Amazonas: violĂªncia explode no interior com trĂ¡fico pelos ‘rios da cocaĂ­na’

O estudo aponta que 27% dos homicĂ­dios na regiĂ£o entre 2005 e 2020 estĂ£o ligados a essa mudança.

CMA aperta combate a crimes ambientais na AmazĂ´nia

Publicado em: 31/01/2025 Ă s 14:49 | Atualizado em: 31/01/2025 Ă s 15:06

A escalada da violĂªncia em municĂ­pios do interior do Amazonas tem relaĂ§Ă£o direta com o trĂ¡fico de drogas que se intensificou nos rios da regiĂ£o apĂ³s a Lei do Abate, que restringiu pesadamente voos para o transporte de entorpecentes. Em EirunepĂ©, cidade com 33 mil habitantes, a taxa de homicĂ­dios aumentou 819% entre 1996 e 2020. Cruzeiro do Sul (AC), que tambĂ©m margeia o rio JuruĂ¡, viu seus Ă­ndices crescerem 595% no mesmo perĂ­odo. O fenĂ´meno atinge dezenas de cidades na AmazĂ´nia, cortadas por 16 rios identificados como corredores do narcotrĂ¡fico entre Brasil, Peru, ColĂ´mbia e BolĂ­via.

O trĂ¡fico migra dos ares para os rios

A mudança nas rotas do trĂ¡fico ocorreu a partir de 2004, quando o governo brasileiro implementou a Lei do Abate, permitindo Ă  Força AĂ©rea Brasileira (FAB) interceptar aeronaves suspeitas de transportar drogas. Com o espaço aĂ©reo mais vigiado, os criminosos passaram a escoar a cocaĂ­na pelos rios, o que trouxe o narcotrĂ¡fico para mais perto das comunidades ribeirinhas.

Os traficantes passaram a contratar barqueiros, seguranças e fornecedores de equipamentos, criando um ciclo de criminalidade que impacta diretamente a populaĂ§Ă£o local.

Entre 2005 e 2020, essa nova dinĂ¢mica foi responsĂ¡vel por 27% das 5.337 mortes violentas registradas em 67 cidades da AmazĂ´nia Ocidental situadas ao longo desses rios.

AmazĂ´nia Ă© corredor global da droga

AtĂ© o inĂ­cio dos anos 2000, o Brasil tinha pouca relevĂ¢ncia no trĂ¡fico internacional de cocaĂ­na. No entanto, apĂ³s a intensificaĂ§Ă£o da repressĂ£o aĂ©rea, o paĂ­s se tornou o terceiro em volume de apreensões, atrĂ¡s apenas dos Estados Unidos e ColĂ´mbia.

Com sua extensa malha fluvial e fronteiras porosas, a AmazĂ´nia passou a ser peça-chave na distribuiĂ§Ă£o da droga para o restante do Brasil e para mercados da Europa e AmĂ©rica do Norte.

Facções disputam domĂ­nio na regiĂ£o

A presença do narcotrĂ¡fico na AmazĂ´nia atraiu o interesse de facções criminosas do Sudeste, como Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC), alĂ©m de estimular o crescimento de grupos locais, como a FamĂ­lia do Norte (FDN).

A disputa pelo controle das rotas fluviais levou ao aumento da violĂªncia em diversas cidades da regiĂ£o, com homicĂ­dios concentrados entre homens de 20 a 49 anos, geralmente por armas de fogo ou facas.

Medidas de repressĂ£o e desafios futuros

Pesquisadores apontam que a soluĂ§Ă£o para conter a violĂªncia nĂ£o pode depender apenas do aumento do policiamento. Eles defendem o uso de tecnologia, como drones e radares mĂ³veis, alĂ©m da cooperaĂ§Ă£o entre os paĂ­ses andinos para controlar o fluxo de cocaĂ­na na origem. TambĂ©m Ă© essencial oferecer alternativas econĂ´micas sustentĂ¡veis Ă s comunidades ribeirinhas para evitar que a populaĂ§Ă£o seja cooptada pelo trĂ¡fico.

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Foto: divulgaĂ§Ă£o