Por Neuton Corrêa e Israel Conte , da redação
Comentando notícia que acabara de ser publicada pela mídia do país, sobre a saída do senador Romero Jucá (MDB) da liderança do governo no Senado, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB) cutucou ontem a bancada do Amazonas, que votou a favor do presidente Michel Temer (MDB).
“Então todos aqueles que votaram duas vezes pró-Temer ser presidente, esses aí vão querer fugir do Temer como o diabo foge da cruz. Mas não adianta porque a verdade você não esconde”.
A cutucada foi durante entrevista que concedeu ao BNC AMAZONAS , que desde a semana passada entrevista candidatos a senador nas eleições deste ano.
Nessa entrevista, a parlamentar mostra que pretende usar o fracasso do governo Temer para fortalecer sua campanha, que só não está isolada por causa de uma decisão da Justiça Eleitoral que obriga o PT a coligar com o PCdoB.
Vanessa diz que o ex-vice de Dilma Rousseff foi mantido no cargo para praticar maldades contra o povo e que o Amazonas sofre com as decisões de Temer.
Em seu discurso de defesa do ex-presidente Lula como candidato à Presidência, a senadora diz que o líder petista lidera as pesquisas eleitorais porque o povo entende que ele é alvo de injustiça e lembra de seu governo, principalmente no Amazonas.
“Não é à toa que o presidente Lula, mesmo estando preso, continua o candidato preferido do povo. Por que isso? Porque o povo sabe que ele está preso injustamente, só para não ser mais uma vez presidente do Brasil. Segundo, porque o povo lembra. Olha o que foi o estado do Amazonas naquele período!”.
Nessa entrevista, Vanessa Grazziotin também comenta temas como aborto, desarmamento e maconha; fala sobre o imbróglio em torno da fracassada aliança PT, PCdoB e PSB no Amazonas; e mostra que, se o PT reivindicar mudança na chapa ao governo, hoje liderada pelo PCdoB, os comunistas não farão objeção.
“A Lúcia é a candidata do PCdoB mas caso haja um pleito, por parte do Partido dos Trabalhadores nós não apresentaremos qualquer objeção. Porque eu já estou ocupando uma vaga majoritária que é o Senado. Então todo direito nós entendemos que o Partido dos Trabalhadores teria que apresentar o nome para Governo do Estado. E esse sim será verdadeiramente o palanque do nosso candidato em nível nacional, que é o presidente Lula”.
Leia e assista a seguir a íntegra da entrevista que ela concedeu ao BNC AMAZONAS:
Neuton Corrêa – Senadora, o preço da sua coerência é o seu isolamento político do Amazonas?
Vanessa Grazziotin — Eu não sei nem de onde veio isso porque foi algo que pegou todos de surpresa, inclusive nós. Numa convenção de um partido, de uma coligação que nós havíamos ajudado a pavimentar, deixar para anunciar no dia da convenção que o PCdoB estaria fora. Mas isso, de fato, num primeiro momento nos isolou, mas hoje há uma decisão que foi respeitada pela Justiça Eleitoral. Prevaleceu uma decisão do comitê nacional do Partido dos Trabalhadores.
Nós estamos coligados, PT e PC do B, isso não significa exatamente um isolamento. É claro que não temos aquela aliança mais ampla, mas temos dois partidos que estão coligados nacionalmente, inclusive, puxando o lado daqueles que defendem que o Brasil que volte a aplicar em programas de garantias dos direitos sociais para maior parte do povo brasileiro. Acho que a tentativa houve mas…
Neuton Corrêa – A senhora está numa aliança que não foi uma aliança construída pela via do diálogo ou que o diálogo não foi suficiente para a aliança. Mas, sim, pela via jurídica, PT e PC do B. Isso não lhe causa um desconforto?
Vanessa Grazziotin — E quem criou esse imbróglio não fomos nós, do Partido Comunista do Brasil, PC do B, nem um pouco foi o Partido dos Trabalhadores (PT). Quem criou toda essa situação foi o partido do candidato ao governo (David Almeida, PSB).
Mas eu considero que isso é fato superado. Acho que nós, se havia falta de diálogo, nós estamos trabalhando para superar. Eu não tenho dúvida nenhuma de que a militância, mais do que nunca, vai sair com muita força, com muita garra às ruas para defender o conjunto de seus candidatos.
Neuton Corrêa – Nesse caso, quais são os caminhos, já que tudo está tão recente? Essa aliança PT e PCdoB no Amazonas vai acontecer mesmo?
