Lula oficializa candidatura muito longe dos partidos do centro

A coligação que será apresentada em evento na Expo Center Norte, em São Paulo, terá sete partidos: PT, PSB, PCdoB, PSOL, Rede, PV e Solidariedade

Publicado em: 07/05/2022 às 09:55 | Atualizado em: 07/05/2022 às 09:57

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por ora o principal favorito para a eleição presidencial de outubro deste ano, lança neste sábado (07), oficialmente a coalizão que irá sustentar a sua candidatura com sete partidos, mas ao menos um grande problema: a frente está muito inclinada à esquerda, sem nenhuma aliança significativa com o centro político, de quem o petista gostaria de se aproximar.

A coligação que será apresentada em evento na Expo Center Norte, em São Paulo, terá sete partidos: PT, PSB, PCdoB, PSOL, Rede, PV e Solidariedade.

Destes, só ó último pode ser considerado uma sigla de centro – liderada pelo sindicalista e deputado Paulinho da Força (SP), ela apoiou formalmente as candidaturas dos tucanos Aécio Neves, em 2014, e Alckmin, em 2018.

Na atual gestão, chegou a ser considerado um dos partidos do centrão, o bloco que sustenta a administração Jair Bolsonaro (PL) no Congresso, mas se afastou do governo ao longo do mandato.

O grande trunfo de Lula, por ora, nessa tentativa de acenar ao centro é o seu candidato a vice, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, que hoje está no PSB, mas que foi fundador e um dos principais nomes do PSDB por mais de trinta anos.

O ex-tucano, no entanto, nem irá ao evento porque contraiu Covid-19 e participará por meio de vídeo.

Lula tem dito insistentemente que, não só para ganhar a eleição, mas principalmente para governar, caso seja eleito, precisará de um leque de alianças muito além do campo da esquerda – e até vem se empenhando para isso em conversas com vários líderes de partidos.

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Até agora, no entanto, o ex-presidente conta apenas com acenos –importantes, mas isolados – em siglas como o MDB (onde tem o apoio de nomes como o senador Renan Calheiros, o ex-senador Eunicio Oliveira e o governador do Pará, Hélder Barbalho) e o PSD (onde estão ao seu lado os senadores Omar Aziz e Otto Alencar).

Renan, como mostrou em entrevista ao programa Amarelas ao Vivo, está empenhadíssimo em tentar convencer o seu partido a desistir da candidatura da senadora Simone Tebet para embarcar formalmente na coalizão de Lula ainda no primeiro turno.

Da mesma forma, ele tenta convencer Gilberto Kassab, presidente do PSD — que não conseguiu lançar um candidato próprio como queria — a também entrar na frente que irá apoiar Lula, no que conta com o apoio de Omar Aziz e Otto Alencar.

Lula também tenta uma aproximação com o partido via ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, a quem o petista deverá apoiar na disputa para o governo de Minas Gerais.

O problema para Lula é que nesses dois partidos há inclusive gente que apoia o seu rival Bolsonaro, como o governador do Paraná, Ratinho Jr (PSD).

O ex-presidente Michel Temer, que foi procurado por Renan na quarta-feira (04), defende que o MDB tenha candidatura própria e torce o nariz para as propostas de Lula de acabar com iniciativas de seu governo, como a reforma trabalhista e o teto de gastos.

Esquerda

Em relação à esquerda, Lula tem uma boa e uma má notícia. A boa é que ele conseguiu incluir formalmente na sua aliança os principais partidos de esquerda, algo que não é tão comum numa eleição presidencial. O PSOL e a Rede nunca apoiaram uma candidatura do PT; o PV, só uma vez, em 1994, com o próprio Lula.

A má notícia é que há dissidências entre as siglas de esquerda que estarão ao seu lado formalmente, como as das ex-senadoras Marina Silva e Heloísa Helena na Rede, do ex-presidenciável Eduardo Jorge no PV e do deputado federal Glauber Braga no PSOL – leia matéria completa.

O tamanho da chiadeira em algumas legendas de esquerda em razão da adesão a Lula pode ser medida pelo resultado da votação da Conferência Eleitoral do PSOL, há uma semana, que aprovou o apoio ao petista: foram 35 votos a favor da coligação e 25 contrários.

Na Rede, a aliança com o PT foi aprovada por uma articulação liderada pelo senador Randolfe Rodrigues (AP), mas com uma vírgula: não será punido qualquer filiado que apoiar outro presidenciável, uma porta aberta para Marina Silva e Heloísa Helena — que já mostrou simpatia por Ciro Gomes (PDT).

No PSB, maior partido da frente depois do PT, também há gente pouco empolgada para apoiar Lula, como a deputada federal Tabata Amaral (já declarou que entre Ciro e Lula no segundo turno, votaria em Ciro), e situações sensíveis em estados como São Paulo — onde Márcio França (PSB) disputará o governo contra Fernando Haddad (PT) –, Rio Grande do Sul — onde Edegar Pretto (PT) terá como adversário Beto Albuquerque (PSB) na eleição estadual — e no Rio de Janeiro, onde Alessandro Molon (PSB) e André Ceciliano (PT) se estranham para ver quem fica com a vaga ao Senado na chapa de Marcelo Freixo (PSB).

Na frente

De qualquer forma, Lula sai na frente, com a maior coligação anunciada até agora e liderando as pesquisas eleitorais com percentuais de intenções de voto de cerca de 40%. Bolsonaro, que tem em torno de 30%, já tem garantidos ao seu lado os três partidos do Centrão – PP, PL e Republicanos — mais o PTB, mas esse arco ainda pode ser ampliado.

Na terceira via, que tenta se consolidar como alternativa a ambos, o número de siglas é cada vez menor. Após a desistência do União Brasil, que lançou o deputado federal Luciano Bivar (PE) à Presidência, restam apenas PSDB, MDB e Cidadania na articulação para construir uma candidatura unificada, que hoje está entre Tebet e o ex-governador paulista João Doria (PSDB).

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