฃo รฉ suficientemente rรกpido, mas estรก inegavelmente ganhando ritmo.
*O autor รฉ engenheiro civil, especialista em saneamento bรกsico; exerce, atualmente, o cargo de secretรกrio de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitanoย doย Amazonas.
Foto: Tiago Corrรชa/divulgaรงรฃo