Vanessa Grazziotin — A aliança já existe, o Judiciário acatou o pedido e uma decisão do Partido dos Trabalhadores. É uma decisão nacional. É bom que se diga que esse fato não ocorreu aqui apenas no Amazonas. Houve em outros lugares, mas desde o início eu disse a vocês: nós estamos buscando diálogo, porque nem nós nem o Partido dos Trabalhadores somos responsáveis por isso.
Isso impacta logo depois da decisão, mas a tendência é que daqui a pouco estejamos todos juntos fazendo as campanhas de nossos candidatos ao governo, ao Senado, do nosso candidato a presidente, que é o Lula.
Eu não tenho dúvida disso. Acho que essa eleição é muito especial. Não é apenas a escolha dos novos governantes e representantes do povo. Nessa eleição, temos uma tarefa a mais que é reaproximar o Brasil com uma democracia; reaproximar os brasileiros, fazer com que o diálogo volte a ser a marca das relações e não a intolerância. Esse é o nosso objetivo, esse é o objetivo do Partido dos Trabalhadores, esse é o objetivo da nossa coligação.
Então, eu não tenho dúvida nenhuma que nesses dias todos estarão juntos com muita garra fazendo uma campanha que também não tenho dúvida, será vitoriosa.
Israel Conte – Nesse vai e vem de decisões, como a senhora programou o seu plano de mídia para próxima sexta feira, início da propaganda eleitoral?
Vanessa Grazziotin — Como candidata, eu não sou apenas uma candidata, eu sou senadora, candidata a reeleição. Então, a base da minha campanha vai ser de muita transparência. Eu vou mostrar o que eu fiz nesses oito anos no Senado Federal; o que eu prometi na campanha passada, o que nós conseguimos implementar.
Qual foi a minha postura? A quantidade e quais os projetos eu apresentei? Como foi que eu votei em cada um deles e principalmente na Reforma Trabalhista, na PEC que congela os recursos públicos, em relação ao próprio processo que fez de Michel Temer o presidente do país? Então, é uma campanha de diálogo com as pessoas, que eu considero que eu preciso mostrar aquilo que eu fiz. Eu não posso buscar o que aconteceu há 14, 15, 20 anos atrás.
Eu fui eleita senadora e sou candidata à reeleição. Então, a minha obrigação é, perante a população do meu estado, da capital e do interior, mostrar aquilo que eu fiz. Não só trazendo recursos, investimentos, mas como me portei como senadora votando e defendendo os interesses do nosso povo e da nossa gente.
Israel Conte – Nessa prestação de contas, o que é senhora destaca que conseguiu cumprir nesses oito anos?
Vanessa Grazziotin — Eu acho que a bandeira, vocês que acompanharam a nossa campanha, a bandeira principal da nossa chapa foi aquilo que nós nos comprometermos, que foi de fortalecer a Zona Franca de Manaus. E garantir uma prorrogação por 50 anos. E nós conseguimos, conseguimos aprovar a prorrogação por mais 50 anos.
Nesses 14 ,16 anos que se passaram, com exceção desses últimos dois agora (de Temer), nós nunca tivemos nenhum susto com a Zona Franca de Manaus. Pelo contrário, foi um período no qual a Zona Franca mais se desenvolveu, mais gerou emprego para gente da nossa cidade e contribuiu também com interior através dos repasses dos recursos.
Tivemos a prorrogação. Agora, esse governo que entrou, em menos de dois anos, na primeira oportunidade, já ataca a Zona Franca. E como é que nós estamos enfrentando? Eu apresentei um projeto de decreto legislativo, que nós já votamos no Senado para anular essa decisão de Michel Temer e agora não apenas aguardamos, mas trabalhamos também para que ele seja votado na Câmara dos Deputados.
Ou seja, a vigilância que nós fizemos para a população… É muito mais do que isso.
Nessa última sessão do Congresso, nesse esforço concentrado, um dos projetos aprovados, foi de minha autoria, um projeto que coloca o agravamento da pena, um projeto que trata do combate à violência contra a mulher, um projeto que agrava pena quando o estupro é coletivo e isso a legislação não previa. É um projeto que criminaliza aqueles que expõem as mulheres ao constrangimento, quando colocam na internet cenas de violência também.
Enfim, são inúmeras questões que nós fizemos; projetos que aprovamos. Poderia voltar a questão do soldado da borracha, a ação que nós fizemos por reconhecimento aos soldados da borracha, que receberam esse reconhecimento por parte do estado brasileiro, recebendo uma indenização. Enfim, a expansão das universidades que nós tivemos no Brasil inteiro, mas, principalmente, aqui no Estado do Amazonas.
