No âmbito da teologia cristã, destruir a natureza é um pecado. Afirmo isso com base na doutrina bíblica da mordomia, segundo a qual homens e mulheres são corresponsáveis pela administração da criação.
Conforme o WordPress, mordomia vem da palavra grega oikonomia , ou seja, “um conjunto de preceitos que regem, ou devem reger, a atividade do ‘senhor da casa’ na obtenção dos recursos necessários à vida da família”. Portanto, mordomia está relacionada à gestão do lar.
Esta doutrina é amparada em passagens bíblicas que revelam a soberania de Deus diante do universo. Noutras palavras, Ele é o criador e dono de todas as coisas. Em Salmos 24:1 está escrito: “do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele vivem.”
O texto revela que nada pertence ao ser humano, mas, sim, a Deus. Ou seja, o ser humano é apenas o mordomo – alguém responsável por cuidar daquilo que lhe foi confiado. Nesse sentido, no que tange ao cuidado com a natureza o ser humano possui enorme responsabilidade.
O livro de Gênesis 2:15 registra que Adão e Eva receberam uma ordem, qual seja: eles deveriam “lavrar e guardar” o jardim. Eles estavam credenciados e habilitados a usar os recursos naturais que demandavam a sua sobrevivência, porém teria que ser de maneira responsável. Por que esse ordenamento? Para assegurar que os recursos naturais estivessem sempre disponíveis para eles e para as próximas gerações.
Sustentabilidade
A doutrina bíblica de mordomia se alinha profundamente com o conceito moderno de sustentabilidade. Na prática, isso significa que devemos utilizar os recursos naturais – como a água, o solo, as florestas, enfim, explorar a biodiversidade como um todo – mas respeitando seus ciclos e limites.
A Bíblia, em diversas passagens, condena o desperdício e o consumo irresponsável. Ela chama o cristão a viver com moderação e respeito à criação. O livro de Levítico, capítulo 25:4, traz a seguinte redação: “porém ao sétimo ano haverá sábado de descanso para a terra, um sábado ao Senhor; não semearás o teu campo nem podarás a tua vinha”.
O princípio do ano sabático nada mais é do que o conhecido pousio , um descanso para a terra. Esse princípio está alinhado com a ciência do solo e reflete a importância de permitir que os recursos naturais se renovem. Aplicado aos dias de hoje trata-se da exigência ou a busca por uma prática agrícola que respeita o tempo da natureza. Isso certamente minimiza o impacto ambiental da exploração do solo.
Conclusão
Concluo afirmando que o tema da mordomia não é apenas uma doutrina, mas um ethos . Ao menos deveria ser, pelo que está expressamente registrado nos textos sagrados. Trata-se da administração dos bens materiais que inclui o cuidado e o respeito pela natureza, não como uma deidade, mas como o tesouro de um Senhor extremamente poderoso que delegou a gerência dessa riqueza ao ser humano.
Nesse sentido, em um mundo que enfrenta grave crise ambiental, ética e moral, a cosmovisão cristã e sua doutrina da mordomia oferece uma base teórica que pode fomentar uma prática de preservação ambiental. Ou seja, a oikonomia /mordomia é uma forma de agradar a Deus por meio de ações que protejam a natureza.
Ninguém pode destruir a natureza, criação de Deus. Nesse âmbito, os cristãos são inescusáveis, pois têm isso por escrito em seu livro de fé e prática. Eles também são alertados de que a criação/natureza “juntamente geme e está com dores de parto até agora” (Rm 8:22). Portanto, há um mandato. No âmbito da teologia cristã, destruir a natureza é ofender a Deus. É um pecado.
* O autor é sociólogo.
Arte: Gilmal