O navio Benjamin, relíquia da navegação a vapor da economia da borracha amazônica (1885-1920), será recuperado e ficará à disposição de uso compatível com a sua importância na história do Pará, do Amazonas e do Acre.
A embarcação está na carreira de um estaleiro, no igarapé do Educandos, com acesso pela avenida Lourenço Braga, área conhecida como Manaus Moderna na zona sul.
O sonho do atual dono do Benjamin, empresário do turismo Dahílton Cabral, é que o poder público financie ou crie um museu da navegação fluvial na Amazônia.
Ele também é proprietário do legendário Justo Chermont, que teve como passageiro entre Belém e o seringal Paraíso, no alto rio Juruá, o escritor português Ferreira de Castro (1898-1974), autor do romance “A selva”, que denunciou ao mundo o trabalho desumano nos seringais.
O Benjamim, com o nome Baturité, começou a navegar em 1912 na linha Belém-Manaus e seringais do rio Branco, hoje no território do estado do Acre.
Ele iniciava viagem em Belém, lotado de mercadorias para abastecer os seringais, e retornava ao mesmo porto carregado de borracha para ser embarcada para países da Europa.
Benjamin fez a sua última viagem em 1995, para o alto rio Negro, mas ainda está em condição de ser recuperado, segundo avalia Cabral.
“Esses navios têm importância histórica que precisa ser reconhecida pela sociedade por meio do poder público ou da iniciativa privada. Eu luto e invisto para que isso aconteça”, disse Cabral, que se revela um apaixonado pela história dos vapores na Amazônia.
O empresário informou que o Benjamin, comprado do armador João Pacheco (falecido), está com a documentação de posse em dia e pronto para ser colocado em uso.
Proa do Benjamin está colada a muro de restaurante na Manaus Moderna
Museu da memória da Amazônia
O professor Eduardo Barreda Del Campo, coordenador do curso de Indústria Naval da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), estimula a ideia do empresário Dahilton Cabral pela criação de um museu para embarcações históricas da Amazônia.
Além do valor de memória, elas podem ajudar na elaboração de novos conhecimentos para o transporte fluvial amazônico.
Del Campo não soube informar se a UEA, por intermédio de algum professor, fez algum estudo com o Benjamin.
“Os professores estão de férias e não tenho como confirmar ou negar isso agora”.
Além das pichações, partes do ferro do navio são furtadas
Pichadores e ladrões
Moradores das proximidades do estaleiro disseram ao BNC Amazonas que o navio sofre ataques de ladrões de metais, pichadores e grafiteiros.
“O pessoal [ladrões] leva peças e até pedaços de chapas do navio para vender em ferro velho”, disse um morador da área que pediu para não ter nome publicado, para evitar represália dos ladrões.
Os grafites e pichações, por sua vez, ocupam as partes externas e os ambientes internos com visibilidade para a avenida Lourenço Braga.
A inscrição “Arte não é crime” sinaliza que esses artistas de rua tiveram problemas com a polícia por conta do uso dos espaços do navio como outdoor para se manifestar.
Cabral disse que não tem conhecimento de roubos de peças ou objetos do navio. “Tenho um funcionário que toma conta do navio e ele está área do estaleiro de um grande amigo”.
A água do rio Negro já estava chegando à popa do Benjamin, mas vazante começou
Curiosidade do Benjamin
“As pessoas que vêm ao restaurante sempre reservam um tempinho para observar o navio e tirar fotos”, destacou o funcionário do restaurante Da Terra [ele pediu para não ter o nome publicado].
O navio está com a proa colada ao muro de arrimo do estacionamento do restaurante. Nesta cheia do rio Negro, a popa da embarcação já está na água.
“Há quem pare aqui somente para olhar de perto o navio”, disse.
E, logo, lamentam que o navio esteja “abandonado”. O funcionário do restaurante revelou que também tinha a mesma impressão de que o navio estava imprestável até testemunhar a polícia no local para protegê-lo dos ladrões de metais.
Ficha técnica do Benjamin
• Construção: 1900 • Lançamento 1905 • Operação na Amazônia: 1912 • Construtor: estaleiro M&M (EUA) • Comprimento: 55 m • Largura: 7 m • Calado: 3 m • Primeiro proprietário: Nicolaus & Cia.
Fotos: Wilson Nogueira/especial para o BNC Amazonas