Amazonas tem duas áreas protegidas com terras raras entre mais cobiçadas

Cresce o interesse de mineradores pela exploração em áreas indígenas e de conservação na Amazônia.

Publicado em: 07/08/2025 às 18:40 | Atualizado em: 07/08/2025 às 18:40

De acordo com levantamento da Repórter Brasil, com base em informações da Agência Nacional de Mineração (ANM), da Funai, do Incra e do Ministério do Meio Ambiente, dois territórios protegidos no Amazonas estão na lista das áreas mais cobiçadas por mineradoras interessadas na exploração de terras raras: o Parque Estadual Serra do Aracá e a Floresta Estadual Sucunduri.

Ao todo, 41 áreas protegidas na Amazônia Legal, entre terras indígenas, territórios quilombolas e unidades de conservação, são alvo de 157 pedidos ativos para exploração de terras raras.

A Floresta Estadual do Amapá lidera o ranking nacional.

Os pedidos aumentaram de forma expressiva a partir de 2022. Atualmente, o Brasil possui 2,9 mil solicitações em todo o território nacional para esse tipo de minério. Cerca de 82% foram protocoladas nos últimos três anos.

Riqueza cobiçada, risco ignorado

As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos usados na produção de turbinas eólicas, carros elétricos, armamentos e equipamentos aeroespaciais.

O Brasil tem a segunda maior reserva do mundo, atrás apenas da China. A previsão é de que a demanda global cresça até 60% até 2040, segundo a Agência Internacional de Energia.

Mas o avanço da mineração sobre áreas protegidas preocupa especialistas. Só na Amazônia, 103 dos pedidos estão dentro ou a menos de 10 km de territórios sensíveis. No caso do Amazonas, há registros sobrepostos a terras indígenas e unidades de conservação.

Apesar da legislação não proibir requerimentos minerários próximos dessas áreas, a portaria federal nº 60/2015 exige consulta prévia a comunidades indígenas e quilombolas, além de estudos específicos de impacto ambiental.

Velhas práticas

Para entidades socioambientais, o discurso de inovação e transição energética tem servido de justificativa para acelerar a exploração mineral em territórios protegidos.

“A mineração pode ter um novo boom, com novos impactos e desastres ambientais”, alertou Fábio Ishisaki, assessor do Observatório do Clima.

A situação se agrava com o novo projeto de lei de licenciamento ambiental, o chamado “PL da devastação”, que flexibiliza exigências em áreas ainda em processo de demarcação.

Para o procurador Bernardo Meyer, do Ministério Público Federal, o Brasil precisa agir com responsabilidade. “Não podemos aceitar a pressão externa e atropelar a responsabilidade ambiental e social”.

O coordenador da Conaq (Coordenação Ncional de Articulação das Comunidades Negras Rurais e Quilombolas), Vandeli Paulo dos Santos, questiona o modelo de desenvolvimento baseado na exploração.

“Essa riqueza não chega às populações tradicionais. Continuamos sendo explorados para enriquecer outros países”, afirmou.

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Foto: divulgação