A gente que anda muito no interior, eu lembro o que era o interior do Amazonas há 15, 20 anos atrás. O que é o interior do Amazonas hoje? Nós temos uma faculdade de Medicina na cidade de Coari, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Olha que maravilha! E temos uma faculdade de Farmácia, e eu sou farmacêutica, em Itacoatiara.
A gente saiu de uma situação que o Fernando Henrique (Cardoso, ex-presidente do Brasil) queria fechar todas as escolas técnicas federais. Hoje nós temos Ifam espalhado por quase todas as cidades do estado do Amazonas.
Lá, nas emendas parlamentares, que eu poderia falar de muitas aqui, eu apresentei, por exemplo, para a UTI pediátrica no Hospital Tropical. Foi fruto de emenda apresentada por mim. A idealização, o direito ao risco de vida dos trabalhadores vigilantes, foi também um projeto oriundo de minha proposta, que virou lei. A empregada doméstica hoje têm direitos iguais a todos os trabalhadores. Não tínhamos! A empregada doméstica era uma subtrabalhadora que não tinha direitos e agora tem.
Eu acho que o principal é que eu sempre soube me colocar ao lado das pessoas, ao lado do Amazonas, ao lado dos trabalhadores e das mulheres.
Neuton Corrêa – No período da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, a senhora demandou muito tempo para tratar do assunto e, de certo modo, se distanciou de temas locais num momento em que governo do PT era bombardeado por denúncias de corrupção. Eu queria que a senhora fizesse uma reflexão desse contexto.
Vanessa Grazziotin — Eu interpreto toda a aquela situação de uma forma diferenciada. Aquilo não provocou um distanciamento meu dos meus eleitores, pelo contrário, aquilo provocou uma reaproximação. Mesmo entre as pessoas que discordavam da minha atitude, essas pessoas passaram a visualizar melhor o meu mandato. Segundo, eu não estava ali defendendo partido político, seja o Partido dos Trabalhadores ou o meu. Eu estava ali defendendo o Brasil. Eu estava ali defendendo os trabalhadores.
Mas eu gostaria muito de estar sentado aqui entre vocês fazendo uma auto crítica. Atacada naquele momento era eu. Nós éramos atacados. Eu gostaria de fazer uma autocrítica. De fato, eles falaram que iriam acabar com a corrupção. Acabaram! E o Michel Temer não tem nenhum envolvimento em corrupção, enfim.
Eles diziam que iam gerar empregos e a gente está vendo aí no Brasil o emprego crescendo. Isso não é verdade!
Principalmente aqui no Estado do Amazonas, a média, o percentual chegou a 20% da população economicamente ativa desempregada.
Gostaria de estar aqui dizendo: viram quantos novos conjuntos do Minha Casa, Minha Vida. Quantos novas farmácias populares? Quantos novos financiamentos estudantes para o jovens frequentar uma universidade? Mas o que a gente viu foi o inverso disso.
Nós dissemos o quanto o governo deveria priorizar uma reforma para cobrar mais impostos dos ricos e das grandes fortunas. Não! Ele elegeu como prioridade a Reforma Trabalhista, a Reforma Previdenciária. Aí vem a emenda constitucional que retira recursos da educação.
Lamentavelmente, é isso: o Amazonas tem o maior número de desempregados. A Zona Franca sofreu depois de mais de 16 anos um golpe, assim, um ataque inacreditável.
Toda aquela minha costura foi em defesa do Brasil. Agora, principalmente da Zona Franca de Manaus, principalmente do nosso Estado do Amazonas, principalmente da Zona Franca.
O tempo, como diz o velho ditado, o tempo é o senhor da razão e é isso que a população brasileira hoje está vendo.
Não é à toa que o presidente Lula, mesmo estando preso, continua o candidato preferido do povo. Por que isso? Porque o povo sabe que ele está preso injustamente, só para não ser mais uma vez presidente do Brasil. Segundo, porque o povo lembra. Olha o que foi o estado do Amazonas naquele período! Eu tenho muito orgulho de dizer que esse projeto foi aquele que mais tratou do problema das pessoas.
