Um artigo publicado na revista científica Nature, uma das mais respeitadas em todo o mundo, por Lucas Ferrante e Guilherme Becker, pesquisador e microbiologista da Penn State University (EUA), aponta uma “urgência científica” de deter a construção de novas estradas que “vêm alimentando o desmatamento” na Amazônia, com destaque para a rodovia BR-319, bem como os projetos de exploração de combustíveis fósseis na região.
Segundo os autores, embora o discurso do presidente Lula na COP28 tenha gerado esperanças na comunidade internacional, suas ações subsequentes revelam uma flagrante “hipocrisia ambiental”. A pavimentação da BR-319 e a exploração de petróleo na Amazônia representam um ataque à floresta tropical e ao planeta como um todo.
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Desmatamento e mudanças climáticas
Para eles, remetendo à ciência, a pavimentação da BR-319 intensificará o desmatamento, impulsionando as mudanças climáticas. A revista Science a classificou como um dos principais catalisadores da devastação na Amazônia. A floresta, crucial para a regulação do clima global, está em um ponto crítico de irreversibilidade. O aumento do desmatamento a empurrará para um colapso irreversível, com consequências devastadoras para o planeta.
Riscos à saúde
Eles apontam que a BR-319 não é apenas uma ameaça ambiental, mas também à saúde pública. A floresta abriga “patógenos letais” que, ao serem liberados pela devastação, podem se espalhar facilmente em um contexto de mudanças climáticas. Isso aumenta o risco de epidemias e pandemias, potentially even more severe than COVID-19.
Fundo Amazônico
A destinação de recursos do Fundo Amazônico para a BR-319 é um desvio de finalidade e uma traição aos doadores que acreditam na proteção da floresta. O governo brasileiro está usando recursos destinados à preservação para financiar sua destruição.
Hipocrisia e irresponsabilidade
As ações no governo Bolsonaro demonstram uma total falta de compromisso com o meio ambiente e com as metas climáticas internacionais. O Brasil, ao invés de assumir seu papel de liderança na proteção da Amazônia, está se tornando um pária ambiental.
Reverter as decisões
É urgente que o governo brasileiro reverta suas decisões e priorize a preservação da Amazônia. A comunidade internacional deve pressionar o Brasil a abandonar a BR-319 e os projetos de exploração de petróleo na floresta. Proteger o meio ambiente não é uma opção, mas uma necessidade vital para o futuro do planeta.
O artigo conclui que o governo brasileiro precisa ser responsabilizado por suas ações e o projeto da BR-319 precisa ser barrado. A comunidade internacional deve se unir para proteger a Amazônia e exigir do Brasil um compromisso real com a preservação do meio ambiente.
Artigo
De acordo com Guilherme Becker, a rodovia BR-319 não só pode facilitar a transmissão de vírus, bactérias, príons e fungos da floresta para os humanos, criando potencialmente novas epidemias e pandemias, mas também pode contribuir para a disseminação de patógenos já existentes entre a vida selvagem na Amazônia.
A abertura de estradas na região serve, por exemplo, como meio de propagação do Batrachochytrium dendrobatidis, um patógeno letal para anfíbios, classificado como o mais devastador entre vertebrados, mostra um estudo liderado por Becker e publicado na revista especializada Ecography.
Outra pesquisa, conduzida no Centro de Microbioma One Health da Penn State University e publicada recentemente na revista Ecology Letters, demonstrou que o aumento das secas afeta diretamente a microbiota da pele dos sapos, tornando-os mais suscetíveis aos efeitos nocivos do Batrachochytrium dendrobatidis.
Considerando as mudanças climáticas na Amazônia, incluindo a grave seca de 2023 e as projeções futuras, a pavimentação da BR-319 poderia desencadear uma perda sem precedentes de biodiversidade, especialmente afetando os anfíbios, que desempenham um papel crucial no controle de pragas agrícolas e de vetores de transmissão de doenças para os humanos
Becker ressalta que abrir essa área da floresta poderia resultar em saltos zoonóticos com consequências potencialmente catastróficas, cujas dimensões ainda são difíceis de prever.
O jornal Regional Environmental Change, em 2021, ressaltou a falta de capacidade do Amazonas e do Brasil em lidar com uma pandemia decorrente da degradação ambiental, enfatizando a necessidade de os políticos e o judiciário considerarem as recomendações científicas.
Existe um consenso nas pesquisas científicas de que a pavimentação da rodovia BR-319 será inviável e terá impactos abrangentes na Amazônia, com repercussões globais, e a responsabilidade recairá sobre o presidente Lula e seu governo se derem continuidade a estes planos.
Apesar da queda do desmatamento na Amazônia decorrente do aumento das fiscalizações realizadas pelo governo Lula, essas ações por si só não são suficientes para proteger o bioma, como apontou uma publicação no periódico Nature Human Behaviour. O parecer destaca que o governo também deve rever grandes empreendimentos com potencial de levar a Amazônia ao colapso, ressaltando que gestões anteriores do PT (Partido dos Trabalhadores) ignoraram as recomendações de cientistas, como foi o caso da hidrelétrica de Belo Monte.
Embora a BR-319 não tenha entrado como uma prioridade nas obras do PAC, conforme noticiado no início de fevereiro, o empreendimento segue entre os projetos estratégicos do Plano Regional de Desenvolvimento da Amazônia (PRDA) para o período de 2024 a 2027.
É imperativo que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pressione o Ibama para suspender imediatamente todas as licenças de manutenção e pavimentação da BR-319, enquanto o judiciário e o governo brasileiro devem intervir para evitar essa catástrofe, assim como a exploração de petróleo na bacia Amazônica
Suspender o projeto da BR-319 será um marco no compromisso ambiental do Brasil com as metas climáticas globais, a preservação do meio ambiente e a saúde pública mundial. Caso o projeto siga em frente, os nomes dos responsáveis por permitir os desdobramentos dos impactos da pavimentação da BR-319 e a exploração de petróleo na bacia Amazônica devem ser lembrados na história como aqueles que estavam cientes das consequências, mas optaram por permitir o início da próxima pandemia global.
A decisão de pavimentar essa estrada rumo ao desastre ou garantir o bem-estar global está nas mãos do presidente Lula, da ministra do Meio Ambiente Marina Silva e do judiciário brasileiro. Como afirmou a revista Nature em 30 de janeiro de 2024, a proteção do meio ambiente é uma decisão embasada na ciência e não deve ser objeto de negociação.
*Lucas Ferrante é formado em ciências biológicas pela Unifal (Universidade Federal de Alfenas), mestre e doutor em biologia (ecologia) pelo Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), onde em sua tese avaliou as mudanças contemporâneas da Amazônia, dinâmicas epidemiológicas, impactos sobre os povos indígenas e mudanças climáticas e seus efeitos sobre a biodiversidade e pessoas.
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