Aos 46 anos de idade, o jornalista Wilson Miranda Lima (União Brasil) foi reeleito neste domingo, 30 de outubro, governador do Amazonas.
Às 18h15, com 95,45% dos votos computados e matematicamente reeleito, Wilson computava 1.002.064 votos contra 760.372 votos de Eduardo Braga (MDB).
Até esse momento da apuração, Wilson tinha 56,86% e Braga, 43,14%.
A notícia da reeleição de Wilson poderia ser tratada apenas na objetividade dos fatos imediatos.
Contudo, a meteórica ascensão do governador ao topo do poder, no Amazonas, possui elementos para considerá-lo um fenômeno na história política do Estado.
Wilson não era do clube que governava o Amazonas por mais de 30 anos.
Chegou a Manaus, vindo de Santarém (PA), para fazer o caminho que muito dos seus conterrâneos fizeram. E curiosamente iniciou o percurso em 2006, auge do poder de Braga.
Para começar, o governador derrotou todos seus antecessores que tentaram voltar ao cargo: Amazonino Mendes, Omar Aziz e David Almeida, em 2018. Em 2022, foi a vez de Eduardo Braga (MDB).
Os dois principais embates foram com Amazonino em 2018 e 2022 e com Braga, em 2022. Os dois caciques com mais de 30 anos de poder foram derrotados em dois turnos.
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2018/2022
A eleição de 2018 revelou Wilson Lima como um fenômeno eleitoral . Ele era o improvável. Nunca havia disputado, sequer, uma eleição, muito menos ocupado algum cargo de gestão pública.
Eleito governador, mal conhecia as lideranças políticas do interior.
Mas, o que aconteceu em 2022, revela que 2018 foi apenas o início do fenômeno que se manifesta por completo este ano.
Pode-se fazer a abordagem por aí, porque, naquela eleição, Wilson surgiu na onda do novo, da mudança. E assim foi eleito, como a novidade e contra a velha política.
Para a eleição 2022, Wilson precisou conviver com todas as nuances de uma candidatura e com o desgaste do mandato.
Nos últimos quatro anos, o governador enfrentou todas as adversidades possíveis e a irresignação do derrotado status quo , nascido no Amazonas com Gilberto Mestrinho em 1982.
Nos dois primeiros anos de seu governo, enfrentou um Legislativo hostil, uma oposição raivosa e dois processos de impeachment.
Para formar a tempestade perfeita, Wilson encarou uma crise sanitária sem precedentes no mundo: a pandemia da covid-19.
Também enfrentou um vice que se afastou do governo, atirando e ainda passou por operações policiais e processo no STJ.
Nas cinzas
Passados os dois primeiros anos de crise, nos quais Wilson Lima foi reduzido às cinzas, agora, delas renasce como fénix.
No início de 2021, a popularidade de Wilson havia atingido o polo contrário da aceitação popular que possuía quando apresentava o Alô Amazonas.
Seu governo, atingia níveis críticos de aprovação. Nove em cada dez amazonenses o reprovavam como governador.
Pesquisas de intenção de votos do período, feitas para consumo interno, mostravam que, se houvesse eleição, ele poderia não receber 5% da preferência.
Reviravolta
Com seu vice fora, Wilson assumiu plenamente o governo, que tentou dividir com Carlos Almeida.
Assim, apaziguou a relação com o Legislativo. Mais que isso: a maioria dos 24 deputados, que não conseguia amealhar, transformou-se em maioria qualificada.
Foco
Disciplinado, Wilson focou no governo, reduzindo sua agenda de gabinete e aumentando sua presença nas ruas, principalmente no interior.
Política
Além disso, politicamente, fez o dever de casa, aquilo que seus adversários quando estavam no poder sempre fizeram: fortaleceu seu arco de alianças e deixou minguado o espaço político para seus adversários.
Amazonino Mendes, por exemplo, quase fica sem partido. Braga não conseguiu nem formar chapa forte de deputado federal.
Hoje, o resultado das urnas mostra que o pouco tempo de poder lhe amadureceu, sem, contudo, lhe tirar a simplicidade e a humildade que lhe garantiram o retorno ao cargo.
Fotos: Alex Pazuello e Diego Peres