Amazônia tem 10,6 mil focos de queimadas; Pantanal em alerta

Programa de queimadas do Inpe revela que focos de queimadas cresceram 898% no Pantanal. Na Amazônia, 107%; e no Cerrado 42%

Amazônia: Inpe aponta recorde de queimadas em 20 anos no semestre

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília  

Publicado em: 03/06/2024 às 16:06 | Atualizado em: 03/06/2024 às 16:06

Entre janeiro e maio de 2024, foram registrados 10.647 focos de queimadas na Amazônia, aumento de 107% em comparação aos cinco primeiros meses de 2023.

No mesmo período do ano passado, os focos de incêndio chegaram a 5.103. Já este ano, o número é 131% superior à média dos três anos anteriores, com registros de 4.580 focos.

Roraima e Mato Grosso concentram as queimadas na Amazônia em 2024. Do total de queimadas registradas entre janeiro e maio, 43% ocorreram em Roraima (4.623 focos) e 36% no Mato Grosso (3.829 focos).

O Pará responde por 12% (1.269 focos). No mês de maio, na Amazônia, foram registrados 1.670 focos, sendo quase 78% no Mato Grosso (1.309). Os dados são do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

No entanto, o alerta que traz maiores preocupações vem do bioma Pantanal, pois, já acumula o maior número queimadas desde 2020

Nos cinco primeiros meses deste ano, registros aumentaram 898% em comparação ao mesmo período no ano passado.

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Estado de alerta

Com chuvas abaixo das médias históricas, desde o fim do ano passado, o Pantanal já teve 880 focos de queimadas em 2024 – um aumento de 898% em comparação ao mesmo período de 2023 (90 focos), ou de 253% em relação à média dos três anos anteriores (2021 a 2023) nesse período (255 focos em média).

“Os rios estão com baixos níveis em diversas partes do bioma e há previsão de que o Rio Paraguai se mantenha esse ano dentro dos níveis mais baixos da história”, afirma Cynthia Santos, analista de conservação do WWF-Brasil.

O Serviço Geológico Brasileiro reportou que o Rio Paraguai, o principal da região, apresenta os menores níveis históricos. Um exemplo é a estação de medição de Porto Murtinho (MS), que manteve uma altura sempre abaixo de 250 cm desde o início do ano, enquanto sua altura normal costuma ser em média entre 250 e 550 cm no período.

Registros históricos

O valor acumulado nos primeiros cinco meses deste ano é o segundo maior dos registros nos últimos 15 anos, ficando somente atrás de 2020, quando foram registrados 2.128 focos.

Nesse caso, o avanço das queimadas reforça os alertas feitos por especialistas de que a seca severa no bioma poderá aumentar o número de incêndios de grande escala, comparáveis aos que devastaram 30% de suas áreas naturais em 2020.

Apenas no mês de maio, foram registrados 246 focos de queimadas no bioma, contra 33 em maio de 2023. A temporada de seca, porém, ainda está em seu início.

Historicamente, os incêndios no Pantanal se concentram entre os meses de agosto e outubro, com um pico em setembro.

Em 2020, tivemos aquele fogo catastrófico e as análises atuais mostram que os números de 2024 estão muito parecidos com os que tínhamos naquele ano. É preciso atuar rapidamente reforçando as brigadas e contando com o apoio das comunidades locais para evitar uma catástrofe”, reforma Santos.

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Desmatamento cai 11% no país e Cerrado supera Amazônia

Cerrado

Por outro lado, no Cerrado, nos cinco primeiros meses do ano, foram registrados 8.012 focos, um aumento de 37% em comparação ao mesmo período em 2023 (5.850) e 35% superior à média dos três anos anteriores (5.956 focos).

Os biomas brasileiros estão conectados, por exemplo, pela água. E isso significa que são também interdependentes quando se trata das consequências da crise climática. Assim, a conversão e o desmatamento do Cerrado geram desequilíbrios para a Amazônia e o Pantanal, afeta a disponibilidade hídrica em outros ecossistemas, contribui para secas, aumento das queimadas, ondas de calor e até tempestades, como as que afetaram o Rio Grande do Sul, disse Daniel Silva, especialista em conservação do WWF-Brasil

Por isso, segundo Silva, não adianta conservar só um bioma. Precisa, portanto, haver políticas consistentes para diferentes áreas do país. E, no Brasil, barrar o desmatamento é o ponto mais importante para evitar efeitos ainda mais severos da crise climática.

Foto: Nilmar Lage/Greenpeace/Divulgação