PT é o ‘patinho feio’ da eleição a prefeito de Manaus

Partido que já governou o país por cinco vezes, agora amarga alta rejeição no Amazonas.

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 16/10/2024 às 13:47 | Atualizado em: 16/10/2024 às 13:59

O resultado do primeiro turno das eleições em Manaus trouxe uma revelação trágica a um dos partidos que já foi ícone a partir dos anos 80: o PT e a esquerda foram rejeitados por quase todo mundo.

Embora o Amazonas e sua capital nunca tenham elegido um governador ou prefeito petista ou da esquerda, isso é verdade.

Por outro lado, sempre levou bons nomes à Câmara Municipal de Manaus, Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados.

A exemplo: Vanessa Grazziotin, Francisco Praciano, José Ricardo, João Pedro, Eron Bezerra, Sinésio Campos e outros.

No entanto, nestas eleições, o candidato Marcelo Ramos, que veio sob encomenda do PT nacional e com as bênçãos do presidente Lula da Silva e de caciques políticos do Amazonas, teve uma votação constrangedora.

Ramos ficou em quinto lugar na disputa com outros seis candidatos, obtendo 66.528 votos.

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Já a coligação de esquerda, formada por nada menos que sete partidos – PT, PCdoB, PV, Psol, Rede, Solidariedade e PDT – conquistou apenas duas cadeiras na câmara de vereadores.

Foram eleitos José Ricardo (PT), com 17.395 votos, e Jaildo Oliveira (PV), 8.411 votos.

O vereador Marcelo Serafim (PSB) foi reeleito, com 6.646 votos. O socialista bem que poderia engrossar a bancada de esquerda, mas o PSB se aliou ao candidato de centro-direita Roberto Cidade, do União Brasil.

Outros dois nomes da coligação de esquerda também foram rejeitados nas urnas: a indígena Vanda Witoto (Rede) e o atual vereador Sassá da Construção (PT), que não foi reeleito.

Eles até tiveram boa votação. Witoto obteve 8.374 votos e Sassá, 6.646. No entanto, não alcançaram o consciente partidário.

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Agora, no segundo turno, o PT e outros de esquerda estão com um discurso de ficar “em cima do muro”.

Tanto o candidato Marcelo Ramos quanto seu vice Luiz Castro (PDT) fizeram manifestações nesta segunda-feira (14), “liberando” seus eleitores e militantes a votar em quem desejar – David Almeida (Avante) ou Alberto Neto (PL).

Ramos, portanto, disse que não vai apoiar nem o candidato à reeleição, David Almeida, nem seu adversário, o bolsonarista Alberto Neto.

Já o PDT, de Castro, emitiu nota dizendo o seguinte:

“Diante do fato de que as duas candidaturas que concorrem à prefeitura de Manaus representam um campo ideológico e programático frontalmente diversos do que o Partido Democrático Trabalhista (PDT) defende em seus postulados fundamentais, decidimos encaminhar posicionamento de neutralidade no segundo turno das eleições”.

E continua:

“Com isso, respeitamos o posicionamento individual dos filiados e militantes que possuem a liberdade de definir o que entendam ser a melhor ou a menos prejudicial opção de voto em função dos interesses coletivos da população manauara”, finaliza a nota do PDT.

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De outro modo, as cúpulas nacional, estadual e municipal do PT se calaram em relação ao apoio no segundo turno das eleições em Manaus.

O próprio PT estadual não apoiou totalmente o candidato da casa.

Um dos principais quadros petistas, por exemplo, o presidente do PT no Amazonas, deputado estadual Sinésio Campos, não caminhou com Ramos.

Em vez disso, segundo fontes petistas, fez campanha às escuras para o candidato do governador, Roberto Cidade (União).

Como resultado, o diretório municipal agora quer sua deposição do posto de presidente do PT estadual.

A verdade é que Almeida nem quer o PT por perto. Nessa terça-feira (15), afirmou querer os votos daqueles que apostaram em Ramos.

No entanto, o prefeito rejeitou a presença do PT e da esquerda em sua campanha porque Lula e o partido estão em baixa, principalmente em Manaus.

O PT é menor e vem ficando menor ainda.

Em Manaus e em uns dois municípios do Amazonas, que são mais voltados para a direita, inclusive na era Bolsonaro, mostraram isso nas urnas.

“Já no interior, muito pelas grandes obras, como o Luz para Todos, que levou energia elétrica aos lugares mais distantes do interior do Amazonas, o apoio do PT já é disputado”, afirmou o professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e presidente da Action Instituto de Pesquisas, Afrânio Soares.

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Ainda de acordo com o professor da Ufam, a mesma Manaus que já elegeu em massa Lula, em 2002, era mais progressista. Agora, é mais conservadora.

Isso porque a capital, segundo ele, está vivendo um momento de maior conservadorismo. Então, acaba reduzindo o espaço para a esquerda e isso se retratou nas urnas, com a votação muito baixa de Ramos.

“Quanto ao futuro, pode-se esperar um atrofiamento maior ainda ou, quem sabe, uma mudança de ares da capital. Mas, eu acho isso muito pouco provável. Penso que Manaus, por um bom tempo, vai manter esse posicionamento mais conservador e mais vinculado à direita”.

Foto: divulgação