Movimento indígena considera histórico resultado das urnas, apesar das perdas 

Nas eleições de 2 de outubro, foram eleitos cinco indígenas para a Câmara dos Deputados, incluindo uma apoiadora de Bolsonaro

Antônio Paulo, do BNC Amazonas 

 

Publicado em: 10/10/2022 às 19:10 | Atualizado em: 10/10/2022 às 19:10

O movimento indígena brasileiro considera histórico o resultado das eleições de 2022, quando foram eleitos cinco representantes para a Câmara dos Deputados

Entre eles, Sônia Guajajara, que foi eleita pelo Psol de São Paulo e recebeu 156.966 votos.  

Outra candidatura vitoriosa, comemorada pela comunidade indígena, foi a da professora Célia Xakriabá, eleita pelo Psol de Minas Gerais, com 101.154 dos votos.   

Xakriabá fez parte da primeira turma de Educação Indígena da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 2013. 

Também foram eleitos os indígenas Paulo Guedes (PT-MG) e Juliana Cardoso (PT-SP). 

Além dos quatro indígenas de esquerda, também conseguiu vaga na Câmara Silivia Waiãpi (PL-AP).  

Dessa forma, por ser apoiadora e do mesmo partido de Bolsonaro, a nova deputada não é citada em nenhuma análise dos dirigentes do movimento indígena. 

Waiãpi está sendo chamada o “patinho feio” da causa indígena. 

Isso porque as organizações e dirigentes desses povos têm feito críticas duras ao governo de Jair Bolsonaro. 

Novo momento 

Para a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a eleição das candidaturas indígenas à Câmara dos Deputados marca um novo momento da política nacional. 

“Representa maior representatividade de povos tradicionais e possibilidade de estabelecimento de novos marcos para a cultura de formulação das políticas que ditam os rumos do país”, afirma o coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Kleber Karipuna. 

Na avaliação da entidade, o saldo representa um crescimento de 100% em relação à última eleição proporcional, em 2018, quando a deputada federal Joênia Wapichana se tornou a primeira mulher indígena eleita ao Congresso Nacional. 

No entanto, Wapichana não conseguiu a reeleição em 2 de outubro. Assim como o médico Israel Tuyuka, no Amazonas, teve pequena votação, 

Candidato ao Governo do Estado, Tuyuka ficou em 6º lugar, com apenas 21.229 votos (1,11%). 

Deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR) não conseguiu a reeleição. Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados 

Perda no Norte 

“Com certeza a não reeleição de Joênia Wapichana foi uma perda para a região Norte, pois, a deputada, vinha fazendo um trabalho importante no Congresso Nacional.  

Ela vinha lutando pela visibilidade das violações de direitos sofridos pelos povos indígenas 

Assim como pela defesa de seus direitos, principalmente no estado de Roraima, onde vemos crescer significativamente o garimpo e violências contra os indígenas”, disse a coordenadora do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), na região Norte, Jussara Góes. 

A coordenadora do Cimi Norte, acredita que com esse aumento o movimento indígena ganhará força e visibilidade.  

Desse modo, a causa indígena ganhará ainda mais espaço e participação nas discussões sobre medidas legislativas que coloquem em risco os direitos destes povos. 

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Candidatos conservadores 

Apesar de não citar a deputada eleita Sílvia Waiãpi, do PL do Amapá, a dirigente do Cimi diz que, além do aumento de indígenas no Congresso, também houve um crescimento no número de candidatos conservadores e de extrema direita. 

“Com isso, haverá mais investidas contra a vida e os territórios dos povos indígenas.  

E, para enfrentar esse cenário, é importante fortalecer a pauta indígena para além do movimento indígena e alcançar espaços dentro dos demais movimentos sociais”, ressaltou Jussara Goés.  

Avanço das mulheres 

De acordo a direção da Apib, o número de mulheres candidatas indígenas, nas eleições 2022, foi o responsável pelo crescimento de postulantes a um cargo eletivo desde 2014. 

E com isso, a participação delas registrou um aumento de 189%, passando de 29 para 84 candidaturas.  

O crescimento dos candidatos homens nesse período foi de 78,5%. 

“A eleição de candidatos indígenas, movimento denominado “Aldear a Política”, é uma mobilização para garantir um projeto de vida, voltado à biodiversidade e à defesa dos direitos humanos”, afirma Kleber Karipuna. 

Com informações da Apib 

Foto: Jornalistas Livres