Supercomputador que atrasou apuraĂ§Ă£o foi comprado sem licitaĂ§Ă£o
No extrato publicado no DiĂ¡rio Oficial, o TSE cita um artigo da Lei de Licitações (de 1993) para justificar a dispensa da licitaĂ§Ă£o

Publicado em: 18/11/2020 Ă s 14:42 | Atualizado em: 18/11/2020 Ă s 14:43
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nĂ£o realizou licitaĂ§Ă£o para contratar o “supercomputador” cujo desempenho causou atraso na apuraĂ§Ă£o das eleições municipais deste domingo (15).
O contrato do TSE com a Oracle do Brasil Sistemas, responsĂ¡vel pelo serviço, foi realizado com dispensa de licitaĂ§Ă£o e publicado no DiĂ¡rio Oficial da UniĂ£o, no dia 25 de março deste ano, com o valor total de R$ 26,2 milhões.
Até agora, a Justiça Eleitoral brasileira empenhou R$ 19.564.473,36 em favor da filial brasileira da Oracle em 2020, segundo dados levantados pela BBC News Brasil usando a ferramenta Siga Brasil, do Senado Federal.
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NĂ£o Ă© possĂvel dizer, porĂ©m, se todos os pagamentos se referem ao mesmo contrato, e nem qual a duraĂ§Ă£o do contrato de R$ 26,2 milhões.
O valor de R$ 19,5 milhões inclui empenhos feitos por tribunais regionais eleitorais de alguns Estados, embora a maior parte dos gastos seja do TSE.
Estrato de pagamentos
No extrato publicado no DiĂ¡rio Oficial, o TSE cita um artigo da Lei de Licitações (de 1993) para justificar a dispensa da licitaĂ§Ă£o.
Segundo a norma, a compra ou contrato pode ser feito diretamente, sem licitaĂ§Ă£o, quando sĂ³ houver uma empresa apta a prestar aquele serviço. Outra hipĂ³tese Ă© quando o governo precisa de serviços “de natureza singular, com profissionais ou empresas de notĂ³ria especializaĂ§Ă£o”.
Os “supercomputadores” fornecidos pela Oracle ao TSE sĂ£o do modelo Exadata X8 — sĂ£o aparelhos com capacidade de processamento muito superior a um computador pessoal, e cujo tamanho Ă© um pouco maior que o de uma geladeira ou freezer domĂ©sticos.
AlĂ©m da lentidĂ£o na apuraĂ§Ă£o, a Justiça Eleitoral tambĂ©m enfrentou outros problemas relacionados Ă tecnologia da informaĂ§Ă£o durante as eleições municipais deste ano.
Aplicativo “travou”
O e-TĂtulo ficou instĂ¡vel durante o dia, e esteve indisponĂvel para pessoas que tentaram usar a ferramenta para justificar o voto, por exemplo.
“Desculpe! Algo saiu errado com sua solicitaĂ§Ă£o. Pedimos a gentileza de tentar acessar este serviço dentro de alguns minutos. Caso o problema persista, verifique sua conexĂ£o com a Internet”, dizia a mensagem de erro do aplicativo.
Finalmente, o atraso na apuraĂ§Ă£o se refletiu na liberaĂ§Ă£o dos dados no RepositĂ³rio do TSE, onde sĂ£o disponibilizados os dados completos das eleições.
Neste caso, as informações sĂ³ começaram a ser liberadas por volta das 14h desta segunda-feira (16).
Ataque hacker
Durante o domingo, o tribunal tambĂ©m foi alvo de um ataque hacker do tipo DDoS, no qual um grande nĂºmero de tentativas de acesso sĂ£o feitas simultaneamente, com o objetivo de derrubar um determinado site ou serviço.
O ataque, no entanto, foi debelado pelo TSE com a ajuda de empresas de telefonia.
Segundo a Ă¡rea de tecnologia do TSE, chegou a ocorrer 436 mil tentativas de conexões por segundo ao sistema da Corte, disparadas de Brasil, Estados Unidos e Nova ZelĂ¢ndia.
Em outra aĂ§Ă£o, um grupo vazou na manhĂ£ de domingo (15/11) dados antigos que tinham sido roubados do tribunal, de modo a fazer parecer que os sistemas da Justiça Eleitoral tinham sido corrompidos no dia da eleiĂ§Ă£o — o que nĂ£o aconteceu.
“Ao mesmo tempo em que esses dados foram vazados, milĂcias digitais entraram imediatamente em aĂ§Ă£o tentando desacreditar o sistema. HĂ¡ suspeitas de articulaĂ§Ă£o de grupos extremistas que se empenham em desacreditar as instituições”, disse Barroso nesta segunda-feira (16).
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