Um dia desse todos os jornais publicaram o tamanho do déficit público habitacional. Nós temos aqui na cidade de Manaus um déficit de mais de 460 mil pessoas, mais 120 mil famílias. E o programa Minha Casa, Minha Vida vinha trabalhando de uma forma contínua para diminuir esse déficit, mas esse programa parou, principalmente para aqueles que têm renda mais baixa. Então, longe de ser um distanciamento, ele me aproximou mais das pessoas. Está claro hoje que o que eu fiz não foi defender o partido, foi defender nossa população e nosso Amazonas.
Israel Conte — Eu vejo a sua blusa Vanessa Senadora, Lula Livre, Lula Presidente. A senhora foi uma das parlamentares que visitou o presidente Lula na carceragem da Polícia Federal. Recentemente, a ONU recomendou que ele fosse candidato a presidente da República, mas, pela Lei da Ficha Limpa, ele está inelegível. Como está sua fé na candidatura do Lula ? A ideia do PT e PCdoB é levar até o final a proposta dele ser candidato a presidente?
Vanessa Grazziotin — A Justiça Eleitoral deve, nos próximos dias, e no máximo até o dia 17 [de setembro], definir sobre a situação de quatro candidatos à Presidência da República que tiveram pedidos de impugnação, inclusive o presidente Lula.
Eu tenho esperança, sim, porque Nas Nações Unidas, todos os seus tratados de direitos humanos, ele tem direito de ser candidato. Isso tem força de lei. O próprio ministro Barroso, que é o relator do pedido de registro da candidatura do Lula já disse em vários julgamentos, já reconheceu que esses tratados têm força de lei.
O presidente do Senado, Eunício Oliveira já divulgou uma nota mostrando que esse tratado que as Nações Unidas se referem foi aprovado no Congresso Nacional no ano de 2009 e tem força de lei. Tenho esperança, mas, caso isso não aconteça, nós vamos seguir. Certamente, haverá a substituição e nós vamos seguir com povo brasileiro.
Neuton Corrêa – Vinga essa chapa PT e PC do B, com a Manuela D’Avila e o Fernando Haddad?
Vanessa Grazziotin — Se acontecer, não é o que nós queremos. O que nós queremos é o que Lula deveria continuar.
Neuton Corrêa – O desempenho do Lula me parece que é uma resposta de que a mídia não conseguiu carimbar a corrupção no PT. A senhora acha que sua candidatura também terá uma resposta positiva aqui no Amazonas?
Vanessa Grazziotin — Primeiro, eu nunca tive envolvimento com corrupção. Segundo, as próprias acusações que pesaram contra o presidente Lula acabaram indo para o outro lado, porque o que a gente vê é que, enquanto o presidente Lula está preso dentro de uma ginástica, de um malabarismo, porque eles tiveram que dizer que o presidente era proprietário de um apartamento que nunca foi proprietário.
Enquanto isso, as provas são abundantes em relação a Michel Temer, que continua no poder, são abundantes. E onde é que ele está? No Palácio do Planalto. E porque ele continua no Palácio do Planalto? Por que por duas vezes os deputados federais o livraram de responder processo? E isso virá à baila no processo eleitoral. Duas vezes!
Onde é que fica o discurso de combate a corrupção? As pessoas que antes tinham um discurso forte contra corrupção e por duas vezes, no que pese a fartura de provas, por duas vezes mantiveram Michel Temer.
Pior, mantiveram o Michel Temer só para ele praticar maldades contra o povo. Eu digo: não há uma farmácia popular mais aqui na cidade Manaus. Nos municípios do interior, fecharam todas! Isso é muito grave! Minha Casa, Minha Vida, principalmente para a faixa de um a três salários mínimos, parou. Não há mais construção. Programas como o Bolsa Família foram reduzidos à metade, no Brasil inteiro e aqui no Amazonas, reduzidos à metade. Os estudantes, que já foram 700 mil beneficiados, esse governo disponibilizou 100 mil financiamentos e pouquinho mais de 44 mil acessaram esse financiamento. É algo inacreditável.
Mais do que nunca eu combato a corrupção, e acho que não deva só ser uma bandeira, mas uma prática de vida.
Israel Conte – No lançamento da pré-candidatura a governo do David Almeida, a senhora disse que faria uma aliança do bem, a maior que este estado já viu. E logo, em seguida, a presença do PCdoB no palanque do David foi vista como água e óleo pela ala evangélica que apoia o David. Eu gostaria que a senhora abordasse rapidamente esses três temas: aborto, liberação do armamento para a população e legalização da maconha.
Vanessa Grazziotin — São temas polêmicos.
