Por Iram Alfaia, de Brasília
Dos 45.256 focos de incêndios florestais nos estados da Amazônia Legal, entre 1º de janeiro e 29 de agosto, o Amazonas registrou 8.098 queimadas, ou 17,7% do total.
O estado só ficou atrás do Pará (12.055) e do Mato Grosso (10.230). Os dados, que foram comparados a média de incêndios dos oito anos anteriores (2011-2018), indicam que houve um aumento expressivo de queimadas na região.
O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), responsável pelo estudo, alerta que Amazônia continua em chamas
Segundo a instituição, a temporada de fogo de 2019, que chamou a atenção do Brasil e do mundo nas últimas semanas, ainda não acabou.
“Continua sendo imprescindível a ação do governo nas esferas federal e estadual no combate ao fogo, assim como é fundamental coibir a fonte que o alimenta: o desmatamento, ou a região ainda conviverá com números altos de focos setembro adentro”, diz o estudo.
No Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, regiões de avanço da fronteira agropecuária, houve avanços das queimadas em todas as categorias analisadas.
São elas:
Terras Indígenas (TI); Unidade de Conservação (UC); Área de Proteção Ambiental (APA); Assentamentos Rurais (ASR); Propriedades Rurais (PP); Florestas Públicas Não Destinadas (ND); e Áreas sem Clara Informação Fundiária (Sem info).
No Amazonas, o maior número de focos está nos assentamentos rurais, sobretudo no Sul do estado.
Ao levar em conta a média de 1.200 incêndios nos anos anteriores, este ano foram registradas nessas localidades 2.780 queimadas.
O segundo maior índice do estado está nas florestas públicas: 2.002 focos contra 1.100 do período anterior.
O número de incêndio nas propriedades privadas também foi substancial: 1.903 contra uma média anterior de 800 focos.
Um dado preocupante no estado foi o crescimento de focos nas terras indígenas. Segundo o estudo, houve o registro, este ano, de 361 ocorrências contra uma média de 210 no passado.
Por outro lado, nas unidades de conservação ocorreu decréscimo de 190 para 168 focos. Nas áreas de proteção ambiental a situação ficou estável com o registro de apenas 42 queimadas.
Metodologia
O Ipam justificou o estudo com base numa preocupação. É que o período de seca de 2019 tem sido mais brando do que os três anos anteriores, não justificando a explosão no número de focos de calor, como analisado em nota técnica anterior.
Essa situação desafiou os técnicos a procurarem os focos nas categorias florestais. Para isso, utilizaram dados do sistema do satélite AQUAM-T, considerado como satélite de referência pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A conclusão é que as queimadas e incêndios florestais estão, de fato, atreladas ao desmatamento e não “a severidade da época seca deste ano”.
“O indicador principal é a alta proporção de focos em propriedades privadas e assentamentos possivelmente devido à conversão de florestas em outros usos, e em florestas públicas não destinadas, como resultado da grilagem e da ação de criminosos interessados em especular com a terra”, concluiu.