A eleição iconoclasta

Aguinaldo Rodrigues
Publicado em: 04/10/2018 às 14:30 | Atualizado em: 04/10/2018 às 14:30
Por Neuton Corrêa, da redação
Paradigmática, a eleição deste ano ficará marcada como um movimento de iconoclastia sobre vários elementos que, até bem pouco tempo, eram determinantes em uma campanha política.
Como uma virada de página ou uma camada de terra que a arqueologia poderá decodificar futuramente, verdades foram sepultadas.
A plataforma usada para divulgação das mensagens dos candidatos suplantou a mídia tradicional, sobretudo a impressa.
A internet, hoje, é o meio mais usado, regular e irregularmente. Não por acaso foram os casos de internet, das redes sociais, que abarrotaram as cortes eleitorais com demandas de propaganda ilegal.
O mito do tempo de TV
O tempo de TV – antes o principal valor dado para composição das coligações, e que ensejavam negociatas, pagadas com êxitos das campanhas em cargos e dinheiro vivo saído dos cofres públicos -, foi ignorado.
O líder da corrida presidencial nesta eleição, por exemplo, tem um dos menores tempo de TV, o que não foi obstáculo para fazer sua mensagem chegar ao eleitor. As redes sociais foram bem exploradas.
No Amazonas, Wilson Lima (PSC), com míseros dez segundos para falar na propaganda de TV, atropelou campanhas que tinham dez vezes mais espaço da sua mídia.
Também não foi a campanha do jurídico, como se viu no Amazonas nas últimas três eleições (2014, 2016 e 2017).
Os advogados pouco tiveram visibilidade. Não foi aquela eleição, pelo menos até aqui, que se viu em 2014, por exemplo, que de tanta ação na Justiça, uma acabou levando à cassação do eleito naquele pleito, o ex-governador José Melo (Pros).
As pesquisas neste primeiro turno, grande parte barrada por ações dos candidatos junto à Justiça Eleitoral, também tiveram de vencer a desconfiança, principalmente de políticos mais conhecidos que desde o primeiro momento, ainda nos primeiros estudos, já eram colocados no campo de rejeição do eleitor.
De outro lado, a maioria das intenções de voto, coletada ainda na fase de pré-campanha, já sinalizava a aspiração do eleitorado pelo “novo” na política. É esperar o domingo para a prova dos nove.
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Cacicados ameaçados
O pleito deste ano também pode significar o fim da linha para muitos nomes tradicionais da política amazonense. Caciques históricos de partidos, se derrotados pela rejeição do eleitor, vão ser obrigados a se reinventar e rever conceitos que já não se sustentam no momento político do país.
Por fim, as eleições 2018 põem em xeque o papel dos marqueteiros, que ainda não conseguiram compreender o novo momento na política.
Da mesma forma, os analistas políticos não se renovaram e o que se vê agora, a poucas horas do primeiro turno, é tudo aquilo que não se previa no início da campanha, há menos de dois meses.
Foto: Reprodução/site Nexo Jornal