Atualmente, as fake news constituem o maior desafio da sociedade nacional e mundial, no que se refere ao conhecimento. Há uma verdadeira pandemia de conteúdos falsos na Internet, divulgados por diversos meios, inclusive por meios de comunicação, que deveriam ser os bastiões da boa informação, como jornais e revistas de grande circulação.
Notícias falsas são bastante comuns no segmento político. Todavia, elas não estão restritas apenas a esse âmbito. Para além da política, da economia ou da vida sem sentido de alguma celebridade, as notícias falsas invadiram o campo da saúde pública. Fato que requer medidas urgentes de controle dos conteúdos disseminados via Internet.
O(A) leitor(a) deve se lembrar do quanto foi danosa a proliferação de notícias falsas relacionadas ao tratamento da covid-19. À época, a pandemia poderia ser melhor administrada se não houvesse a divulgação, em massa, inclusive feita por autoridades públicas, de protocolos de tratamento com medicamentos ineficazes no combate ao vírus.
“Protocolos”
Nesse âmbito, destaco que atualmente há uma enormidade de “protocolos” sendo divulgados nas redes sociais que indicam o tratamento e a cura de várias doenças, tais como: diabetes, esteatose hepática (gordura no fígado), obesidade, calvície, acnes etc. Trata-se de um verdadeiro show de horror. O detalhe é que todos os anúncios prometem a cura mediante a compra de algum produto milagroso.
Sem contar que, nos anúncios sobre algum produto “milagroso”, a pessoa é levada a ir clicando em vários boxes com a orientação “clique aqui”, e vai sendo direcionada a diversos textos de propaganda. E depois de muitos minutos de leitura, quando o discurso já abraçou o(a) leitor(a), aparece o valor daquele produto. E a pessoa, se conseguiu manter a postura crítica diante de tudo o que leu e não se deixou convencer, sente-se violentada e enganada.
Na verdade, ao menos para mim, isso tudo são crimes contra a saúde pública e contras as relações de consumo. Não há embasamento científico algum nem informações precisas, conforme exige o Código de Defesa do Consumidor. O êxito está na exploração do desespero das pessoas, que sempre procuram uma saída rápida e milagrosa para seus males.
Certamente, as crendices e superstições sempre existiram. Isso é fato. Com efeito, agora elas ganharam canais de divulgação e se tornaram meios de enriquecimento ilícito. Estelionatários exploram a fé e a boa vontade das pessoas, ganham rios de dinheiro e saem impunes. Tudo isso diante da inércia fiscalizadora dos órgãos de controle da saúde pública e, pasmem, até mesmo da justiça.
O caso mais grave ocorreu recentemente em São Paulo, quando duas cientistas foram condenadas a pagar indenização por danos morais a um suposto profissional que afirmava que o diabetes era provocado por parasitas. Isso tudo porque as cientistas provaram que não há relação alguma entre diabetes e parasitas. Felizmente, para o bem da ciência e da própria sociedade, a sentença foi anulada pelo STF.
Conclusão
Como dito, estamos diante de um enorme desafio. Trata-se de um desafio civilizacional. As fake news viraram mercadorias e muita gente está vendendo e ficando rica com elas. Nesse sentido, é preciso fortalecer as ações de educação em saúde, bem como os canais de combate à desinformação, consolidando, dessa forma, o jornalismo científico.
Mas, acima de tudo, é necessária a regulamentação urgente das redes sociais para que as pessoas possam ter o mínimo de proteção e garantias relacionadas à sua saúde. Do jeito que está, as notícias falsas representam uma ameaça real à saúde pública.
Isso ocorre porque, quando disseminadas, as informações falsas sobre doenças, tratamentos e vacinas geram pânico, desconfiança com relação ao serviço público e privado de saúde e colocam em risco a vida de muitas pessoas.
*O autor é sociólogo.
Arte: Gilmal