Direitos humanos e a desumanidade das pedras

Convenções incluem o compromisso de seus signatĂ¡rios de defesa dos Direitos da Mulher, das Crianças e Adolescentes, dos Idosos

Por LĂºcio Carril

Publicado em: 10/12/2023 Ă s 16:59 | Atualizado em: 10/12/2023 Ă s 17:05

NĂ£o Ă© de hoje que ouvimos manifestações descontextualizadas sobre os direitos humanos, misturando seus princĂ­pios Ă  defesa de detentos e outros grupos vulnerĂ¡veis.

A DeclaraĂ§Ă£o Universal dos Direitos Humanos foi criada em 10 de dezembro de 1948, motivada pela barbĂ¡rie da segunda guerra mundial, e serviu de base para vĂ¡rias convenções internacionais subscritas por dezenas de paĂ­ses, inclusive o Brasil.

Essas Convenções, diferente da declaraĂ§Ă£o, que serve apenas de orientaĂ§Ă£o, incluem o compromisso de seus signatĂ¡rios de defesa dos Direitos da Mulher, das Crianças e Adolescentes, dos Idosos, contra a tortura e tratamentos cruĂ©is e desumanos.

Quando grupos de direitos humanos atuam na defesa de grupos vulnerĂ¡veis estĂ£o atuando na defesa de Convenções Internacionais das quais o Brasil se comprometeu a seguir e cumprir. Atuar contra a tortura, tratamentos desumanos e/ou em defesa de crianças nĂ£o tira a obrigaĂ§Ă£o do Estado de cumprir sua funĂ§Ă£o protetiva do cidadĂ£o.

Os grupos de direitos humanos atuam onde o Estado Ă© mais frĂ¡gil e tentam garantir que os direitos tenham um alcance a todos seres humanos, inclusive Ă queles que cometem crimes, que devem perder sua liberdade ou cumprir suas sentenças, mas que nĂ£o perdem sua condiĂ§Ă£o humana.

Sei que hĂ¡ muito equĂ­voco nos discursos contra os direitos humanos, mas tambĂ©m reconheço que hĂ¡ por trĂ¡s de muitas manifestações a defesa da barbĂ¡rie, do estado sem lei, do dente por dente, o que certamente contrasta com qualquer direito, inclusive o direito Ă  vida.

O combate aos direitos humanos nĂ£o se justifica senĂ£o pelo seu carĂ¡ter ideolĂ³gico, justamente aquela ideologia que põe o ter acima do ser, que estratifica o ser humano a partir da sua condiĂ§Ă£o social, criando indivĂ­duos por categoria econĂ´mica.

Direitos humanos sĂ£o direitos naturais. Quem os rechaça sĂ£o as pedras, que por falta de espĂ­rito padecem sob a lua sem ver sua beleza.

Meus seres humanos nĂ£o tĂªm nacionalidade, nem cor, nĂ£o tĂªm gĂªnero; tĂªm histĂ³ria, como toda vida tem, toda raça tem, todo gĂªnero tem.

NĂ£o quero saber se falam outras lĂ­nguas, tĂªm cabelos de outras cores, seus olhos sĂ£o espichados. Pra mim, sĂ£o sĂ³ seres humanos Ă  procura de um abraço, de um prato de comida, de um olhar de bondade qualquer.

Se eles estĂ£o nas esquinas, debaixo dos viadutos, nas favelas e palafitas, foi por falta de humanidade e do roubo dos seus direitos humanos, feito por gente que perdeu sua condiĂ§Ă£o humana.

Meus seres humanos nĂ£o vivem Ă s custas da fome e do suor do outro.

Meus seres humanos tem sangue, olhar terno e muitas vezes sĂ³ querem um abraço bem forte, com amor no coraĂ§Ă£o.

DĂ³i muito o abandono. Mas sĂ³ dĂ³i em quem ainda Ă© um ser humano.

O autor Ă© sociĂ³logo.

Foto: Rovena Rosa/AgĂªncia Brasil