É preciso amar para transformar o mundo
Para Carril, a sociedade do futuro nasce onde razĂ£o e emoĂ§Ă£o deixam de ser inimigas

Por LĂºcio Carril
Publicado em: 01/08/2025 Ă s 08:48 | Atualizado em: 01/08/2025 Ă s 08:48
NĂ£o Ă© incomum o debate que envolve a reflexĂ£o sobre a existĂªncia da emoĂ§Ă£o em processos reivindicados pelo pensamento racional. A complexidade do pensamento exige essa discussĂ£o.
NĂ£o Ă© mais possĂvel criar uma dicotomia como se fosse um conflito entre o bem e o mal.
Na verdade, essa fragmentaĂ§Ă£o razĂ£o/emoĂ§Ă£o tem seu Ă¡pice na modernidade, com a ciĂªncia querendo o tĂtulo de domĂnio de uma suposta racionalidade instrumental e objetiva.
O pensamento que dominaria a verdade e a colocaria a serviço do desenvolvimento humano foi instrumentalizado para gerar e justificar a dominaĂ§Ă£o de novos impĂ©rios e nova classe social.
O que era pra libertar, oprimiu dolosamente.
A razĂ£o da era moderna foi logo abrindo os braços para uma guerra mundial e para a criaĂ§Ă£o de potĂªncias imperialistas dispostas a tudo para ampliar seu alcance.
O mundo ocidental fez da nova verdade a sua religiĂ£o e a ciĂªncia passou a se proteger no alpendre da igreja comteana.
Ora, com uma razĂ£o instrumental que apenas mudou de sujeitos Ă© inexorĂ¡vel trazer Ă tona o justo desejo da paixĂ£o e de todas emoções capazes de iluminar o ser. A fragmentaĂ§Ă£o razĂ£o/emoĂ§Ă£o nĂ£o se justifica sem causar constrangimento.
Precisamos desafiar as velhas formas de pensar e abrir espaço para a construĂ§Ă£o de outros diĂ¡logos, capazes de criar novas expectativas de vida.
A emoĂ§Ă£o nĂ£o pode ficar sob o manto da irracionalidade, se a razĂ£o foi incapaz de recriar o ser humano.
É preciso tratar a paixĂ£o, o amor, a felicidade, o desejo como partes intrĂnsecas do pensamento moderno e de uma nova cosmovisĂ£o.
A sociologia jĂ¡ se desprendeu desse caminho pedregoso da razĂ£o pura e mergulhou no estudo da estĂ©tica, nĂ£o sĂ³ como princĂpio da arte, mas fundamentalmente em referĂªncias Ă s emoções.
NĂ£o Ă© possĂvel estudar a sociedade sem considerar os indivĂduos e suas construções como seres sensĂveis.
A sociedade Ă© construĂda da razĂ£o e da emoĂ§Ă£o. Ainda bem. Imagina um mundo somente da razĂ£o. NĂ£o serĂamos gente, mas mĂ¡quina, tal qual tenta nos fazer o capitalismo.
Para transformar o mundo, é preciso potencializar todas as emoções potencialmente transformadoras do ser.
O autor Ă© sociĂ³logo.
Foto: Paulo Pinto/AgĂªncia Brasil