Por Aldenor Ferreira *
O que faz um autor se tornar um clássico? Certamente é a originalidade, a permanência de sua obra através do tempo, o que é o caso do sociólogo estadunidense Charles Write Mills (1916-1962).
Outro ponto importante para essa definição é a capacidade de análise de questões que estão para além de seu momento histórico e, também, a competência para dialogar com públicos de tempos e contextos diferentes.
A sociedade muda, mas a obra permanece, e o texto do autor, mesmo depois de sua morte, continua fazendo sentido aos novos leitores.
Nesse sentido, o livro A imaginação sociológica , de Charles Write Mills, publicado pela primeira vez em 1959, é um clássico, pois continua dialogando com as novas gerações e inspirando a análise de novos temas.
Uma questão atual presente nessa obra, faz referência à necessidade de uma escrita inteligível para a compreensão dos temas abordados, sejam eles complexos ou não.
Nesse texto, há indicações claras de como deveria ser a produção intelectual e a comunicação científica, afinal, como o próprio autor diz, “escrever é pretender atenção dos leitores”.
Mills critica duramente a forma de escrita do “homem acadêmico” que, com o pretexto de buscar um rigor e uma erudição, acaba, muitas vezes, tornando incompreensíveis determinados temas. “Escrever é pretender ser lido, mas por quem?”, questiona o sociólogo.
Como bons artesãos intelectuais, os cientistas sociais e os demais escritores deveriam “tornar mais objetivo o pensamento, qualquer que seja, devendo trabalhar no contexto da apresentação, ou melhor, pensar claramente”. Afinal, “a linha entre a profundidade e a verborragia é, com frequência, delicada, perigosa mesmo”, nas palavras dele.
Atualmente, com o mercado editorial inundado por toda sorte de publicações, facilitadas pelo advento da internet e dos editores de texto, o desafio de ser lido é imenso, evidenciando a atualidade dos postulados desse autor clássico.
Assim, nessa disputa, uma questão importante deve ser levada em conta: quem visualizará e lerá seu texto? A resposta é: depende.
Depende de como ele será produzido e de como o algoritmo do Google fará a análise dos fatores internos e externos do Search Engine Optimization (SEO). O SEO é um conjunto de estratégias e técnicas cuja finalidade é posicionar melhor as páginas de um site nas buscas gerais, colocando-as em evidência e facilitando, dessa forma, a sua localização.
Nesse processo, como indicado por Mills, é preciso ter uma linguagem clara, direta, com parágrafos curtos, uso de palavras-chave e texto sintético, que comunique com eficiência sem se tornar raso.
Os algoritmos do Google – que passam por atualizações anualmente, pelo menos desde 2011 – exigem uma nova forma de escrita, uma nova linguagem e um novo encadeamento das ideias de um texto.
Isso rompe com todo o nosso modelo histórico de produção de textos e com a nossa forma culturalmente estabelecida de escrita, principalmente para os escritores da academia.
Mas, afinal, estaríamos condenados à ditatura dos algoritmos e aos seus ranqueamentos? Ou, de fato, é preciso reaprender a escrever, tornando mais objetivo o pensamento, qualquer que seja ele, nos adequando à nova mecânica das ferramentas de busca?
São questões para refletirmos e escrevermos. Mas de forma breve.
*Sociólogo