OcultaĂ§Ă£o Ă© estratĂ©gia para conter rejeiĂ§Ă£o, dizem analistas

Publicado em: 12/09/2018 Ă s 13:42 | Atualizado em: 12/09/2018 Ă s 14:40
Por Rosiene Carvalho, da RedaĂ§Ă£o
O analista polĂtico e presidente do instituto Action Pesquisa de Mercado, AfrĂ¢nio Soares, declarou que o distanciamento dos candidatos ao governo dos candidatos Ă presidĂªncia ocorre em funĂ§Ă£o do temor de abrir mĂ£o de votos em cenĂ¡rio eleitoral local e nacional indefinidos.
“NinguĂ©m quer arriscar, principalmente neste primeiro turno. NĂ£o tem um candidato ou candidata que congregue maioria absoluta de aceitaĂ§Ă£o ou rejeiĂ§Ă£o”, analisa AfrĂ¢nio Soares.
AfrĂ¢nio Soares declarou que vĂª com clareza a desconexĂ£o dos candidatos nacionais dos locais nesta eleiĂ§Ă£o em todos os palanques porque os candidatos nacionais nĂ£o agregam “valor” Ă s disputas estaduais.
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A EleiĂ§Ă£o 2018 Ă© tĂ£o atĂpica que atĂ© o partido mais cortejado em todos os pleitos, que Ă© o do presidente da RepĂºblica, estĂ¡ largado em todo PaĂs. Os candidatos buscam distĂ¢ncia do MDB.
Nas Eleições 2014, o PT foi disputado pelos principais palanques do Amazonas e em outros estados. Desta vez, nem PT e nem MDB receberam assédios.
“A eleiĂ§Ă£o nossa local estĂ¡ ocorrendo paralelamente a todo esse contexto nacional. O palanque do PDT no Amazonas Ă© exemplo: grande, absorveria pelo menos trĂªs dos presidenciĂ¡veis, considerando Ciro Gomes como cabeça. E na verdade nĂ£o estĂ¡ absorvendo ninguĂ©m. EstĂ¡ preocupado com a eleiĂ§Ă£o estadual. E isso estĂ¡ acontecendo com todos os candidatos ao governo”, afirmou AfrĂ¢nio.
O pesquisador disse que o campo Ă© minado e inseguro para todos os que disputam o governo e, neste contexto, subir um dos presidenciĂ¡veis no palanque pode representar risco de perda de votos.
“NĂ£o vejo vida tranquila para nenhuma coligaĂ§Ă£o. NĂ£o tem um candidato ou candidata (Ă presidĂªncia) que congregue a maioria absoluta de aceitaĂ§Ă£o ou rejeiĂ§Ă£o. NĂ£o chegam a atrair atenĂ§Ă£o de quem estĂ¡ concorrendo regionalmente. ‘Eu, do lado desse aqui, vou conseguir ampliar meu patamar de votos’. Quem fizer, acaba perdendo”, analisa AfrĂ¢nio.
O professor da Ufam traça comparações entre os dois nomes que lideram as pesquisas recentes Ă PresidĂªncia da RepĂºblica.
“Subir com o Bolsonaro e fazer palanque, agrada uma parte que vota nele, mas afasta quem o rejeita. O mesmo se falar do Lula, mesmo o prĂ³prio Lula que tinha grande aceitaĂ§Ă£o aqui, mas grande rejeiĂ§Ă£o tambĂ©m. Essa Ă© a tĂ´nica”, disse.
AfrĂ¢nio Soares acredita que, talvez, o cenĂ¡rio amenize no segundo turno.
“Essa Ă© uma eleiĂ§Ă£o que serĂ¡ decidida em dois turnos, tanto para a PresidĂªncia da RepĂºblica quanto para o Governo do Estado. AtĂ© o segundo turno isso pode se amenizar. SerĂ£o dois candidatos no cenĂ¡rio nacional. Pode ser que aqui alguĂ©m se manifeste, mostrando preferĂªncia clara por um candidato que vĂ¡ se apegar”, cogita o analista.
Para o pesquisador, no entanto, a conta vai ser sempre apoio e declaraĂ§Ă£o de apoio de onde o candidato local poderĂ¡ captar mais votos. “Ideologia partidĂ¡ria? Isso jĂ¡ foi para o espaço jĂ¡ tem um tempinho”, disse.
