Evento convoca manifestação contra “fascismo” e cinco mil perfis apoiam

Publicado em: 25/09/2018 às 05:27 | Atualizado em: 25/09/2018 às 10:54

Por Rosiene Carvalho, da Redação

 

O evento “Mulheres contra o fascismo – Amazonas”, criado há cerca de 15 dias no Facebook e que convoca apoiadores e apoiadoras da hastag #elenão na internet para  se manifestarem nas ruas, tem 5,8 mil perfis que confirmaram presença ou indicam interesse em participar do ato.

A manifestação em Manaus conta com dois eventos criados no Facebook  e congrega  5.100 pessoas em um dos perfis e cerca de 700 no outro.

A convocatória é para as 17h deste sábado, dia 29, no Largo São Sebastião, Centro de Manaus, e põe a capital do Amazonas no mapa de mais de 100 cidades brasileiras e também cidades do exterior que programam o ato.

O evento segue como resultado de um grupo, também criado no Facebook, para reunir mulheres “contra o avanço e fortalecimento do machismo, misoginia e outros tipos de preconceitos representados pelo candidato à presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) e seus eleitores”.

O grupo recebeu mais de 1 milhão de adesões, promoveu massivo debate na internet e provocou o olhar da mídia sobre a repercussão na internet a respeito das polêmicas declarações de Bolsonaro sobre as mulheres, maioria da população do País e do eleitorado brasileiro.

Depois dessa adesão massiva, o grupo foi alvo de ataque e as manifestações misóginas continuaram.

Neste domingo, dia 23, por exemplo, durante a “Marcha da Família” do candidato Bolsonaro, no bairro de Boa Viagem, em Recife, manifestantes entoaram em coro música que afirma que às feministas deve ser dada “ração na tigela” e que as mulheres “de esquerda têm mais pelo que cadela”.

 

Em Manaus

A universitária de Comunicação Social e uma das organizadoras do evento em Manaus Camila Oliveira, 25, declarou que, assim como os demais atos convocados em todo País e no exterior, os interessados e interessadas em participar são pessoas das mais diversas opções de voto para as Eleições 2018, incluindo votos indecisos, mas que não aceitam os posicionamentos do candidato sobre as minorias e em relação às mulheres.

“Não concordamos com os posicionamentos de um candidato à presidência da País que prega a submissão da mulher, que as mulheres devem ganhar menos porque engravidam, que não esteve ao lado das mulheres e votou a favor da reforma trabalhista que colocou mulheres grávidas a trabalhar em locais insalubres, que tem várias declarações contra as mulheres. Ele não nos representa”, afirmou a estudante.

Camila disse que o evento em Manaus está sendo organizado pelo coletivo 8M, um grupo de mulheres  de vários segmentos sociais que resolveu tomar a frente do ato e convocar as apoiadoras e apoiadores da hastag #elenão  para se manifestarem contra os posicionamentos de Bolsonaro.

“O ato surgiu da organização nacional. Mais de 2 milhões de mulheres aderiram a um grupo  no Facebook e desse grupo tirou um grupo só de mulheres do Amazonas. A gente viu que ia ter ato em varias cidades e resolvemos fazer aqui também”, disse.

 

Vários candidatos, #elenão

A organizadora do evento salienta que a manifestação não apoia nenhum candidato específico, em função da diversidade de opinião e voto dos membros do  grupo e do evento. “A mobilização é contra o fascismo e para manifestar o que a gente espera de um governo”, explicou.

A concentração do ato, segundo a organização, será às 16h30. A manifestação política inclui apresentações artísticas do Maracatu Baque Mulher e do Marcatu Pedra Encantada. “Há muitas personalidades da cultura regional aderindo ao movimento também”, disse.

 

“Ato é pacífico” 

A organização afirma que o ato é totalmente pacífico e, para garantir a segurança dos participantes, informou à Polícia Militar do Amazonas (PM-AM) a respeito da manifestação, requisitando patrulhamento.

Outra medida que a organização do evento está tomando é concentrar esforços em convocar para o a manifestação, mas também orientar os manifestantes a evitar qualquer atitude de  animosidade com grupos contrários e atos que representem risco pessoal.

Um panfleto virtual é distribuído em grupos de Whats App e, entre as orientações, há a de de não ir sozinha para o evento e procurar fazer pontos de encontro; evitar levar crianças; pôr blusas do posicionamento político no local do evento; não responder a nenhum tipo de provocação; e, caso alguém provoque tumulto, a orientação é que todas sentem no chão para facilitar a identificação do “infiltrado”.

Manifestação contra Fascismo dá dicas de segurança. Imagem: Divulgação

Sem medo, contra a violência

“Algumas de nós já foi alvo de ataque em redes sociais e é preciso tomar cuidado para que a manifestação seja totalmente pacífica. Queremos dizer que somos contra  de forma pacífica. Não queremos ofender ninguém, só lutar contra todos os retrocessos e o fascismo”, disse Camila.

Nota  divulgada pelo grupo, destaca como o machismo do dia a dia se manifesta nos dados sobre a violência contra a  mulher. Segundo o coletivo 8M, de 2005 a 2015, mais de 830 mulheres foram vítimas de homicídios no Amazonas, o que coloca o  Estado como o quarto maior crescimento desse tipo de registro no País.

Ainda segundo a nota, “quando se confrontam os dados de 2014 e 2015, o Estado salta para o topo do ranking nacional, registrando 80 e 115 assassinatos, respectivamente, com 43,8% de crescimento”.

Violência contra mulher em números

Dados  do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em agosto deste ano pelo  jornal Folha de São Paulo, mostram que o Brasil registra 606 casos de violência doméstica e 164 estupros por dia. Foram mais de 60 mil em 2017.

A estimativa de que menos de 10% dos estupros sejam comunicados à polícia torna o dado ainda mais grave. Significa dizer que o número de casos pode ser de 500 mil por ano.

O total de estupros registrados representa uma taxa de 28,9 estupros a cada 100 mil habitantes em todo País, o que registrou aumento em relação a 2016, com 26,7 casos por 100 mil pessoas.

No Amazonas, esse índice é de 21,3 estupros registrados a cada 100 mil pessoas.

 

Outras cidades

A organização do evento informa que, além de cidades e capitais brasileiras, a manifestação “Mulheres contra o fascismo” também vai às ruas cidades do exterior, como Lisboa, Porto e Coimbra (Portugal), Berlim (Alemanha), Lyon (França), Galway (Irlanda), Barcelona (Espanha), Sidney e Gold Coast (Austrália) e Haia (Holanda), dentre outras.