Amazonas: secas severas podem atingir rios Madeira e Solimões

Pesquisador do Inpa diz que os fenômenos climáticos que atingem a região são resultado das mudanças climáticas no planeta

Seca se pronuncia mais severa em 2024, na região Norte

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília  

Publicado em: 06/06/2024 às 17:02 | Atualizado em: 07/06/2024 às 05:27

O terceiro alerta de cheias da bacia do rio Amazonas, divulgado nesta quinta-feira (6) pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), prevê secas severas nos rios Madeira e Solimões, sendo que no rio Negro a situação é de normalidade.

Por outro lado, o Amazonas não terá cotas tão altas de cheias neste ano, pois nos últimos meses a precipitação de chuvas está muito abaixo da climatologia em toda a região.

Nós não teremos uma cota tão alta, isso é um ponto. Se a gente tivesse com cheias, cotas mais altas, essa seria a preocupação do momento atual. Se a natureza cooperar, tenha alguma mudança, a gente não terá uma seca tão grande como imaginamos que possa acontecer, disse o superintendente regional de Manaus do SGB, Marcelo Motta.

A pesquisadora do SGB Jussara Cury apontou que há uma previsão de anomalia com precipitação muita baixa de chuvas nos meses de junho, julho e agosto como ocorre no Madeira, principalmente na região de Porto Velho (RO).

Na parte sul, nos rios Purus, Juruá e Javari, a situação é considerada muito ruim, pois as precipitações de chuva continuam muito baixas.

No norte da bacia, o rio Branco dá um certo alívio para Boa Vista (RR) e Manaus, uma vez que que ele tem influência no rio Negro.

“Destaco a situação de Itacoatiara, que é outro ponto de cuidado porque o rio não chegou na fase de normalidade e há uma tendência de descida”, disse a pesquisadora.

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Rio Negro

O climatologista do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) Renato Senna destacou que houve uma recuperação do rio Negro, que chegou a se aproximar do padrão climatológico e a expectativa é que aumente a precipitação para anomalias positivas.

O comportamento do rio Japurá é similar ao Negro e rio Içá saiu do déficit de precipitação. “Começou a se aproximar das condições que a gente espera”.

Contudo, a situação dos rios Marañon, Ucayali, Juruá e Purus, formadores do Solimões, é tão ruim que nem o modelo de monitoramento consegue acompanhar.

“No rio Purus, o modelo consegue acompanhar um pouco melhor, mas está em um processo de redução de precipitação”.

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El Niño

O pesquisador do Inpa disse que os fenômenos climáticos que atingem a região é resultado das mudanças climáticas no planeta.

“Ontem, durante as comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente, o Instituto Internacional Copérnico da União Europeia divulgou que nós estávamos há 12 meses consecutivos com recordes de temperatura. Coincidentemente, nós estamos agora 12 meses de precipitação abaixo da climatologia em quase toda a bacia amazônica”.

O baixo índice de chuva tem relação direta com o estabelecimento do El Niño [aquecimento das águas do oceano Pacífico], no início do segundo semestre de 2023, com o aquecimento atípico do oceano Atlântico norte.

“Então, essas coisas não são coincidência. São evidência de que a gente está passando por um momento de mudanças climáticas seja natural, seja de ação antrópica”, disse Senna.

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La Niña

Mesmo com o Atlântico norte ainda bastante aquecido, a boa notícia é que no segundo semestre seja estabelecido o La Niña, que tem efeito contrário ao El Niño.

“Se o La Niña se estabelecer vai nos trazer condições de chuva maior no último trimestre deste ano [outubro, novembro e dezembro], início da próxima estação chuvosa. Então, como climatologista, minha expectativa é que a consequência de um La Niña só vai se estabelecer no início da estação chuvosa”.

Foto: Ronaldo Siqueira/especial para o BNC Amazonas