Amazonas é líder de casos de pistolagem no Brasil, aponta CPT

Nos últimos dez anos, a pistolagem, que é uma ação de intimidação armada e que resulta muitas vezes em assassinatos, é que mais cresceu no país

Conflito de versões leva polícia a ouvir suspeitos de crimes no Javari

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 11/05/2024 às 08:00 | Atualizado em: 11/05/2024 às 08:34

O Amazonas está na liderança em número de registro de pistolagem no país em 2023. Das 10,9 mil famílias atingidas por esse tipo de violência em decorrência da ocupação e posse de terra, 7,3 mil famílias são do estado.

Nos últimos dez anos, a pistolagem, que é uma ação de intimidação armada e que resulta muitas vezes em assassinatos, é que mais cresceu no país.

Esse tipo de violência contra a ocupação e a posse da terra foi a que mais teve registros de ocorrência em 2023, 264, crescimento de 45% em relação ao ano de 2022.

Os dados estão na 38ª edição do relatório Conflitos no Campo Brasil, elaborado anualmente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Dos 2.203 conflitos no campo registrados no ano passado, 1.034 ocorreram na Amazônia Legal.

No Amazonas, são 86 conflitos por posse de terra e mais 10 pela disputa da água. Os três maiores na região são Pará (226 ocorrências), Maranhão (206) e Rondônia (186).

A região da Amacro, também chamada de Zona de Desenvolvimento Sustentável (ZDS) Abunã-Madeira, que abrange 32 municípios do Amazonas, Acre e Rondônia, é uma das mais violentas.

De acordo com o relatório, a região que deveria ser “modelo” de desenvolvimento com foco na sociobiodiversidade, tornou-se epicentro de grilagem para exploração madeireira e criação de gado, com altas taxas de desmatamento, queimadas e conflitos.

Em 2023, a Amacro concentrou 10% (179) de todos os conflitos por terra registrados no país, e 26% de todos os assassinatos ocorridos em contexto de conflitos no campo.

Do total de 31 assassinatos no país, 8 foram na região, sendo 5 causados por grileiros. “Dentre as 9 vítimas da categoria “sem terra”, 5 delas são dessa região”, diz o documento.

São vítimas: o sem terra José Francisco Almeida da Conceição, Zé Pretinho, 40 anos, na Fazenda Jaó (Canutama), morador do quilômetro 32 da BR-319; Gilson Silva da Rosa, 41 anos, do Ramal dos Buritis (Humaitá), Cleide Silva Dalla Libera, 30 anos, e Abalau Lacheski da Cruz, 40 anos, ambos posseiros da Comunidade Ipixun (Humaitá).

Apesar da diminuição de 34% no número de assassinato, os índices desse crime se mantiveram estáveis na Amacro nos últimos dois anos.

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Ameaças

Houve 18 ameaças de mortes, a maior parte na região do Vale do Javari, onde foram assassinados o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Philips, mortos após emboscada na região há dois anos.

As regiões no Amazonas onde foram registrados o maior número de conflitos estão nos municípios de Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Jutaí, São Paulo de Olivença na região do Vale do Javari, onde prevalece a violência contra indígenas.

Conflitos foram registrados em praticamente todos os municípios, sendo que alguns concentraram mais casos como Boa do Acre e Autazes, ambos envolvendo conflitos com posseiros e em terras indígenas.

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Manaus

O relatório registrou conflitos por terra em Manaus, a maior parte envolvendo indígenas.

São as áreas da comunidade Nusoke, acampamento dos povos indígenas remanescentes de Tarumã, ramal São Cristóvão (Suframa) e comunidade São João/km 4 da BR-174, este envolvendo posseiros.

Foto: divulgação/PF