Um dos mais devotos colaboradores do jornal A Crítica, o advogado Júlio Antônio Lopes acaba de ser desligado da empresa.
A saída dele vinha sendo discutida desde a semana passada, mas fechada ontem, domingo, segundo fonte do impresso.
Ele ainda deve ficar no jornal até quarta-feira, mas apenas para concluir acordos trabalhistas.
O fim da relação entre ele e A Crítica teria sido em consequência de atraso em pagamentos.
Júlio Antônio Lopes era articulista semanal, estava no jornal A Crítica há 24 anos e cuidou não apenas da defesa jurídica do impresso, mas também da história do jornal.
Ele, por exemplo, publicou vários livros com a chancela da RCC e o mais importante deles foi a biografia do fundador do matutino, Umberto Calderaro, uma densa pesquisa que fez nos anais do jornal e outras fontes.
No fim de semana, em seu último artigo publicado pelo jornal, Júlio Antonio pode ter deixado escrito nas entrelinhas o momento de sua relação com a empresa.
No texto, “Caráter custa caro”, ele critica a falta de caráter das pessoas no mundo atual e diz que há “escassez de pessoas em que se possa confiar”.
“Meu amado pai costumava dizer que, nos tempos dele, acontecia o inverso. Se alguém combinava com você alguma coisa, não era preciso nenhum documento escrito; bastava um fiapo de bigode para a promessa se concretizar. Faltar com a palavra, enganar, mentir, levar vantagem desonesta em qualquer espécie de negócio, quando flagradas, eram condutas que causavam grande reprovação social e vergonha, às vezes mortal, para o seu protagonista”, escreve.
Ele encerra o texto, dizendo que seu caráter custa caro e que paga o preço.
Leia a seguir o último artigo de Júlio Antonio Lopes, no jornal A Crítica, edição do dia 14.
Caráter custa caro
O nosso país, ninguém desconhece, vive a pior crise de sua história. Tirando as questões econômicas, sociais e políticas, parece-me que a origem do problema está de fato na formação, melhor dizendo, na deformação do caráter das pessoas, sobretudo daquelas que se encontram, na sua maioria, em posição de decidir, de ditar os rumos da nação, seja na esfera pública, seja na esfera privada.
Muita gente se preocupa com a educação formal, com cursos e mais cursos para adquirir a desejada competência técnica neste mercado ultracompetitivo em que estamos inseridos, mas se esquece de adquirir e de cultivar princípios morais. Sem isto, meus amigos, nada pode prosperar.
A crise, no fundo e no fim, é de confiança. Há escassez de pessoas em que se possa confiar.
Meu amado pai costumava dizer que, nos tempos dele, acontecia o inverso. Se alguém combinava com você alguma coisa, não era preciso nenhum documento escrito; bastava um fiapo de bigode para a promessa se concretizar. Faltar com a palavra, enganar, mentir, levar vantagem desonesta em qualquer espécie de negócio, quando flagradas, eram condutas que causavam grande reprovação social e vergonha, às vezes mortal, para o seu protagonista.
Hoje o pilantra ainda ostenta e se jacta!
O caráter, em termos simples, é aquele conjunto de virtudes e defeitos que determinam as ações humanas e acabam por marcar o sujeito como de boa ou má índole.
Vale a pena, porém, buscar o aperfeiçoamento pessoal e se inserir no mundo como um elemento de edificação.
Ser alguém de bom caráter nos tempos atuais não é fácil, a porta está cada vez mais estreita.
Acredito, contudo, que der vamos remar contra a corrente e fazer como ensinava o saudoso poeta português Sidônio Muralha: Parar, parar não paro. Esquecer, esquecer não esqueço. Se caráter custa caro, pago o preço.
Foto: Divulgação/TRE-AM/Mário Oliveira