“Maldição” da PMM ataca ex-prefeitos nas eleições de 2022
Anedota política local diz que quem vira prefeito de Manaus acaba sofrendo consequências nefastas ao longo da carreira ou ao final dela

Antônio Paulo, do BNC Amazonas
Publicado em: 09/10/2022 às 06:06 | Atualizado em: 09/10/2022 às 06:07
A anedota ou mito político da “maldição da Prefeitura de Manaus” voltou a rondar as eleições de 2022.
Diz-se que quem vira prefeito da capital amazonense acaba sofrendo consequências nefastas ao longo da carreira ou ao final dela.
E parece que a máxima do anedotário político local entrou em cena e virou realidade.
Isso porque todos os quatro prefeitos de Manaus, dos últimos 26 anos, não foram eleitos ou reeleitos e, ao que parece caminham para o fim da carreira política.
O primeiro caso é o do ex-prefeito Alfredo Nascimento (PL), que governou a cidade de Manaus entre 1996 e 2004.
Embora tenha passado por cargos importantes após a gestão da capital amazonense, como ministro dos transportes dos dois governos do presidente Lula (2003-2010), senador e deputado federal, Alfredo só vem amargando derrotas.
Após deixar a Esplanada dos Ministérios e o Congresso Nacional, Nascimento tentou voltar ao Senado em 2018 e à Prefeitura de Manaus em 2020.
Em ambos os casos não conseguiu se eleger. Há dois anos, obteve apenas 31.676 votos para o cargo de prefeito.
Nas eleições de 2022, Alfredo Nascimento tentou uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PL, partido do presidente Bolsonaro.
O ex-prefeito de Manaus conseguiu 46.760 votos, ficando na suplência do eleito Capitão Alberto Neto (PL), o segundo mais votado da bancada.
Personalidades políticas
Em um das derrotas de Alfredo Nascimento, o sociólogo Marcelo Seráfico analisou o caso da seguinte forma:
“Com o crescimento dos partidos e candidatos de direita e centro-direita pode ser a causa de velhos nomes perderem seu eleitorado. Não necessariamente por serem antigos, mas pelo surgimento de novas personalidades políticas”.
Mandato único
Depois de passar pela Câmara Municipal de Manaus, Serafim Corrêa, do PSB, chegou à Prefeitura de Manaus em 2004 e por lá ficou até 2008.
No entanto, só conseguiu um mandato na “prefeitura maldita”.
Com uma gestão voltada para o controle fiscal, administrativo e financeiro da PMM, comenta-se à boca pequena que a gestão do socialista teria sido boicotada.
Serafim também foi o prefeito das obras de infraestrutura viária, do transporte coletivo, da água e do saneamento de Manaus.
Mas, o boicote, do começo ao fim da administração, teria sido articulado pelo então governador Eduardo Braga (MDB).
Por conta da péssima avaliação administrativa, advinda das ações de boicote, Serafim tenta a reeleição em 2008, mas perde o comando da prefeitura para Amazonino Mendes (Cidadania).
Assembleia Legislativa
Nos anos seguintes, em 2014 e 2018, Serafim Correa foi eleito deputado estadual e por dois mandatos ficou na Assembleia Legislativa.
Porém, no pleito de 2022, o excelente deputado estadual sequer conseguiu ficar em suplência.
O motivo foi porque o PSB não conseguiu fazer o quociente eleitoral. Embora tenha tido uma boa votação – 25.565 votos – Serafim Corrêa perdeu o mandato.
Aos 75 anos, o grande “Sarafa” pode ter encerrado a carreira política.
Reaposentadoria do Negão
Com uma vida e carreira política longevas, o ex-governador do Amazonas, por quatro vezes, e prefeito de Manaus por três vezes, Amazonino Mendes também pode ter sido atingido pela “maldição da PMM”.
No pleito de 2022, abatido pela idade avançada (82 anos) e problemas de saúde, o “Negão”, como gosta de ser chamado, decepcionou nas urnas.
Tentando ser governador pela 5ª vez, algo inédito na história política do Amazonas e do Brasil, Amazonino sequer chegou ao segundo turno.
Liderou as pesquisas de intenção de voto desde a pré-campanha eleitoral, mas foi ultrapassado pelo governador Wilson Lima (União Brasil) e, nos últimos instantes da votação de domingo, 2 de outubro, cedeu a posição para o senador Eduardo Braga (MDB).
Na apuração das urnas, o ex-governador e ex-prefeito de Manaus acabou em terceiro lugar, com 18,53% dos votos (355.377).
Voos e aterrissagens
O quarto ex-prefeito de Manaus atingido pela suposta “maldição” foi Arthur Virgílio Neto (PSDB).
Nas idas e vindas gloriosas e respeitadas pelo Congresso Nacional e Esplanada dos Ministérios – deputado federal, senador e ministro de FHC – o tucano passou pela Prefeitura de Manaus (PMM) três vezes.
Depois de ter estreado na política no MDB histórico, foi eleito prefeito de Manaus, em 1988, pelo PSB, derrotando o ex-governador Gilberto Mestrinho.
Tentou, sem sucesso, chegar ao Governo do Amazonas duas vezes durante a carreira: em 1986 e 2006.
Depois de 24 anos, Arthur Virgílio Neto retorna à PMM. Eleito prefeito de Manaus em 2012, obteve o segundo mandato em 2016 onde permaneceu até 2020.
Crimes e omissões
Os críticos de Arthur analisam a derrocada do ex-prefeito a partir de alguns fatores:
Afirmam que ele não foi engolido apenas pelo “Caso Flávio”, mas, também, foi omisso durante a pandemia e fechou as UBS quando mais a cidade precisava.
Ele também não reabriu o hospital de campanha da Zona Norte, bancado pela Samel e Transire. Além disso, nas redes sociais, foi criticar o decreto do governador Wilson Lima sobre a restrição de circulação, incitando à população aos protestos.
“Enfim, fez uma administração pífia e não deixou nenhum legado para a cidade de Manaus”, dizem os adversários e críticos do tucano
Talvez, por esses e outros atos omissos nas duas gestões, é que Arthur Neto também tenha sido “engolido” nas eleições de 2022.
Após o resultado das urnas, o ex-prefeito de Manaus, que tentou voltar ao Senado, amargou um terceiro lugar com 179.886 votos (9,50%). E, assim, pode ter sido esse seu último ato na história das eleições no Amazonas.
Fim da “maldição”?
Até agora, a “maldição” que recai por quem passa pela Prefeitura de Manaus, tem sido cumprida.
Mas resta saber se o atual prefeito da capital amazonense vai pôr fim a essa “praga” que dizem rondar da PMM.
O jovem David Almeida (Avante), de 53 anos, três vezes deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa (ALE-AM) e governador interino do Amazonas, em 2017, tem todas as credenciais para superar a tal desgraça.
Com apenas uma derrota, mas para o Governo do Estado, em 2018, Almeida se elegeu prefeito de Manaus, pela primeira vez, em 2020.
E com 51,27% dos votos (466 970 votos) ganhou a disputa contra Amazonino Mendes no segundo turno.
Arte: Gilmal