Sobre o aborto. Não falo como parlamentar, mas como como mulher, como mãe. Eu não conheço nenhuma mulher que seja a favor do aborto. O aborto é talvez uma das maiores violências que pode existir. E a legislação brasileira, ela prevê quais são as possibilidades do aborto, né? Quando há risco de vida pra mãe e quando a gestação é fruto de estupro.
O Poder Judiciário agregou a isso o caso dos bebês anencéfalos, e também permitir essa possibilidade. Eu acho que a legislação brasileira, ela tá um pouco na média mundial. E de fato, você criminalizar um aborto nessa situação seria um extremo. Seria criminalizar a própria vida. Por outro lado, eu não considero que seria justo condenar uma mulher, mãe de vários filhos, por ela ter praticado ou ter sido vítima dessa prática.
Mas, enfim, acho que a legislação brasileira, responde bem a nossa situação.
Sobre o armamento, nós tivemos plebiscito. O Brasil inteiro disse que não veria o povo armado. E eu estou com a maioria do povo brasileiro, porque eu não sou daquelas que acha que violência se combate com violência. Não quero pegar as centenas de exemplos que acontecem nos Estados Unidos. Vamos pegar os exemplos daqui da nossa cidade. Um dia desses, e todos lembram, nós tivemos um assassinato dentro de uma casa noturna. Um assassinato entre um policial e um advogado, por uma briga besta, talvez por um olhar diferenciado, sei lá o que aconteceu.
Agora eu pergunto: se ele não tivesse com aquela arma ali? Possivelmente ele teria dado um tapa, teria tido uma briga física mas ninguém perderia a vida como ocorreu ali.
Então imagina quantas questões banais, quantas brigas acontecem de trânsito, acontecem na rua, até mesmo entre amigos, e a arma favorece isso. Então eu sou contra armar a população brasileira.
Mas, é claro, tem situações tópicas, por exemplo. Aqui no interior do Amazonas. Há ribeirinhos, famílias, que vivem distante de tudo, rodeadas por animais. E animais, muitas vezes ferozes. Eles precisam de uma arma. Assim como a gente de segurança precisa, os que estão lá no interior, também precisam da arma.
Então acho que isso é bastante simples. Acho que não deveria ser esse o tema principal dessa eleição, é porque lamentavelmente tem um candidato que defende, então acaba vindo.
Em relação, a legalização das drogas, da maconha especificamente, tem que se separar essa questão da saúde, que hoje já tá até liberado o canabidiol, para pessoas, crianças principalmente que vivem com convulsões. E como o remédio é extremamente eficiente.
Em relação à liberação, a legalização, eu quero dizer que eu sou muito conservadora, acho que esse debate passa por uma questão científica, e passa também por um posicionamento se isso ajudará ou não o combate ao tráfico.
Em relação a questão da saúde, eu por exemplo, sou da área da saúde, eu sou farmacêutica, minha filha é médica e nós temos debates profundos. Eu e ela, ela defendendo a liberação e eu, contrário. Para mim, não tá claro que a maconha, sendo liberada, não traz problemas maiores para a juventude e as pessoas.
Isso me preocupa muito. Se não existe a possiblidade de uma droga menos nociva passar por uma droga mais nociva. Mas acho que esse debate tem que acontecer e não é um debate político. Esse é um debate extremamente técnico. Será que o Brasil já alcançou o estágio, como outros países do mundo de liberar?
Nós já temos condições de liberar isso? Eu creio que não. Mas essa é a minha opinião. Acho que o debate tem que fluir, e fluir permanentemente.
Neuton Corrêa – Quando abrimos uma transmissão via internet com a Vanessa temos uma ideia do 8 ou 80. Muita resistência ao seu nome, muitos xingamentos, questões ideológicas talvez ainda não compreendidas sobre o tema. Esse sentimento anti-Vanessa, anti-comunismo, a senhora detecta na rua? De que forma?
Vanessa Grazziotin — Veja: essa eleição tem um caráter especial. Além de escolher os novos governantes, ela vai aproximar o nosso país para a democracia. E nós temos que reaproximar as pessoas. Não pode ser essa intolerância a marca do nosso relacionamento. Eu convivo com pessoas com as quais eu muitas vezes não concordo com as suas opiniões políticas. Eu respeito! Como creio que mereço também o respeito.
Nós não podemos retroceder. De minha parte, eu sei que eu me expus muito. Eu expus muito a minha posição política. Talvez eu seja o grande alvo, pois expus muita a mina posição política, por conta da minha transparência, por conta da clareza das minhas opiniões. Mas eu nunca respondi isso com violência. Pode pegar lá minhas páginas na internet, Facebook, Twitter. Nunca respondo absolutamente nada com violência.
