Terrorismo ambiental contra a BR-319
O artigo critica ambientalistas que manipulam o debate e desviam o foco do verdadeiro inimigo: o capital.

Publicado em: 22/10/2024 Ă s 16:44 | Atualizado em: 22/10/2024 Ă s 16:46
Por LĂºcio Carril*
NĂ£o, nĂ£o Ă© mais a ministra Marina Silva com seus frĂ¡geis argumentos contra a pavimentaĂ§Ă£o da BR-319.
Ela atĂ© jĂ¡ pondera sobre a possibilidade de recuperaĂ§Ă£o da estrada, desde que todos os cuidados ambientais sejam tomados.
SĂ³ esqueceu de dizer que esses cuidados sĂ£o de responsabilidade do ministĂ©rio do qual ela Ă© titular, compartilhados com estado e municĂpios.
Quem continua na sua jornada quixotesca contra a rodovia Ă© um Cavaleiro de Triste Figura, travestido nos dias de hoje em pesquisador ou ambientalista, que faz da estrada um moinho de vento.
Cervantes ficaria triste com essa transgressĂ£o do seu personagem central.
A Ăºltima entrevista desse cavaleiro Ă© digna de assombro.
Diz ele que a pavimentaĂ§Ă£o da BR-319 serĂ¡ “um colapso civilizacional” na AmazĂ´nia e no Brasil, pois afetarĂ¡ o regime de chuvas no paĂs, levando a AmazĂ´nia Ă morte e ao fim dos rios aĂ©reos que abastecem as regiões Sul e Sudeste.
É muita tragédia para 400 quilômetros de asfalto.
Pela sua tese, os outros 400 quilĂ´metros jĂ¡ asfaltados deveriam ter destruĂdo metade do bioma amazĂ´nico e encerrado metade dos rios aĂ©reos que chegam atĂ© outras regiões.
Assim como D. Quixote, viu monstros onde sĂ³ existiam moinhos.
Na verdade, nĂ£o se trata de uma fantasia quixotesca. HĂ¡ por trĂ¡s desse terror uma clara intenĂ§Ă£o de tirar o principal foco daquilo que realmente destrĂ³i a natureza aqui na AmazĂ´nia, no Pantanal, na Mata AtlĂ¢ntica, no Cerrado, em todo Brasil e no mundo: o capital.
Por que serĂ¡ entĂ£o que o dito pesquisador nĂ£o quer combater a força motriz da destruiĂ§Ă£o ambiental?
Por uma questĂ£o simples e oculta: as grandes corporações capitalistas mantĂªm grandes institutos que financiam pesquisas sobre o pum do carapanĂ£ e seus efeitos na atmosfera.
Com isso, tiram de foco suas ações deletérias ao meio ambiente.
JĂ¡ que maldade nĂ£o tem limite e fantasiar nĂ£o Ă© crime, o cavaleiro montado agora no seu cavalo amarelo, como na visĂ£o profĂ©tica do apĂ³stolo JoĂ£o, diz que Manaus deixarĂ¡ de ser ocupada em meio sĂ©culo e que milhões de amazonenses morrerĂ£o com uma sensaĂ§Ă£o tĂ©rmica de 71 graus Celsius.
Tudo isso se for concluĂda a pavimentaĂ§Ă£o da BR-319.
O pior de tudo Ă© que tem gente e veĂculos de comunicaĂ§Ă£o que publicam esses desvarios.
NinguĂ©m ignora os efeitos danosos das mudanças climĂ¡ticas ou desconhece o que estamos enfrentando no Amazonas e na AmazĂ´nia, mas daĂ criar uma profecia apocalĂptica e dizer que Ă© ciĂªncia nĂ£o pode ganhar credibilidade.
Isso Ă© manipulaĂ§Ă£o do conhecimento para chegar a um fim almejado e no caso, o fim nĂ£o Ă© a preservaĂ§Ă£o da natureza.
Para encerrar a viagem pelo mundo da fantasia desse senhor, que anda dando carteirada em desembargador federal, ele sai da literatura quixotesca e das escrituras bĂblicas para adentrar o mundo da mitologia grega, ao dizer que a BR-319 Ă© a Caixa de Pandora da AmazĂ´nia, do Brasil e do mundo.
Sua pavimentaĂ§Ă£o espalharĂ¡ o mal e o infortĂºnio por toda parte, inclusive com sucessivas pandemias.
Seria cĂ´mico se nĂ£o fosse cĂnico.
HĂ¡ uma total manipulaĂ§Ă£o ideolĂ³gica do conhecimento cientĂfico para atender interesses escusos.
NĂ£o apontar o verdadeiro problema da humanidade para garantir apoio financeiro e atenĂ§Ă£o dos grupos econĂ´micos que destruĂram e destroem o meio ambiente Ă© de um cinismo cheio de precedentes.
As instituições de pesquisas estĂ£o cheias desses interesses, apesar de abrigar cientistas e pesquisadores sĂ©rios e comprometidos com a preservaĂ§Ă£o do planeta e com as vidas que o habitam, inclusive as humanas.
Ă€ minha gente manauara, nem Moinhos de Ventos e nem Caixa de Pandora, queremos apenas cidadania e nosso direito de escolher por onde andar.
*O autor Ă© sociĂ³logo.
Foto: divulgaĂ§Ă£o/Dnit