As queimadas na Amazônia entre junho e agosto deste ano resultaram em um aumento de 60% nas emissões de gases do efeito estufa em comparação ao mesmo período do ano passado, conforme pesquisa do Observatório do Clima. No total, foram liberadas 31,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO²) equivalente, um valor próximo ao total anual emitido pela Noruega (32,5 milhões de toneladas).
Impacto das queimadas nas florestas
De acordo com o levantamento, dos 2,4 milhões de hectares queimados, 700 mil correspondiam a áreas florestais, que sozinhas emitiram 12,7 milhões de toneladas de CO² equivalente. As queimadas na Amazônia, além de emitirem gases nocivos no momento dos incêndios, continuam a liberar CO² nos anos seguintes, devido à decomposição da matéria orgânica queimada, o que é chamado de “emissão tardia”. Na próxima década, estima-se que mais 2 a 4 milhões de toneladas de CO² equivalente sejam liberadas devido a esse processo.
Florestas mais vulneráveis após os incêndios
Além das emissões contínuas, as queimadas deixam as florestas mais vulneráveis a incêndios futuros. Ane Alencar, diretora científica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), explica que florestas que sofrem queimadas sucessivas se tornam mais inflamáveis, aumentando a quantidade de material combustível e tornando os incêndios subsequentes mais intensos. “Quando o segundo fogo vem, ele é mais intenso e emite muito mais gases do efeito estufa”, ressalta Alencar.
A biomassa amazônica e seu impacto nas emissões
Marcos Freitas, do Instituto Virtual de Mudanças Globais (Ivig) da UFRJ, aponta que a maior concentração de biomassa por hectare na Amazônia contribui para o aumento das emissões de gases do efeito estufa. “Enquanto o Cerrado tem menos biomassa por hectare, na Amazônia trabalhamos com 250 a 300 toneladas de carbono por hectare”, afirma Freitas.
O efeito estufa e suas consequências
Os gases do efeito estufa aprisionam o calor do sol na atmosfera terrestre, o que pode elevar as temperaturas globais.
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Embora o dióxido de carbono seja o gás mais conhecido, outros, como o metano e o óxido nitroso, têm um poder de retenção de calor muito maior. Por exemplo, uma tonelada de metano na atmosfera equivale a mais de 20 toneladas de CO² em termos de retenção de calor ao longo de 100 anos.
Desafios para mitigação
Ane Alencar alerta que as emissões das queimadas na Amazônia não são contabilizadas no inventário nacional de gases do efeito estufa, o que representa um desafio adicional aos esforços do Brasil em reduzir suas emissões.
A diretora científica do Ipam destaca que apenas incêndios relacionados ao desmatamento intencional são contabilizados, deixando de fora uma grande quantidade de gases liberados pela degradação ambiental na região.
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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil