Amazonas: 50 de 62 municípios enfrentam seca extrema e severa

No mês passado, estavam nessa condição 40 municípios

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 06/09/2024 às 16:30 | Atualizado em: 06/09/2024 às 17:02

Boletim divulgado pelo Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), prevê que as secas extrema e severa vão atingir 50 municípios amazonenses este mês.

No mês passado, estavam nessa condição 40 municípios, dos quais quatro em situação de seca extrema, 36 severa e 22 moderada. A previsão para setembro é que sejam oito na condição extrema, 42 severa e 12 moderada.

A primeira modalidade ocorre uma vez em cada 20 ou 50 anos com grandes perdas de cultura e escassez de água generalizada. O intervalo entre as secas severa é de dez ou 20 anos também com os mesmos efeitos.

“A situação é particularmente preocupante em alguns municípios, tais como Santa Isabel do Rio Negro, que já enfrenta seca severa e extrema há 12 meses”, diz nota do Cemaden.

No ranking liderado no país por Cacoal (RO), o Amazonas tem quatro municípios na condição de seca extrema: Carauari, Guajará, Ipixuna e Itamarati.

São dez municípios rondonienses ocupando as primeiras posições, seguidos de quatro do Acre e quatro do Amazonas.

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Em agosto, o Cemaden alerta que foi observado um agravamento da seca no Acre e no oeste do Amazonas.

Embora a seca tenha se intensificado entre os meses de maio a agosto deste ano, o centro de monitoramento lembrou que o fenômeno, na faixa entre Amazonas, Acre, São Paulo e Triângulo Mineiro, começou ainda no segundo semestre de 2023.

“Como resultado desta situação, muitos municípios já enfrentam condições de seca por 12 meses consecutivos, contribuindo para a redução dos níveis e vazões dos rios e do maior risco para a propagação de fogo”, diz o órgão.

Secas e cheias

O MCTI divulgou nesta sexta-feira (6) estudo do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) no qual aponta que as secas e cheias na região serão mais constantes nas próximas décadas.

O meteorologista Renato Senna, pesquisador do Inpa e coordenador de hidrologia do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera (LBA/Inpa), diz que as bacias hidrográficas da Amazônia enfrentam uma situação de estiagem crítica para 2024, com previsões que indicam mais severidade quando comparado ao mesmo período do ano passado.

De acordo com ele, o fim da estação seca, compreendido no trimestre de setembro, outubro e novembro, e o início da estação chuvosa, não apresenta sinais de recuperação significativa nas chuvas.

Os oceanos Atlântico e Pacífico, responsáveis pela influência nas chuvas da região, estão próximos da neutralidade, o que não sugere uma melhora significativa no curto prazo.

A atual crise ainda é intensificada, de acordo com o pesquisador, por fenômenos climáticos como o El Niño e o aquecimento anômalo do Atlântico Tropical Norte.

Os eventos reduziram as chuvas na região amazônica, dificultando o desenvolvimento das nuvens e comprometendo o abastecimento dos rios.

O período de chuvas costuma iniciar no final de novembro, mas para 2024 ainda não há previsão de uma mudança significativa no padrão climático.

Além disso, a fumaça das queimadas tem impactado a formação de nuvens de chuva, tornando a atmosfera mais estável e reduzindo a ocorrência de precipitações.

O pesquisador propõe políticas públicas para facilitar o acesso à água potável para as populações tradicionais, como ribeirinhos e indígenas.

“Precisamos implementar formas de acesso à água potável, seja por coleta e tratamento de água da chuva, mesmo em estações chuvosas deficitárias, ou por meio de poços artesianos profundos, garantindo que não haja contaminação durante as grandes enchentes”, disse o cientista.

Foto: Divulgação/FVS