O garimpo ilegal especialmente de ouro tem resultado na degradação ambiental e social na Amazônia.
Essa é a constatação do pesquisador Diego Brandão, do Painel Científico para a Amazônia, partir de observações, depoimentos de lideranças, documentos parlamentares, ações da polícia federal e de órgãos de fiscalização do governo.
Dessa forma, o doutor em Ciência do Sistema Terrestre, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e mestre em Ecologia, pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa ), afirma em seu artigo, publicado na revista Nacla Report on the Americas:
“O garimpo ilegal está se espalhando pela Amazônia. E isso tem degradado o meio ambiente e ameaçado os meios de subsistência das pessoas que vivem na região”.
Diz ainda que terras indígenas e unidades de conservação estão incluídas nas áreas onde os garimpeiros atuam de forma ilegal.
Leia mais
Assim, chefe da secretaria técnico-científica do Painel Científico para a Amazônia cita a terra indígena ianomâmi e a área de proteção ambiental (Apa) Triunfo do Xingu como exemplos de territórios pressionados pelo garimpo ilegal de ouro.
Infraestrutura cara
Além desses territórios, Brandão constata que rios importantes da região, como os rios Madeira (Amazonas e Rondônia) e Jamanxim (Pará) também fazem parte das áreas onde o crime organizado da extração ilegal de ouro está concentrado.
“Nessas extrações ilegais, às vezes, são encontradas infraestruturas de grande porte e de custos elevados. São dragas industriais, embarcações de diversos portes, balsa de combustível, avião de pequeno porte, helicópteros e retroescavadeiras são encontradas nas extrações ilegais. Isso aponta para um esquema envolvendo grupos criminosos capitalizados”, diz o pesquisador em seu artigo científico.
Governança ambiental
De acordo com Diego Brandão, o aumento do garimpo ilegal de ouro no Brasil, entre 2019 e 2022, foi impulsionado pelo enfraquecimento da governança ambiental.
Sem citar diretamente o governo de Jair Bolsonaro, o pesquisador afirma que o desmonte das políticas públicas de apoio aos povos indígenas e comunidades locais estão incluído.
“Além do mais [nessa desgovernança ambiental bolsonarista], houve uma redução do orçamento de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), abrindo espaço para a atuação do crime organizado”, ressalta.
Efeitos negativos
Segundo o artigo do doutor em Ciência do Sistema Terrestre, múltiplos efeitos negativos, relacionados ao garimpo ilegal de ouro, estão desconectando os povos Indígenas e as comunidades locais da floresta.
Isso inclui desmatamento, incêndios, assassinato, crime sexual e poluição de água por mercúrio.
Por esses efeitos negativos, a situação dos ianomâmis de Roraima e Amazonas foi tratada oficialmente como uma crise humanitária em janeiro de 2023.
“De fato, os indígenas reconhecem que a contaminação da floresta pela química do garimpo reduziu os peixes e a caça, deixando as pessoas doentes e desnutridas”, pontua Brandão em seu artigo.
Crime organizado
Portanto, constata o pesquisador do Painel Científico para a Amazônia, a expansão do garimpo ilegal de ouro causa a degradação do meio ambiente. Isso tem se expandido com apoio do crime organizado via esquemas que aportam muito dinheiro em infraestrutura.
“Como resultado, as fontes nutricionais e a qualidade de vida das populações que dependem de uma floresta saudável e rios fluindo sem contaminação da mineração estão sendo reduzidas”, conclui Diego Brandão.
Foto: BNC Amazonas