Um arbusto conhecido como cafezinho (policourea marcgravii) é principal ameaça de morte súbita aos rebanhos de gado do Amazonas, onde se prolifera na terra firme e nas áreas alagadiças.
O cafezinho, que lembra um pé de café, é de média letalidade e de difícil erradicação. Seu princípio tóxico é o ácido de monofluoracético .
E mais: geralmente não há como evitar as mortes depois da ingestão das folhas e taloscausa intoxicação é quase imediata.
É determinante para o grau de letalidade, a quantidade da ingestão, da saúde, do nível de estresse do gado e outros fatores, como atendimento com antitóxicos.
Por isso, as mortes de gado por ingestão de plantas e ervas venenosas chegam a ser comuns, como explica o presidente da Associação dos Pecuaristas de Parintins, Telo Pinto.
O pecuarista disse que existem outras plantas que causam morte súbita, como a chibata, mais comum na várzea, mas o cafezinho é a mais letal entre elas.
Telo afirma que a recomendação aos pecuaristas é que façam “uma varredura” no campo antes que seja ocupado pelo gado.
O procedimento rigoroso se repete anualmente, porque o gado, no Médio Amazonas, é criado na terra firme, no inverno, e nas terras alagadas, no verão.
O vaqueiro deve ser, também, um especialista em identificar as plantas, ervas e insetos que ameassem os animais e a pastagem.
Quando uma res come cafezinho em quantidade elevada, ela fica tonta e pode cair morta. Nesse estado, a toxidade da planta já atrapalhou processo de regurgitação do animal.
Não é comum, segundo ele, a elaboração de estatística sobre essas mortes, principalmente porque elas são pontuais e não representam prejuízo econômico coletivo.
Assim, o vaqueiro deve estar atendo na hora de tocar o gado para o curral e no translado de um ambiente para outro, quando os animais passam por estresse e ficam vulneráveisao veneno do cafezinho.
“Ao percebermos que o gado comeu cafezinho, a recomendação é que fique em repouso absoluto, para que seja evitada a maior mortandade”, recomenda Telo.
Em 2013, o pecuarista Homero Hishasi Hidaka perdeu ao menos quarenta reses em razão da ingestão das folhas desse arbusto.
O acidente ocorreu em terra firme do Paraná do Ramos, em Barreirinha (AM).
“Foi tudo muito rápido. Lembro que mais de trinta caíram no campo e outras oito foram encontradas na capoeira, próximas aos pés de cafezinho com sinais de consumo”, lembra o pecuarista.
Hidaka disse que a partir dessa ocorrência redobrou a atenção com o manejo dos campos para o gado.
Uma das providências foi cercar as áreas de pastagem para evitar que o gado avance para a mata de capoeira, e vigiar, permanentemente, o surgimento dos pés de cafezinho.
Depois do incidente, ele passou a arrancar, pela raiz, os pés do cafezinho e das ervas tóxicas antes da chegada do gado.
Assim, o pecuarista afirma que tem evitado a perda de grande quantidade de gado por morte súbita, para que não se repita ocorrência da magnitude de 2013.
Por seu lado, o pecuarista Waldenor Cardoso Buretama explica que no Amazonas não há registro sistemático de mortes de gado pela ingestão de plantas tóxicas.
Por isso, ele entende que as mortes causadas por ingestão desse arbusto não têm importância econômica para a pecuária.
Buretama revelou que perdeu quatro vacas leiteiras, há cinco anos, por intoxicação provocada pela ingestão de cafezinho.
“As ervas foram encontradas após a cerca de arame que separava o pasto da capoeira. Deduzimos que elas comeram folhas do cafezinho encontradas por nós no sítio”, explicou.
Esse caso de morte súbita ocorreu em um sítio de terra firme, no Km 59, na estrada AM-254, trecho BR- 329, em Autazes (AM).
Já na fazenda de Boa Vista do Ramos (AM), no Paraná do Ramos, com rebanho bem maior, “nunca ocorreu perdas por essa motivação”, informou o pecuarista.
Para Buretama, o gado se torna mais vulnerável à morte súbita por intoxicação, porque os antídotos (os antitóxicos) nem sempre estão disponíveis nas fazendas, enquanto o efeito do cafezinho é rápido e letal.
Foto: divulgação