Luiz Inácio Lula da Silva é um fenômeno eleitoral. Sem dúvidas, é o maior vencedor de eleições presidenciais do Brasil de todos os tempos. Em 2022, ele poderá vencer a sua quinta disputa, pelo que indicam todas as pesquisas.
Mas por que será que esse cenário se apresenta mesmo com os sumários esforços para desmoralizá-lo?
Alguém que não tenha acompanhado com atenção sua trajetória pode objetar a possibilidade extremamente viável de sua vitória este ano e dizer: de onde vem essa sua convicção? Eu respondo, da história e da sociologia. Nesse sentido, vamos, primeiramente, à história.
Em trinta anos de eleições presidenciais democráticas no Brasil, com o advento da nova república, Lula, direta ou indiretamente, participou de todas elas. Sua trajetória vencedora nas eleições majoritárias teve início em 1989, quando chegou ao segundo turno com Fernando Collor de Melo, seu oponente.
Vítima de campanhas difamatórias veiculadas fartamente na grande mídia nacional às vésperas daquele pleito, Lula não venceu aquela eleição, o que se repetiu nas disputas de 1994 e 1998, decididas em primeiro turno.
Todavia, ele foi protagonista dos movimentos sociais e políticos de esquerda, em todas elas.
Novamente, alguém pode apontar e dizer: mas ele foi derrotado! Ao que eu respondo: não foi, pelo contrário, ele cresceu e amadureceu seu projeto político, solidificando uma base eleitoral que lhe daria a vitória nas eleições seguintes.
Assim, quando se somam os votos das três eleições perdidas, percebe-se o gigantismo de seu nome. Ou seja, de 1989 a 1998, 69.663.837 de eleitores confirmaram o 13 nas urnas.
Lula segue, então, sendo protagonista e, em 2002, vence a sua primeira eleição presidencial com 61,27% dos votos, contra 38,72% de José Serra, do PSDB, seu adversário no segundo turno. No total, Lula teve 52.793.364 de votos.
Na eleição de 2006, o quadro praticamente se repete. O adversário dessa vez foi Geraldo Alckmin, também do PSDB, e Lula o venceu com 60,83% dos votos válidos, ou seja, 58.295.042 de eleitores o escolheram. Geraldo, consequentemente, obteve 39,17% dos votos válidos.
Já nas eleições de 2010 e 2014, Lula venceu com Dilma Rousseff. A primeira mulher a se tornar presidente do Brasil foi uma indicação sua. Os adversários? O mesmo PSDB de sempre, com José Serra, em 2010, e Aécio Neves, em 2014.
A força política de Lula foi novamente testada e mostrada em 2018, quando, mesmo preso injustamente, registre-se, mesmo proibido, de forma arbitrária, de dar entrevistas no percurso da campanha, ele, com muita serenidade e carisma, ajudou a levar Fernando Haddad ao segundo turno. Seu candidato não venceu, mas obteve 44,87% dos votos válidos. É importante lembrar que Haddad, no início da corrida eleitoral, tinha apenas 4% das intenções de votos.
Para mim, em 2018, Lula obteve mais uma vitória sobre seus adversários dadas às circunstâncias daquele processo eleitoral, marcado por ataques pessoais, perseguições jurídicas e propagação de fake news em larga escala. Isso, claro, somado ao injusto impedimento de sua candidatura.
Em 2022, o Brasil realizará a sua nona eleição presidencial direta. Novamente, Lula é o protagonista, visto que todas as pesquisas revelam isso, indicando, inclusive, uma real possibilidade de vitória de sua candidatura já no primeiro turno.
Feita essa breve retrospectiva, na qual apresentei números extraídos do próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmo que não surgiu, no Brasil, nas últimas quatro décadas, nenhum personagem como Luiz Inácio Lula da Silva – seu carisma é único. É neste ponto, então, que surge a explicação sociológica de seu sucesso, mencionada anteriormente.
Lula é a materialização de alguns conceitos encontrados na sociologia weberiana. Um exemplo é o conceito de dominação carismática, na qual, segundo Weber, “a legitimidade da autoridade do líder lhe é conferida pelo afeto e pela confiança que os indivíduos depositam nele”.
Ademais, Lula também se enquadra naquilo que Weber definiu como a ética da convicção, na qual “o indivíduo permanece fiel às suas concepções e valores, independente das consequências práticas que isto possa ter”.
Podemos ver esse conceito sendo aplicado na prática quando, condenado injustamente, pura e simplesmente por conta de um lawfare , Lula não fugiu do país, embora tivesse como fazer isso. O ex-presidente também não se revoltou, não pregou o ódio ou a rebelião, não desmoralizou as instituições e sempre buscou, dentro do devido processo legal, provar a sua inocência.
Nesse sentido, Lula agiu weberianamente, dentro dos princípios que regem a ética da responsabilidade, guiando-se por esta ética e refletindo firmemente sobre as consequências de suas ações e decisões, o que nos leva novamente a Weber, que aponta que “é das consequências políticas de suas decisões que [os dominantes carismáticos] respondem pela moralidade de seus atos”.
Lula é, portanto, um fenômeno eleitoral e, como demonstrei neste texto, isso não é pieguismo, trata-se de um dado histórico, impossível de ser negado, pois está fartamente registrado nos anais da história.
Negar a importância de Lula, seu carisma, seu potencial eleitoral, bem como o seu compromisso com o Brasil, não é apenas desconhecer a recente história política do Brasil, é também assumir uma postura imposta pelo autoengano.
Sociólogo
Foto: Eric Gomes/Instituto Lula