E digo, como está isso nas eleições? Tô bastante otimista porque eu não vi nenhum problema até agora. E olha que eu tenho conversado com várias pessoas que não concordam com as minhas ideias e as minhas posições, aliás, declaram voto para outros candidatos, mas o diálogo, flui, não é?
Então eu acho que presencialmente ou a distância, a gente tem que combater esse tipo de atitude. Acho que a pessoa ao invés de estar me xingando deveriam cuidar de aprofundar o tema. Não estamos debatendo pessoas. Estamos debatendo temas, ideias e opiniões.
Israel Conte – Os amazonenses votarão em dois senadores nesta eleição. A militância do PCdoB está orientando o voto para um segundo nome? E com qual candidato a senhora gostaria de estar no Senado nos próximos 8 anos?
Vanessa Grazziotin — Não estamos orientando nenhum nome para o segundo voto, mesmo porque a campanha está só começando. Obviamente que os eleitores são livres para praticar o direito do voto e completar o seu voto, né? Mas nesse momento nós não temos nenhuma orientação em relação ao segundo voto.
Israel Conte – E a Vanessa tem alguma preferência por algum dos nomes?
Vanessa Grazziotin — Não, não tenho nenhuma preferência. É algo que eu ainda vou construir.
Neuton Corrêa – Queria lhe abordar a respeito de temais mais factuais nesse momento em que as coisas ficaram um pouco indefinidas no arco de alianças da esquerda aqui no Amazonas. Mas houve uma proposta de substituir o nome da Lúcia Antony, candidata ao governo, pelo do Praciano, nesse fim de semana. Qual a sua opinião sobre essse assunto?
Vanessa Grazziotin — Então, hoje me falaram sobre isso. Aí eu falei de onde isso? Ah, saiu na internet. Aí quando eu vi que era no seu blog, aí poxa é um blog muito bem informado, então eu creio que esse debate deva estar acontecendo. Mas eu não participei, mesmo porque consolidando essa aliança PT-PCdoB, eu falei inclusive a todos os dirigentes daqui, que nós não pleiteamos o preenchimento da vaga de governo.
A Lúcia é a candidata do PCdoB mas caso haja um pleito, por parte do Partido dos Trabalhadores nós não apresentaremos qualquer objeção. Porque eu já estou ocupando uma vaga majoritária que é o Senado. Então todo direito nós entendemos que o Partido dos Trabalhadores teria que apresentar o nome para Governo do Estado. E esse sim será verdadeiramente o palanque do nosso candidato em nível nacional, que é o presidente Lula.
Neuton Corrêa – Queria que a senhora comentasse uma notícia que me surpreende. Que é o senador Romero Jucá deixando a liderança do governo Temer.
Vanessa Grazziotin — Olha só, agora né? Foi exatamente ele, Romero Jucá, o autor daquela tão propagada gravação. Aquela que dizia assim: “Nós temos que fazer o acordão, com Supremo (Tribunal Federal), com tudo, um acordão pra tirar a presidente e colocar alguém que não seja eleito.
Pois só alguém não eleito pode aprovar a Reforma Trabalhista, pode aprovar a Reforma Previdenciária, ou seja fazer maldade contra o povo. Isso é óbvio que é oportunismo eleitoral. Aliás, toda a imprensa tá dizendo porque que o candidato Alckmin não cresce. Porque colou nele. Porque todo o Brasil já sabe que ele é o verdadeiro candidato de Michel Temer.
Então todos aqueles que votaram duas vezes pró-Temer ser presidente, esses aí vão querer fugir do Temer como o diabo foge da cruz. Mas não adianta porque a verdade você não esconde.
O Sol você não tapa com a peneira. Então acho que seria mais correto dele assumir do que pular do barco agora de forma oportunista no período eleitoral. Pra quê? Pra mais uma vez enganar a população? Então eu acho que as pessoas são responsáveis pelos seus atos.
Quem votou em Temer, vai ter que explicar porque que votou em Temer. Dizer que não conhecia Temer… Pelo amor de Deus, porque não votou só para transformá-lo presidente. Votou para deixá-lo na Presidência da República. E não foi uma vez, foram duas vezes. Porque às vezes a pessoa [diz] ah errei ali, mas consertei. Não, foram duas vezes. É Romero Jucá.
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Foto: BNC AMAZONAS