Candidatos escondem o que tem por trĂ¡s
O jornalista e especialista em Marketing Marcus Stoyanovitch Cavalcanti declarou que o fato dos candidatos ao Governo do Amazonas “esconderem” seus candidatos Ă presidĂªncia Ă© explicado pela estratĂ©gia de marketing que molda os nomes para o voto e diminuem o acesso dos eleitores Ă s informações sobre as ligações polĂticos dos grupos.
“Desde 1990, quando houve a retomada das Eleições diretas no Brasil, o Marketing Eleitoral vem orientando e dominando o que deve ser feito, dito por um candidato neste ou naquele discurso (…) Levar a boa imagem de um candidato sem arranhões Ă© a missĂ£o de cada estratĂ©gia. Neste caso, entra o motivo de candidatos locais nĂ£o estarem, de forma inusitada, citando nomes dos seus candidatos presidenciĂ¡veis”, afirmou.
Marcus Stoyanovitch Cavalcanti concorda com o pesquisador AfrĂ¢nio Soares e acredita que no segundo turno o distanciamento pode ser desfeito.
“No segundo turno, com dois nomes apenas e um eleitor mais esclarecido em suas escolhas, os candidatos majoritĂ¡rios locais deverĂ£o usar os presidenciĂ¡veis como alavanca para fortalecer nomes e alianças”, afirma.
O especialista em Marketing afirma que outro fator que contribuiu para o distanciamento dos candidatos locais dos nacionais Ă© a orfandade dos eleitores do ex-presidente Lula apĂ³s ser impedido de disputar a eleiĂ§Ă£o pela justiça, apesar de liderar com folga em todas as pesquisas e cenĂ¡rios.
“Isso contribui para esse insĂ³lito contexto onde candidatos locais escondem os nomes dos presidenciĂ¡veis dos seus partidos e/ou coligações por medo de criar, manter ou ampliar rejeições”, disse.
Marcus Stoyanovitch Cavalcanti disse que a atipicidade deste pleito deixa poucas referĂªncias de como se comportarĂ¡ o eleitorado em menos de um mĂªs.
“Cada eleiĂ§Ă£o tem seu prĂ³prio DNA, mas esta Ă© de uma atipicidade tamanha que deixam poucas ou quase nenhuma referĂªncia para previsões de qual, de fato, seria a preferĂªncia do eleitorado no momento decisivo do voto. Coisas da eleiĂ§Ă£o que anula muito da essĂªncia polĂtica dos candidatos quando nĂ£o podem dizer o querem e sim aquilo que o Marketing Eleitoral com todas as suas ferramentas orienta”, analisou.
Em 2014 foi diferente
Em 2014, antes e depois do perĂodo eleitoral a influĂªncia dos candidatos Ă presidĂªncia era muito mais cortejada e disputada pelos grupos locais. No pleito passada, a disputa polarizou entre a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador AĂ©cio Neves (PSDB).
Dilma, por estar no comando da mĂ¡quina e ser candidata Ă reeleiĂ§Ă£o, era a mais cortejada. Mas acabou fechando questĂ£o com o palanque do senador Eduardo Braga (MDB) ao governo.
O ex-ministro de Minas e Energia do governo petista disputou e perdeu aquele pleito com o apoio do Governo Federal e das siglas de esquerda – PT e PCdoB – das quais se distanciou apĂ³s o impeachment de Dilma.
O PSDB de AĂ©cio Neves nĂ£o teve candidato prĂ³prio, apoiou a candidatura do ex-governador JosĂ© Melo e o prefeito de Manaus, Arthur VirgĂlio Neto, costumava dizer que o cabo eleitoral de AĂ©cio, fora do expediente, era ele prĂ³prio.
Melo, por ter tido sĂ©rias dificuldades de conseguir um partido para chamar de seu e concorrer naquele pleito, se abrigou no Pros, sigla recĂ©m-criada, mas que, na ocasiĂ£o, recebeu forte influĂªncia do Planalto.
A terceira mais votada no PaĂs e no Amazonas tambĂ©m tinha cabo eleitoral no Estado, onde ficou em segundo lugar.
O palanque de Marina Silva (Rede), na ocasiĂ£o filiada ao PSB, foi montado por ela mesma que indicou, via executiva nacional, o nome do ex-deputado estadual Marcelo Ramos. O ex-deputado estadual, que hoje disputa o cargo de deputado federal, tambĂ©m ficou em terceiro lugar na disputa.