Advogado é acusado de golpe em gari aposentada de Parintins

Em entrevista ao BNC Amazonas, o filho da vítima, Geovane Soares disse que Patrick Gadelha recebeu o valor de R$ 21 mil da rescisão trabalhista, sacou e gastou tudo sem dar explicações

Gabriel Ferreira da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 17/03/2023 às 11:50 | Atualizado em: 21/03/2023 às 13:53

Por mais de 17 anos, Lucenilda Soraes, 64, trabalhou debaixo de sol e chuva na profissão de gari pela Secretaria de Municipal de Obras da Prefeitura de Parintins.

Após tantos anos de luta limpando as ruas da cidade para garantir o sustento da família, havia chegado o momento de se aposentar e descansar. No entanto, não foi isso que aconteceu, pois a ex-gari foi vítima de um golpe.

Em entrevista exclusiva ao BNC Amazonas, o filho da aposentada parintinense, Giovane Soares denunciou o caso, em que o advogado Patrick Gadelha (OAB/AM 9044) recebeu a indenização de Lucenilda Soares sem comunicar e embolsou o valor de R$ 21.134. Desse total, o advogado teria direito apenas a 30%.

O caso começou no ano 2019, quando a aposentada deu entrada no processo de rescisão no Tribunal Regional do Trabalho da 11ª região, em Parintins.

À época, Lucenilda Soares foi atendida pelo advogado Patrick Soares, que havia assumido outras causas semelhantes, por trabalhar à prefeitura. No entanto, com o passar do tempo, ele sequer comunicou sobre o andamento do processo na 1ª Vara do Trabalho de Parintins levantando suspeitas.

“Durante todo o andamento do processo a gente tem procurado ele pra saber, pra se informar, porque ele nunca informava pra gente como o processo estava”, disse o denunciante.

De acordo com Giovane Soares, em 2019, eles foram até a Junta do Trabalho para saber a respeito da liberação do valor a ser repassado para sua mãe.

“Foi dado o prazo de mais ou menos 1 ano, no máximo 2, pro valor dela ser liberado. Na época estava em R$ 14 mil. Passou esse prazo, já está inteirando quase e nada do advogado dela entrar em contato”, declarou.

Tempo depois, à procura de informações sobre o processo, Lucenilda e seu filho foram surpreendidos de que o alvará havia sido despachado pelo juiz Eduardo Miranda Barbosa Ribeiro, no dia 10 de agosto de 2021, autorizando o Banco do Brasil para fazer transferência do valor para a conta do advogado, que recebeu três dias depois em conta o depósito.

A partir disso, Geovane Soares descobriu somente no dia 9 deste mês, o saque de todo o valor feito pelo advogado Patrick Gadelha.

Confira os documentos:

Em procedimento de praxe, parte dos honorários ficaria com Patrick Gadelha e outra seria para a cliente. Mas não aconteceu dessa maneira, pois o advogado não entrou em contato e ficou com o dinheiro e gastou sem dar explicações.

“Através da própria junta de trabalho, nós tentamos com um documento fazer com que ele fosse intimado a prestar esclarecimento e a devolver, e que também o processo fosse desarquivado. E aí nós não conseguimos, porque o juiz deu parecer desfavorável ao nosso documento”, relatou Giovane.

Após essa situação, foi feita uma ligação ao advogado para tratar sobre a devolução do dinheiro.

“Ele falou que a gente poderia se dirigir até o escritório dele, que era pra ele efetuar o pagamento. Nós fomos até lá e ele disse que não tinha o dinheiro e que infelizmente a gente teria que esperar até o final do mês que ia tentar contatar o banco dele pra conseguir dinheiro”, explicou.

Giovane Soares também contou que questionou o valor a ser devolvido com juros e correção monetária, mas o advogado se negou a pagar sem os devidos reajustes.

De acordo com ele, a explicação de Patrick Gadelha foi de que o ano de 2021 foi um ano difícil, “mas nada justifica o fato dele ter ficado com o dinheiro da minha mãe”.

A partir disso, o filho de Lucenilda foi até a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), subseção de Parintins, fez a reclamação formal e segue aguardando resposta.

Procurada pelo BNC Amazonas, a presidente da OAB de Parintins, Ana Cláudia Conde Vieiralves, explicou que os procedimentos adotados após a denúncia, foi entrar em contato com o advogado para tentar acordo, mas ele “se reservou ao direito que lhe assiste resolver pelas vias judiciais”.

Ainda de acordo com a presidente, “após a resposta do advogado, encaminhamos todos os documentos e a representação assinada pela representante/denunciante ao Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/AM, na data de hoje, de forma online”.

Tentativa de B.O negado

Geovane Soares foi até a delegacia de Polícia para registrar o Boletim de Ocorrência contra o advogado, no entanto, a solicitação foi negada, pois o acordo precisa ser resolvido na OAB-AM, devido ser um caso administrativo.

Por outro lado, se não houver acordo, será autorizado o B.O por ser causa criminal.

Advogado fez pouco caso

Geovane Soares relatou que o advogado “fez pouco caso da situação”, e colocou somente uma condição para fazer o pagamento.

“Ele (disse que) sabia das consequências que a gente poderia procurar a OAB, que a gente poderia registrar o boletim de ocorrência. Vocês podem ficar a vontade pra procurar os direitos de vocês. E se vocês quiserem esperar até final do mês, eu pago. Mas sem a correção monetária”, declarou.

Procurado para dar esclarecimentos sobre a denúncia, o advogado Patrick Gadelha respondeu em mensagem via WhatsApp: “O caso já está na justiça, tenho a consciência tranquila, tudo será resolvido nas vias corretas. Grato pelo contato”.

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Advogado Bolsonarista

Nas redes sociais, Patrick Gadelha compartilha diversas postagens exaltando os “feitos” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Dessa forma, existem inúmeros ataques a partidos, movimentos de esquerda, o presidente Lula da Silva (PT), além de compartilhar postagens com desinformação.

Foto: Reprodução/ Facebook